Arthur Schopenhauer

   Devemos aprender a considerar as forças intelectuais como funções absolutamente fisiológicas, a fim de saber dirigi-las adequadamente, economizá-las ou empregá-las, e lembrar que todo sofrimento, todo incômodo, toda desordem em qualquer parte do corpo afeta o espírito. Para nos convencermos dessa verdade, devemos ler Cabanis em Des rapports du physique et du moral de l’homme. Por haverem negligenciado esse conselho, muitos espíritos nobres e muitos grandes sábios padeceram de demência em sua velhice, voltando a uma nova infância e chegando até à loucura. Por exemplo, os célebres poetas ingleses de nosso século, como Walter Scott, Wordsworth, Southey e muitos outros, se tornaram intelectualmente obtusos e incapacitados na sua velhice e ainda desde os sessenta anos; e o motivo dessa imbecilidade encontra-se no fato de que, seduzidos por honorários elevados, exerceram a literatura como um ofício, escrevendo por dinheiro. Isso os levou a esforços inaturais; todo aquele que coloca seu Pégaso no cabresto e apressa sua musa com o açoite terá de pagar por isso da mesma maneira que aquele que rendeu a Vênus um culto forçado. Suspeito que o próprio Kant tenha se entregado a um trabalho excessivo em seus últimos anos, quando já havia se tornado célebre, e com isso provocou uma segunda infância em que viveu seus quatro últimos anos. Por outro lado, os cavalheiros da Corte de Weimar, Goethe, Wieland, Knebel, mantiveram suas forças e atividades até uma idade muito avançada porque não escreviam por dinheiro. Ocorreu precisamente o mesmo com Voltaire.

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