A cortesia é um acordo tácito para que ignoremos e nos guardemos de apontar uns nos outros as pequenas misérias morais e intelectuais. Desse modo, não se revelam com tanta facilidade, em benefício de ambas as partes. Cortesia é prudência, descortesia é, pois, tolice. Criar inimigos por grosseria, sem necessidade e com grande satisfação de ânimo é insanidade, como atear fogo à própria casa. Porque a cortesia é sabidamente uma moeda falsa, como fichas de jogo; economizá-la revela falta de inteligência, enquanto que gastá-las com generosidade revela prudência. Todas as nações terminam suas cartas com votre très-humble serviteur, your most obedient servant, suo devotissimo servo. Somente os alemães suprimem o “servo”, porque dizem que não é certo! Pelo contrário, aquele que leva a cortesia até o ponto de sacrificar interesses reais é como um homem que dá moedas de ouro em vez de fichas. A cera, dura e quebradiça por natureza, torna-se tão maleável com um pouco de calor que toma a forma que quisermos dar-lhe. Do mesmo modo, podemos, com um pouco de cortesia e de amabilidade, tornar dóceis e complacentes até homens hostis e rudes. Assim, a cortesia é para o homem aquilo que o calor é para a cera. A cortesia é verdadeiramente uma árdua tarefa, visto que nos força a demonstrar um grande respeito para todos, sendo que a maioria não merece nenhum. Ademais, exige que finjamos o mais vivo interesse quando deveríamos nos alegrar de não ter nenhum. Combinar a cortesia e a altivez é um golpe de mestre.
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