Goethe

   São esses os mais felizes; como as crianças, só vivem para o presente, passeando, vestindo e despindo cem vezes as suas bonecas; espreitando, com cobiça e respeito simultaneamente, a gaveta onde a mamã tem os bolos guardados; e quando, enfim, conseguem o que desejam, gritam com a boca cheia: «Mais!» Sim, são essas as mais felizes criaturas. Felizes também aqueles que, dando às suas ocupações fúteis, ou mesmo às suas loucuras, nomes pomposos, as querem fazer passar como proezas de gigante, realizadas em proveito, honra e glória da humanidade. Ditosos os que assim podem pensar! Mas quem os aprecia pelo que eles valem e vê aonde isso conduz; quem vê com que júbilo o modesto burguês faz do seu pequeno jardim um paraíso e com que humilde resignação o desprotegido da sorte, vergando ao peso da miséria, se arrasta pelo caminho espinhoso da vida! Quem vê que em todos é igual o desejo de contemplar um minuto mais a luz do céu, esse sim, observador calmo e livre de cuidados, arquiteta o seu mundo e é feliz, porque pensa e é homem. Por pouco inteligente que seja, basta-lhe ter no coração o sentimento consolador da sua liberdade e saber que pode sair desta prisão logo que queira.

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