Nós Somos rodeados de forças. Entre elas, muitas são más e não devemos deixá-las dominar-nos. Para resistir, utilmente, devemos fazer um apelo às forças superiores, construtivas, que não se recusam auxiliar. Quando as tivermos conhecido e invocado, nos será possível sair do tormento, procurar e, portanto, achar a paz do coração, o desvanecimento do espírito, o ritmo da evolução.
Tu que vens a estes estudos já não estás tão isolado. Junta o teu esforço aos dos outros; tu os ajudarás, serás ajudado e o teu coração morto florescerá. Conta com segurança com este auxílio, que te é prometido; mas, primeiramente, esforça-te. É a ti que pertence dirigir a tua evolução. O primeiro ponto a cumprir é conhecer-te. Não é sem causa que os antigos tinham feito deste conhecimento o primeiro estágio da sua iniciação. Sabes quais são as tuas qualidades e os teus defeitos. Deves desenvolver umas e eliminar outros. Purificar-se é a primeira parte de todas as iniciações tal como se tem praticado em todos os templos e em todos os agrupamentos de filósofos. Em primeiro lugar deves depurar teu corpo, dar-lhe por uma higiene raciona> forças e um poder talvez perdidos pela doença e por insuficiência de alimentação, pela falta de ar e de exercícios igualmente prejudiciais. Tu deves adotar uma regra na tua vida mais sã, baseada sobre os princípios que dirigem toda a tua conduta. Teu corpo deve obedecer a teu espírito, e se não está em estado de seguir o movimento de teu pensamento de que lhe servirá este pobre servidor? Se seguires as regras que te aconselhei, adaptarás a tua economia material, todos estes órgãos que te são submetidos, ao ritmos que são o eco dos ritmos superiores. Já, por esta cultura, aderirás ao plano divino. Tomando este cuidado, precisarás fazer a educação de teu espírito. Esforçar-te-ás para ter deste espírito uma direção mais segura, uma vontade calma e operadora. Deves desenvolver em ti as faculdades e não partir desta idéia de que não poderás adquiri-las. Desenvolve também o teu discernimento, porque, sem ele, a vontade é uma barca sem piloto entre os escolhos da vida. Assim, obterás o império sobre ti mesmo, que te fará senhor do teu inconsciente. Não sofrerás mais o seu impulso, porém, não cedendo senão ao teu espírito, serás tu mesmo em verdade. Cultiva também o silêncio em que te serão revelados os poderes ocultos. Obtém a calma para os teus sentimentos, a fim de que desenvolvam harmoniosamente. Cala-te e reflete na manifestação das opiniões adversas. Enfim, será a tua força dizer a palavra conciliadora que religa toda as opiniões. Tu não podes, por ti mesmo, possuir toda a verdade. Por que impões o teu pensamento aos outros? Sê calmo e o teu exemplo pregará melhor ainda do que as palavras. É o primeiro passo a fazeres para a obtenção dos altos poderes, a conquista das forças em ti e ao redor de ti. E, em seguida, farás a educação de teu coração. É um cuidado que muitos negligenciam; eles têm sofrido pelo sentimento, crêem não poderem fazer nada de melhor do que negar o coração. Mas, estes males provêm de uma impulsividade muitas vezes atendida. Deveras primeiramente refrear está impulsividade, estas perturbações. Atraído pelas qualidades exteriores, estás talvez muito triste por amar pessoas que não respondem ao teu ideal elevado; pedes-lhes sentimentos que florescem em teu próprio coração e, como elas são diferentes de ti, a ternura delas é desviada ou se manifesta de outro modo não desejado por ti, sofrerás profundamente. Muitas vezes a falta está em julgar os outros de acordo consigo mesmo. É um escolho a evitar. As dores passadas têm isso de bom: elas te servirão de guia para os acontecimentos futuros. Seu papel é nos tornar clarividentes ao encontro do que mais nos seduz, nos ensinar a paciência para atingir o desabrochar dos sentimentos dos outros. Refrear, porém, o coração não é suprimi-lo; pelo contrário, quando o caminho parecer seguro, tu poderás, em belo surto, procurar a ternura e a glória de uma afeição partilhada. E, quanto esta alegria, apurada pela pesquisa de um ideal comum, será mais alta e mais pura! Isto não será uma vitória ou um prazer passageiro como o objeto de tua pesquisa, mas uma comunhão de idéias que te conduzirá a querer o bem do ser amado antes do teu próprio. O teu coração alargar-se-á, e, à margem das ternuras costumeiras, aprenderás a amar a Natureza, a obter de seu seio amigo as lições da calma, de expansão de uma vida nova, de bondade, de doçura, de fraternidade universal. Gozarás a expansão de uma vida nova, a alegria superior de compreender o que começaste a amar cegamente. A própria Natureza oferecerá o ensinamento dos altos poderes. Que poderás tu desejar a seu respeito? Estes Poderes que pertencem ao iniciado, obtê-lo-ás se fores digno; e se o fores, em lugar de quereres ter o domínio sobre outrem, não pedirás senão a possibilidade de socorrer aqueles que sofrem, de auxiliar aqui que procuram o seu caminho para irradiar sobre o universo to as forças benéficas, como faz o sol de estio. É que o Verbo humano, imagem de forças mais altas, tem poderes ilimitados, ao uso do qual ele soube se tornar mestre. Tu os experimentarás e poderás conhecer este poder mágico de que todo ser humano é dotado, quando a iniciação o tiver revelado e quando tiveres sabido conquistar o teu próprio império. Estas forças não devem servir senão para fins altruísticos. A realidade dos fatos nota-se sempre quando a ação se torna egoísta. Péladan disse: Aquele que crê pedir ao Hermetismo o poder de seduzir, de vencer os seus inimigos, de suplantar os seus rivais, será vencido, perecerá. É a transposição mágica destas palavras de Cristo: Aquele que fere com a espada, com a espada será ferido. Em torno de ti irradiam forças e vibrações que são tais como as produzes, como tu podes criar e dirigir a teu gosto. Esta atmosfera psíquica influencia aqueles que te rodeiam e pode operar a distância. Quando penetrares neste arcano, que se não confia a esmo, tu conhecerás o segredo do Poder da atração e tu serás servido por forças misteriosas. A medida que o Templo da Iniciação se abrir para a tua alma, ainda mais poderes surgirão em ti, a tua vista ainda mais se abrirá sobre Mundos que tu não conheces, mundos que tu não suspeitas. Teu horizonte é limitado e tu sofres, mas cada passo dado sobre o caminho te animará diante de horizontes infinitos, banhados de santa luz. Mesmo a custo verás quanto este ser humano que te aparece como o centro de tudo é pouca coisa no conjunto dos mundos. Então, convencer-te-ás de qual o teu verdadeiro lugar no Universo e que não tens valor senão de seres uma célula consciente nas lutas sem fim na vida. Por que terás orgulho? Quem és tu neste cosmo imenso? Considera a tua pequenez e mede-te com o infinito. Perderás todo este orgulho mesquinho, estas vaidades insuportáveis, que ontem te pareciam importantes; desde hoje te convencerás de um fim mais alto e mais nobre.Mas, se esta contemplação é mortal à tua vaidade, quanto a tua vaidade perderá em força!
Pequena célula consciente, convencer-te-ás desta idéia sublime de que tu és submetido ao Ritmo, ou melhor, aos Ritmos, e que eles são os mesmos do átomo até ao astro. E, como tudo o que te rodeia, serás submetido aos Ciclos imutáveis sob o seu aspecto mutável!
Vê o Ciclo das estações: eis as horas de inverno; tudo nos parece morto sobre a Terra, e não há mesmo mais razão de esperar; as flores e as folhas estão mortas. Depois, passa um pouco de tempo; a alma desperta de um pesado sono e, na Natureza, os tenros rebentos de Março saltam dos nós do bosque morto. É a primavera, é a esperança, é a promessa de vida nova, é a certeza das colheitas próximas.
E, cedo, eis aí o sol brilhante que faz amadurecer as colheitas douradas; todas as flores estão abertas; os frutos estão prestes a amadurecer.
Os longos dias ardentes passam e o outono, rico dos frutos que a primavera nos prometia, leva-nos a realizações esperadas.
A mocidade e as flores passaram e resta apenas a disposição de se preparar para o inverno.
Mas, este inverno da velhice e da morte corporal, é também para ti a estação de repouso e da recompensa, porque tu poderás fazer ricas provisões de felicidade e de bem para a tua evolução.
E esta evolução ainda continuará os Ciclos começados, sempre unidos às tuas aquisições, aumentando o resultado de teus corajosos esforços.
A medida que tu fizeres esta maravilhosa ascensão, tu te envolverás mais intimamente com os Ritmos superiores, tu te compreenderás melhor, e melhor expandirás o teu coração, esclarecendo a tua inteligência. Sentir-te-ás em fraternidade com todas as criaturas, com o astro que segue o seu curso rítmico no céu; e as harmonias grandiosas da Criação serão para ti um contínuo enervamento. Estes mundos te dirão qual a força misteriosa que dirige neste vasto éter e o teu desejo será apenas de estares de acordo com as harmonias divinas.
A estas forças, enfim conhecidas, farás um apelo. Elas te responderão. Tu te sentirás, sem cessar, inundado de seu poder.
Dar-te-ão elas um poder, um apoio do qual tu não tens a idéia, e este apoio te dará uma felicidade sem sombra, a alegria do dever consentido com o coração consciente e livre. E, pelo imenso éter e por todas as criaturas, sentirás a presença de Deus, que criou todas estas coisas e lhe deu estas leis, cuja beleza perfeita nos deslumbra.
Voltando ao mundo conhecido, conceberás por toda parte u'a mesma vida, um igual equilíbrio, matizado segundo diversos modos, mas sempre semelhante e dirigido por uma eterna justiça. Compreenderás que a tua existência atual, com os seus dolorosos sofrimentos e os seus prazeres, é a conseqüência legítima das tuas existências passadas. Tu te submeterás sem murmúrio. Aceitarás as condições más como dívidas a pagar, e as experiências que terás de sofrer serão preciosas porque elas mais depressa te libertarão do pesado fardo da vida. Que alegria nos sentirmos cada dia mais livres, mesmo para com uma crença benevolente! Este pagamento é a condição de tua vida, de toda a vida. Mas, a Iniciação te permitirá adquirir mais depressa o próprio domínio, mostrar como deves dar um passo mais ligeiro para estas magnificências, que parecem te chamar e que te chamam com efeito.
Cada passo que deres conduzir-te-á para o mundo encantado da perfeição. Sairás da tormenta ou serás tragado por ela. Dissiparás as forças más que pesam sobre ti. Quando conheceres as causas de tudo isso que te acontece, não poderás mais conhecer o desespero, pois que tudo é justo e útil. Pássaras do pessimismo ao otimismo e a face do mundo será mudada para ti.
A alegria, que eu te prometo com certeza, virá mais depressa ainda do que pensas se fizeres para ela um esforço contínuo e se uma Fé viva te sustentar sobre o caminho. A Fé e a Felicidade estão no conhecimento da vida, de seu fim, de seus verdadeiros interesses. Adquirido este conhecimento, chegarás necessariamente a uma outra concepção, amarás as tuas dores passadas.
A meditação e a reflexão, que te parecem muito austeras, serão duas amigas, duas irmãs cheias de ternura que te esclarecerão o caminho.
Trabalha, medita, persevera, adepto futuro, que já te sentes chamado para a Iniciação. É por este meio que te será confiado o Grande Segredo. É incomunicável, dizem os adeptos; e eles têm razão. Primeiramente, esta asserção afasta do caminho os curiosos vãos que não procuram no trabalho senão um divertimento mais sábio do que os prazeres mundanos. Mas, eles têm razão ainda porque seria absurdo imaginar a Iniciação como uma lição a aprender, depois da qual se possuiriam poderes inauditos e forças miraculosas.
É preciso fazer, analisar, adquirir por si mesmo os conhecimentos necessários, desenvolver a acuidade dos sentidos à nossa percepção habitual.
O trabalho pessoal é inevitável; é um longo estudo, que parece árido para alguns, mas que se torna fácil para outros que se entregam a ele com fé; é a própria fé que te ajudará.
Para descobrir o Grande Segredo, estuda-te; desenvolve paralelamente o teu espírito e o teu coração. Estas forças que queres possuir para teu bem e o de teus irmãos, estas forças estão em ti e em redor de ti; aprende a procurá-las e a descobri-las. A Natureza está diante de ti como um imenso livro aberto, cujos ritmos sonoros e doces te darão a lei dos outros ritmos pelos quais palpita e se move a vida. Estuda e percebe estes ritmos. . Eleva-te para Aquele que os tem fixado com um gesto de sua mão e um sopro de seus lábios.
Procura, e tudo te mostrará Deus, como as mil peças de espelho quebrado te mostram o mesmo sol. E quando tiveres sentido esta unidade do Universo é que virás a ser um Iniciado e que a vida, para ti, terá um sentido novo e inesperado.
Verás que todos os seres são ligados e que seu esforço deverá ser comum. Teu dever é, pois, o de te devotares, ajudares aos outros a encontrar a praia calma que os salvará da tempestade; teu dever é amar os teus irmãos. Já o teu coração sentiu o teu apelo poderoso de altruísmo. Tu não esperas senão conhecer-te melhor, para dares o melhor a ti mesmo, tuas forças, teus sentimentos, teus pensamentos. É assim que tu viverás na alegria.
O fim que procuras é grandioso; é aquele que tem sido visado por todos os Iniciados; para atingi-lo, desenvolve a tua vida interior, tão rica em ensinamentos pessoais. Encerra-te na tua vida, na tua torre de marfim, no teu asilo interior que não deixa dispersar na vaga turbilhonante do mundo os tesouros de teu coração e de teu pensamento. A medida que subires os degraus desta torre, sentiras primeiramente a imensa alegria do esforço: depois, gozarás, durante longas horas, esta alegria do bem pressentido que se goza de fazer esta felicidade pelos segredos descobertos no livro aberto da Natureza, esta quietude imensa, longe das agitações mundanas e que nos permitem sentir todas as pulsações do nosso coração, todos os movimentos da Natureza, todos os ritmos e as imagens que fazem do Universo um poema imenso e que nos encanta pela sua beleza. É a alta morada da meditação, e esta meditação profunda entrega-nos, sem cessar, às vistas maravilhosas, aos segredos que não imaginamos.
Mas é preciso que tornes a descer imediatamente, não te deixando embeber pelo doce ópio de um misticismo que te faria abandonar a terra e faltar ao teu dever. É preciso equilibrar a Fé pela Ciência e o Sentimento pelo Trabalho.
Todos os nossos deveres estão sobre a Terra; ainda não chegou a hora da nossa libertação.
Devemos compreendê-la sem murmúrio e com alegria evoluiremos.
Certamente, subindo os degraus da tua torre de marfim, abandonarás, como um fardo muito pesado, as perturbações, as agitações, os egoísmos que te prendem sobre a terra. Mas, uma vez desembaraçado deste fardo, quando tiveres desenvolvido a acuidade de tua sensibilidade, escutarás melhor os apelos daqueles que sofrem e que choram; apurarás os ouvidos para eles, ficarás comovido e, num lance fraternal, voltarás a subir os degraus que tens diante de ti, para tomares em teu coração toda a miséria e toda a dor. Sentir-te-ás chamado a fazer uma obra útil para conduzires mais felicidade e mais luz, primeiramente ao teu lar, ao teu país, à tua raça, a toda a humanidade.
Teus irmãos têm necessidade de ti. Não resistas ao seu chamado.
Não é para si só que o Iniciado recebe a Luz. Recebe-a para difundi-la em torno de si como o diamante se coroa de fogos e de irradiações. E estes fogos não lhe pertencem. Vêm deste sol sublime onde o próprio espírito não pode atingir. Não concebas pois orgulho do saber que vais adquirir. Espalha-o e sê feliz do bem que verás florescer. Lutarás com todas as tuas forças contra a vaga sombria das idéias falsas que ensombreiam e entristecem a tua atmosfera. Infundirás a serenidade e a ternura nessa multidão que geme na sombra. Dá-lhe o que tu sabes. Teu dever ideal é sustentar aqueles que enlanguescem e se deixam vencer sem esperança e sem fé, desesperados, cansados, sem coragem. Tu te esforçarás para realizar um ideal que vive sempre latente, no seu cérebro e no seu coração, porém que está enterrado sob tantos escombros que não podem formular o pensamento, dele, nem tentar realizá-lo em uma ação social.
Todos estendem os braços para um amanhã melhor, que suprimiria a luta das classes e os atritos econômicos, e que faria desaparecer as guerras e extinguir todos os ódios. É aos adeptos que pertence o direito de responder a este apelo desesperado.
A humanidade, ansiosa e dolente, suspira na sombra espessa. As necessidades da hora criam para nós deveres novos. Cabe-nos fazer a luz e a harmonia aí onde eles fazem falta.
Adepto, eis aí o teu ideal. Tu terás o poder de responder e serás ajudado para realizá-lo. A hora soou para ti. Tu deves trabalhar mais do que aqueles que trabalham sem esperança e sem fé.
Apressa-te, pois, se a tarefa é rude, a recompensa ultrapassa a tua esperança.
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