Henri Durville

Não é recente a preocupação do homem em conhecer os mistérios de sua essência e do seu destino. Naturalmente, estes mistérios que, na juventude da humanidade, ultrapassam os outros em número, não interessam as inteligências rudimentares, mas os inspirados, os sábios, procuram achar estas verdades na esperança de as comunicar imediatamente aos seus pobres irmãos e de apressar a sua evolução.
Tão longe quanto nós possamos remontar à história, vemos estes pensadores renunciarem à vida ruidosa; eles são retirados do mundo e, em uma calma favorável à meditação, resolvem ultrapassar as contingências, as vãs agitações humanas para meditar sobre a vida real, para subir além dos efeitos e das causas. Os primeiros desses pensadores cessaram de se entregar às forças que os dominaram, procuraram conhecer estas forças, a adivinhar a sua origem, a dominá-la tanto quanto possível; reconheceram que estas forças obedecem a um ritmo, que eles estudaram nas suas manifestações em aparências múltiplas; acham-se em presença de Leis que eles são forçados a penetrar; conhecem o segredo dessas leis e desses ritmos; procuram e descobrem o Segredo da Vida, de uma vida bela, feliz e harmoniosa. O fim que eles encontram na vida humana é a Evolução, mas esta Evolução que é? Que somos nós mesmos? Donde viemos nós e para que fim tendem os nossos esforços? Onde nos levam os nossos destinos? Se é como sabemos que é em todas as iniciações, para o aperfeiçoamento pessoal, não poderemos apressar este aperfeiçoamento? Não poderemos adquirir estes poderes maravilhosos, estas faculdades quase desconhecidas nas quais estão sempre as palavras de Iniciado e Iniciação, abrindo-nos as portas dos mundos desconhecidos que a Verdade esclarece com um sol maravilhoso? A esta questão, os Sábios de todas as épocas respondem afirmativamente. Eles estudam as forças da natureza humana e penetram o segredo da natureza das forças que nos rodeiam, que são sensíveis em nós e ao redor de nós. Eles nos ensinaram a posse e a direção das forças, a fim de que elas sejam utilizadas para a nossa melhor evolução: eles nos ensinaram a dirigir estas forças em lugar de sermos submetidos, ao menos a fazermos uso da sua direção como o cavaleiro se serve de seu cavalo, ainda que este seja mais forte do que ele. Por este conhecimento, demonstraram-nos que nós podíamos ser senhores de nós mesmos e que podíamos possuir também outros poderes. Ensinaram-nos a realizar o maravilhoso equilíbrio do coração, do espírito e do corpo que nos une a este ritmo absoluto que dirige os mundos. Dos efeitos, que todos reconhecem e que caem sob os nossos sentidos, estes inovadores, estes campeões do pensamento humano são conduzidos às causas; eles nos revelam os motivos da desigualdade das condições humanas e de todas as amarguras, de todos os sofrimentos; eles nos levam o Segredo que dá alegria ao coração e, com ele; o pleno desabrochar do espírito, a calma soberana, o apaziguamento do anseio, da inquietação que é o cúmulo da força. Eles nos conduzem, estes sábios de todos os tempos, para os cimos onde floresce a luz em flamas e em vibrações mais belas do que a música e do que a poesia. Estes são os que fazem compreender que somos sujeitos a esses Ciclos mutáveis que animam, de transformação em transformação, pela senda da dor, da reflexão e do trabalho, a uma condição melhor de pensamento, a esses como que nós cuidamos com a aspiração mais ardente, ainda antes de obtê-los.   O fim de tantos trabalhos é um conhecimento melhor, mais ardente e mais perfeito de nós mesmos; é uma comunhão mais íntima com este mundo desconhecido e sensível no qual estamos banhados. Para virmos a ser elevados a tal altura é preciso aperfeiçoar o nosso espírito, depurar o nosso coração, despojarmo-nos de todo o sentimento egoístico, estreito e mesquinho para aderir à solidariedade dos outros seres, a este altruísmo que é a mais bela forma de nossos sentimentos. Tal é o fim da nossa vida e todos os Sábios nos ensinam isso, seja claramente, seja sob o véu mutável das imagens e dos mitos. Somente aproximando-nos deles poderemos compreender toda a beleza do fim oferecido aos nossos esforços. Alguns se admiram que esses pensadores não tenham apresentado a totalidade de seus conhecimentos sob uma forma acessível a cada um. É preciso dizer que a dificuldade dos tempos não permitiu sempre entregar a todos, como desejavam, o conjunto do seu trabalho-, não lhes foi possível oferecer a todos sob uma forma acessível. Todos os seres não estão em estado de suportar esta revelação: uma preparação é necessária, porque os cérebros que se acreditavam muito fortes perderam a sua calma em presença desses poderes novos, quase ilimitados, desses meios inesperados de percepção e de conhecimento. Outros não têm realizado esperanças que eles tinham inspirado; viram nestas revelações possibilidades de lucro, satisfações da vaidade, meios de domínio inteiramente incompatíveis com o alto ideal que deve nascer de tais estudos. Todos estes investigadores, cujo pensamento ilumina ainda o campo indefinido do conhecimento, todos estes guias de nossa evolução do qual cada um tem presidido a uma fase da nossa civilização: Fo-Hi, Rama, Krishna, Buda, Confúcio, Lao-Tseu, Hermes, Moisés, Orfeu, Pitágoras, Platão, Jesus, todos deixaram ensinamentos e uma tradição apropriados às necessidades da sua época, os quais é preciso conhecermos e dos quais nós devemos tirar proveito para a nossa orientação moral. A sua ação, cuja lembrança temos conservado, as direções morais que têm sido levadas a deixar as suas escolas e que formam o tesouro de nossas noções são nossa preciosa herança. A verdade que eles têm enriquecido e proclamado, têm adaptado à sua época, à mentalidade daqueles que os escutam, mas nós não podemos ainda servir-nos dela utilmente. Todos esses sábios entreviram o problema. Por diferentes caminhos, e caminharam para a Luz. Eles todos têm procurado meios de apressar a evolução individual è social dos seres e das faças. Todos têm reconhecido a necessidade de elevar o ser acima da matéria, de dirigi-lo para as alturas, de guiar o seu espírito, de abrir o seu coração e a sua alma a toda esta beleza, aos Ritmos divinos que nos sustem e nos fazem compreender o que seria o mundo se nós tivéssemos dele uma concepção mais pura da realidade. Esta maravilhosa ação, eles a cumpriram segundo os elementos de que dispunham, segundo a probabilidade de seu tempo. Todos esses sábios reconheceram que o ser humano, ainda muito apegado à matéria, não estava prestes a receber o conhecimento integral da Verdade. Se esta Verdade absoluta fosse conhecida e obedecida por todos, mudanças profundas e inesperadas operar-se-iam no Universo. A vida social seria construída sobre uma base diferente. As relações sociais seriam modificadas e os bens a adquirir seriam disputados sobre um terreno bem diferente daquele em que o nosso tempo anima a formidável luta pela vida. Então, o Saber, a Inteligência, a Bondade, os Poderes psíquicos seriam as verdadeiras riquezas e todo ser mais evolucionado gozaria de imensos poderes cujo único pensamento nos mergulha em abismos de admiração. Porém, o mundo está longe de estar prestes a este desabrochar completo. Portanto, será perigoso e ilógico dar explosivos a uma criança, como seria imprudente dar ou confiar os segredos àqueles que não estão em estado de compreender. Um dia, o menino será homem e poderá servir-se dos explosivos terríveis para trabalhos úteis; do mesmo modo que os povos, um dia, compreenderão o verdadeiro fim da vida, podendo ser iniciados. O santuário do conhecimento será então aberto a todos. Longos séculos de espera são ainda necessários. O domínio destes conhecimentos não admite revolução, mas uma evolução contínua. Toda revolução destrói e a evolução constrói. Esta construção que os séculos começaram deve ser efetuada normalmente, lentamente, sem relâmpagos e sem detenças.

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