Henri Durville

Seu coração, livre das paixões vulgares, não conhecerá mais sentimentos senão de ordem muito elevada e desprovidos de todo egoísmo. Seu espírito, desprendido de um acúmulo de frívolos conhecimentos, adquiridos com o único fim de brilhar aos olhos do homem, procurará a verdade única. Compreenderá que a única ciência está em Deus, e nas idéias gerais é que ele encontrará o seu prazer e o seu repouso. Tudo isso não se obtém sem custo, porém como as alegrias são grandes e como recompensam esses esforços! Tudo isso não se obtém sem esforço, afinal. A medida que uma pessoa se eleva, percebe que tudo vive, que tudo ama e que tudo é amado neste mundo e sente uma alma fraterna para todos os seres vivos, desde o mineral que parece inerte aos olhos profanos até o homem. E todos esses seres, tão diferentes pelo seu grau de evolução, são fraternos a quem os ama e aquele que concebe assim o mundo sente-se realmente amado e sustentado pelos poderes superiores, propícios ao seu trabalho e favoráveis à sua felicidade.   O adepto sente-se dotado de poderes novos. Estas novas forças, que ele descobriu, banham-no, sustentam-no. A terra não é mais para ele senão um lugar de passagem, cujo peso não o detém porque ele não é mais atraído por suas imagens vãs e as suas fugitivas riquezas; pôs a sua força e sua alegria nos tesouros que não passam, e as asas de meu amor o fazem planar, livre e ligeiro, longe das baixezas deste mundo, O domínio do pensamento, que lhe é então revelado, fez-lhe percorrer com rapidez da luz os domínios que lhe pareciam inacessíveis anteriormente. Ignorava-os no momento em que a sua vida era puramente terrestre; mas, à medida que ele atinge os cimos, a sua vista se estende e se firma, e está, diante do que foi a sua ciência anterior, como uma criança que, vindo a ser homem, ri de ver reduzido a suas justas proporções o parque que lhe parecia tão grande quando os seus passos de seis anos tinham dificuldade em atravessá-lo. Os olhos do espírito desenvolvem-se com uma atividade singular. Tudo vem a ser claro ao iniciado. A justiça e a eqüidade não são mais palavras vãs para ele, porque ele feriu e dominou a camada de nevoeiros que o interesse e a cupidez interpõem entre nós e o verdadeiro e que nos fazem tomar miragens como realidades. Estão abaixo dele, estas miragens; o iniciado não conhece mais dúvidas, nem hesitações, nem deformações. Vê as coisas tais como são; encanta-se com o ritmo maravilhoso que as anima. Tudo vem a ser expansão para aquele que segue a senda. Deus não lhe parece mais hostil e surdo à sua voz. Fica misterioso, mas vem a ser mais conhecível, porque se sabe que o dia virá, quando tiver vencido as experiências em que poderá fundir a sua consciência, tornada mais lúcida, na consciência divina. Esperando, o iniciado encontra Deus em si mesmo. Ele sabe que é emanado desta Unidade absoluta; que traz em si uma parcela desta força que rege os mundos. Sabe que o seu dever é tornar-se o mais possível conforme este Deus que o deve acolher e unir-se a este Deus mais tarde, com todos os seres cuja palpitação comum é como um vasto coração cheio de sua presença. Nesta fraternidade, todos os seres são nossos irmãos; bem melhor, eles são nós mesmos e nós somos eles, e não existe mais interesse particular, hão existe mais, em absoluto, vida particular. Para o egípcio, todos os seres, por diversos caminhos, tendem ao mesmo fim; tornar-se um Osíris, isto é, um Deus, uma parcela consciente e divina do Todo divino. Esta contemplação, que nos curou da cupidez e do egoísmo, curou-nos ao mesmo tempo do nosso orgulho. Que importa àquele, cuja vista tudo abarca, o lugar onde se encontra momentaneamente situado? Toda criatura evoluciona, toda criatura se aperfeiçoa. Todos procuram, adquirem ou adquirirão poderes. Todos desenvolverão a acuidade de suas sensações. Todos realizarão em um tempo mais ou menos longo e atingirão as esferas que vemos abrir diante dos nossos olhos encantados. Dia virá em que todos nós seremos iguais na presença absorvente de Deus. É, pois, bem inútil ver, em um estado superior, outra coisa além dos cargos e das responsabilidades, por vezes bem pesadas. É a Lei. Cada um percorre o ciclo que lhe é assinalado por uma justiça infalível. Apressemos esse ciclo pela reflexão, pela meditação e pelo trabalho, mas não tenhamos ódio nem cólera, nada senão uma profunda e terna piedade para aqueles que agravam seu fardo e perseguem quimeras que os impedem de conhecer a senda do verdadeiro Bem. Fora desta mui alta moral, os iniciados que formavam a classe sacerdotal possuíam conhecimentos muito extensos em todos os domínios científicos. Todos deviam conhecer e penetrar os ensinamentos de Hermes, mas as suas funções lhes eram distribuídas segundo as suas capacidades particulares e, nas cerimônias, eles formavam longos cortejos onde cada personagem tinha uma função precisa, revelada por insígnias especiais de conformidade com o seu grau de iniciação e com os ritos que ele tinha a missão de praticar.

Nenhum comentário: