“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Eliphas Levi
É certo que alguém ao se tornar servo de uma corrente qualquer de instintos, ou mesmo de idéias, aliena sua personalidade e torna-se escravo desse gênio das multidões que o Evangelho chama Legião.
Os artistas sabem algo sobre isso. Suas freqüentes evocações da luz universal enervam-nos. Tornam-se médiuns, isto é, doentes. Quanto mais o sucesso os faz crescer junto à opinião pública, mais sua personalidade enfraquece; tornam-se sujeitos a acessos, absurdos, invejosos, coléricos; não admitem que outro mérito, mesmo de ordem diferente, possa produzir-se ao lado do seu, e desde que se tornam injustos eximem-se até de serem polidos. Para escapar a essa fatalidade os verdadeiros grandes homens isolam-se de toda camaradagem liberticida e salvam-se dos atritos da vil multidão por uma impopularidade orgulhosa: se Balzac, quando vivo, tivesse sido um homem de conventículo ou de partido, não teria permanecido, após sua morte, o grande universal de nossa época.
A luz não ilumina as coisas insensíveis nem os olhos fechados, ou pelo menos só as ilumina em proveito dos que vêem. A palavra do Gênesis, Que se faça a luz!, é o grito de vitória da inteligência triunfante sobre as trevas. Essa palavra é sublime porque exprime com simplicidade a maior e mais sublime coisa do mundo: a criação da inteligência por si mesma quando, convocando seus poderes, equilibrando suas faculdades, ela diz: Quero imortalizar-me vendo a verdade eterna, que seja a luz! E a luz é. A luz eterna como Deus começa todos os dias para os olhos que se abrem. A verdade será eternamente a invenção e como que a criação do gênio: ele grita: Que seja a luz, e ele próprio é porque ela é. Ele é imortal porque compreendera eterna. Ele contempla a verdade como sua obra porque ela é sua conquista, e a imortalidade como seu triunfo porque ela será sua recompensa e sua coroa.
Mas nem todos os espíritos vêem com justeza porque nem todos os corações querem com justiça. Existem almas para as quais a verdadeira luz parece nunca dever existir. Contentam-se com visões fosforescentes, abortos de luz, alucinações do pensamento, e, apaixonadas por esses fantasmas, temem o dia que os faria fugirem porque sentem que, não sendo o dia feito para seus olhos, voltariam a cair numa profunda escuridão.
Assim é que os loucos, no início, temem, depois caluniam, insultam, perseguem e condenam os sábios. É preciso compadecer-se deles e perdoá-los, não sabem o que fazem.
A verdadeira luz repousa e satisfaz a alma, a alucinação, ao contrário, cansa-a e atormenta-a. As satisfações da loucura assemelham-se aos sonhos gastronômicos das pessoas famintas que aguçam sua fome sem nunca saciá-la. Daí nascem as irritações e as perturbações, os desencorajamentos e os desesperos. "A vida sempre nos mentiu", dizem os discípulos de Werther, "eis por que queremos morrer!" Pobres crianças, não é a morte que vos seria preciso, é a vida. Desde que estais no mundo morreis todos os dias, é à cruel volúpia do nada que deveis pedir o remédio do nada de vossas volúpias? Não, a vida nunca vos enganou, pois não vivestes ainda. O que tomais por vida são as alucinações e os sonhos do primeiro sono da morte!
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