“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Eliphas Levi
Nada é tão assustador quanto o nada; e se se pudesse jamais formular sua concepção, se fosse possível admiti-lo, o inferno seria uma esperança.
Eis por que a própria natureza procura e impõe a expiação como um remédio; eis por que o suplício suplica, como tão bem o compreendeu esse grande católico chamado conde Joseph de Maistre; eis por que a pena de morte é o direito natural e nunca desaparecerá das leis humanas. A mácula do homicídio seria indelével se Deus não absolvesse o cadafalso; o poder divino abdicado pela sociedade e usurpado pelos celerados pertencer-lhes-ia sem contestação. O assassinato, então, transformar-se-ia em virtude quando exercesse as represálias da natureza ultrajada. As vinganças particulares protestariam contra a ausência da expiação pública, e com os restos do gládio quebrado da justiça a anarquia fabricaria punhais para si.
"Se Deus suprimisse o inferno, os homens fariam outro para desafiá-lo", dizia-nos um dia um bom padre. Tinha razão; e é por isso que o inferno deseja tanto ser suprimido.
Emancipação! tal é o grito de todos os vícios. Emancipação do homicídio pela abolição da pena de morte; emancipação da prostituição e do infanticídio pela abolição do casamento; emancipação da preguiça e do roubo pela abolição da propriedade... Assim gira o turbilhão da perversidade até que chegue a esta fórmula suprema e secreta: Emancipação da morte pela abolição da vida!
É pelas vitórias do trabalho que se escapa às fatalidades da dor. O que chamamos morte é somente o parto eterno da natureza. Ininterruptamente, ela reabsorve e retoma em seu seio tudo o que não nasceu do espírito. A matéria inerte por si mesma só pode existir pelo movimento perpétuo, e o espírito naturalmente volátil só pode durar fixando-se. A emancipação das leis fatais pela adesão livre do espírito ao verdadeiro e ao bem é o que o Evangelho denomina nascimento espiritual; a reabsorção na morada eterna da natureza é a segunda morte.
Os seres não-emancipados são atraídos para essa segunda morte por uma gravidade fatal, arrastam-se uns aos outros, como o divino Michelangelo tão bem nos faz ver em sua grande pintura sobre o juízo final; são invasores e tenazes como pessoas que se afogam, e os espíritos livres devem lutar energicamente contra eles para não serem por eles retidos em seu vôo e rebaixados fatalmente ao inferno.
Essa guerra é tão antiga quanto o mundo; os gregos representavam-na sob os símbolos de Eros e Anteros, e os hebreus pelo antagonismo de Caim e Abel. É a guerra dos titãs e dos deuses. Os dois exércitos estão em toda a parte, invisíveis, mas disciplinados e sempre prontos ao ataque ou à represália. As pessoas ingênuas dos dois partidos, surpresas com as resistências súbitas e unânimes que encontram, acreditam em vastos complôs, sabiamente organizados, das sociedades ocultas e todo-poderosas. Eugène Sue inventa Rodin; pessoas da Igreja falam de iluminados e de maçons; Wronski sonha com seus bandos místicos, e o que há de verdadeiro e sério no fundo de tudo isso é apenas a luta necessária entre a ordem e a desordem, os instintos e o pensamento; o resultado dessa luta é o equilíbrio no progresso e o diabo contribui sempre, contra a sua vontade, para a glória de São Miguel.
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