Lytton

Ah! Jovem caldeu! Jovem nos seus inumeráveis anos,- Jovem como quando, insensível ao prazer e à beleza, habitava a velha Torre do Fogo, escutando como o silêncio das estrelas lhe explicava o último mistéri o que desafia a Morte, teme a Morte agora, finalmente? Não é o seu saber mais do que um círculo que torna a trazê-lo ao ponto onde começou a sua jornada? Gerações após gerações desapareceram desde que nós dois nos encontramos. Olha! Estou outra vez diante de ti!- Mas eu o olho sem medo! É verdade que têm perecido milhares de homens ao avistá-lo; é verdade que onde os seus olhos irradiam o seu fogo, deitam abomináveis venenos no coração humano, e a 9sua presença sepulta o infeliz que você sujeita à sua vontade, nas espirais de uma alucinação, ou o leva ao negro calabouço do crime e do desespero; porém, comigo o caso é diferente:não é meu vencedor, mas é meu escravo!- E como tal o servirei! Manda ao seu escravo, ó formoso caldeu! Escuta os gemidos de mulheres! Ouve os agudos gritos da sua amada! A Morte entrou no seu palácio! Adonainão comparece à sua voz. Os Filhos da Luz Celeste descem aos humanos somente quando nenhuma sombra de paixão e da carne perturba o olhar da Serena Inteligência. Porém, eu posso ajudá-lo! Escute!E Zanoniouviu distintamente no seu coração, apesar da distânci a, a voz de Viola que, em seu delírio, chamava pelo esposo amado.- Oh! Viola, eu não possa salvá-la! - exclamou o vidente, com voz angustiada; - o amor que lhe professo me desarmou!- Não é assim, - disse-lhe a horrível aparição; - eu posso conceder-lhe o meio de salvá-la. Eu posso pôr em sua mão o remédio que lhe dará as necessárias forças para vencer a crise e viver!- O seu remédio salvará ambos, a mãe e o filho?- Sim! Zanoniestremeceu; uma grande luta deu-se no seu íntimo, depois da qual sentiu-se débil como uma criança:a Humanidade e a Hora venceram o seu espírito.- Cedo! Salve a mãe e o filho! - exclamou, por fim.No obscuro quarto, estava Viola na cama, nas mais agudas agonias do parto; a vida parecia esgotar- se com os gritos e gemidos que, no meio do delírio, revelavam seus sofrimentos; e sempre ainda, nos gemidos e gritos chamava o seu querido Zanoni. O médico olhou o relógio; o Coração do Tempo batia com sua tranqüila regularidade, o Coração que nunca simpatizou com a VIDA, nem se abrandou ante a Morte.- Os gemidos estão cada vez mais fracos, - murmurou o médico; - em dez minutos, tudo terá acabado.Insensato! Os minutos riem de ti; a Natureza, neste mesmo instante, como o céu azul através de um templo arruinado, sorriatravés do torturado corpo. A respiração torna-se mais calma e regular; a voz do delírio se cala e um doce sono reparador se apodera de Viola. É um sonho ou é uma realidade que a sua alma vê? Parece-lhe, de repente, que está ao lado de Zanoni, e que a sua cabeça ardente se apoia ao peito do esposo; parece-lhe que, enquanto ele a contempla, os olhos do seu amado dissipam as dores que dela se apoderaram, e que o contato da sua mão refrigera a sua testa, tirando-lhe a febre. Viola ouve a voz do esposo que murmura, é uma música que afugenta os inimigos. Onde está a montanha que parecia oprimir as suas fontes? Esse peso cruel desaparece como um vapor açoitado pelo vento. No meio do frio de uma noite de inverno, vê aparecer o sol, sorridente, no céu sereno, ouve o murmúrio das verdes folhas; o belo mundo, os vales, as correntes e as florestas se apresentam à sua vista e parecem dizer-lhe, numa linguagem natural: --Ainda existimos para ti!-- Homem de drogas e receitas olha o seu vaticínio! Olha o relógio:o primei ro continuou andando e os minutos se sepultaram na Eternidade; a alma, que a sua sentença teria despedido, permanece ainda nas praias do Tempo.Viola está dormindo; a febre cede; as convulsões não se repetem; a rosa viva torna a florescer na sua face; passado a crise! Homem, a sua mulher vive! Amante, o seu universo não é solidão! Coração do 9Tempo bate! Um momento mais, um pequeno instante, e que alegria! Que alegria! Pai, abraça o teu fi lho!

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