Goethe

   Não foi o próprio filho de Deus que disse: «Aqueles que meu Pai me der serão meus!» E se eu lhe não fui dado? Se o Pai me quer guardar para si, como o coração mo diz? Por piedade não vás dar a estas palavras uma interpretação errada, nem encontrar nelas a menor intenção de zombaria. É a minha alma inteira que te estou expondo. Se assim não fora, preferiria calar-me, porque não gosto de desperdiçar palavras na discussão de um assunto para todos quase completamente desconhecido. Que é o destino do homem senão sofrer a sua medida de tormentos e esgotar o cálice? E se até Deus do Céu o achou amaríssimo quando o aproximou dos divinos lábios, porque hei de eu afetar uma coragem sobre-humana e fingir que para mim é doce e agradável! Porque me hei de envergonhar de confessar a minha derrota no momento em que a minha alma estremece entre o ser e o não ser, em que o passado brilha como um relâmpago sobre o negro do futuro, em que tudo o que me rodeia se desmorona e desaba, em que o mundo parece morrer comigo? Não reconheces aqui a voz da criatura desfalecida, desanimada, afundando-se irremediavelmente não obstante lutar com energia, mas em vão e gritando com cruciante angústia: «Meu Deus! Meu Deus! Porque me abandonastes?» Poderei eu envergonhar-me desta exclamação ou recear o momento em que ela se me solte dos lábios, quando a não pôde evitar, aquele que, baixando à terra, dela fez a sua mortalha?

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