“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Henri Durville e Edwin Arnold
O Atalho Nobre é dito óctuplo porque ele comporta oito práticas ou caminhos que levam à realização. Quais são esses oito caminhos?
Quatro são indicados para o começo.
Primeiramente, é a Crença Reta. Sua prática consiste sobretudo na direção moral.
Aquele que segue este caminho deve evitar toda ofensa e encarar cada um como uma alma fraternal.
Ele sabe que o Carma é a lei do mundo; todos os seres são ligados e solidários; também sabe que é este Carma que rege todas as coisas deste mundo.
Não somente evita toda cólera e todo ato violento, mas ainda aprende a governar os sentidos, a exercer sobre eles um império clarividente, de tal maneira que nada o possa fazer sair do caminho traçado.
Depois, vem a Intenção Reta. O Carma daquele que deve vir a ser Sábio não deve inquietá-lo absolutamente.
O que é um mal em um ser é o mal de todos os seres; deve possuir, pois, bons sentimentos a respeito de tudo o que vive.
Deve evitar a cólera, mas também deve evitar a malevolência, que envenena as mais retas intenções e a avidez que é a maior fonte de questões e de maus propósitos, que fazem cair na cilada da ilusão.
Ao lado da Crença e da Intenção Retas, o terceiro caminho é o da Palavra Reta.
Não basta evitar o mal; é preciso que nem as nossas palavras possam causá-lo; mas aquele que procura a Sabedoria deve ser senhor das suas palavras; não deve pronunciar senão palavras francas, sempre calmas e corteses, porque a própria verdade ganha em ser dita com bondade.
O Livro diz àqueles que se aproximam desta Senda: "Vigiai os vossos lábios, como se eles fossem as portas de um palácio habitado por um rei e falai como se Sua Majestade estivesse presente".
"É dar ao homem um sentimento elevado do espírito, de que não é senão a morada e que deve respeitar tanto na palavra como na sua mais viva manifestação".
"Cada ação do iniciado deve ter por fim a destruição de uma falta. Cada ação boa pode e deve reparar uma ação má".
O quarto caminho é o da Reta Conduta.
Aquele que vai para a Sabedoria, abstém-se de palavras e de ações inúteis; deve ter por objeto adquirir méritos e só o amor é capaz de conduzi-lo a isso.
"O Sábio não deve ter em torno de si senão a possibilidade de destruir o mal; o mal moral, pelo seu exemplo e suas boas qualidades, suas boas palavras, o mal físico por suas delicadezas, por seus cuidados e sua caridade".
"Este amor para com todos os seres é a mais alta via daqueles que ainda não chegaram aos planos escarpados do cume, mas a senda já está esclarecida pelo amor que é o sol de todos os seres e o guia de suas ações".
"Como vemos o fio de prata através das pedras de um colar, deixai aparecer o amor através das vossas boas ações".
Esta regra é o encadeamento aos quatro caminhos mais elevados.
Estes quatro caminhos elevados são: a Pureza Reta, o Pensamento Reto, a Solidão Reta e a Meditação Reta.
O caminho da Pureza Reta é o da renúncia voluntária a todas as doçuras que fazem o encanto da vida, aos sentimentos mais permitidos e mais respeitáveis, para procurar na meditação todo prazer e todo bem.
O Pensamento Reto é aquele que liberta de todas as dúvidas, todas as ilusões; que faz viver o adepto no mundo sereno da verdade. Chegando a esse grau, o adepto recebeu a iluminação; não tem necessidade de ensinamentos; os pregadores e os livros são igualmente inúteis; vê o seu verdadeiro caminho; está próximo.
A Solidão Reta vê o espírito enfim, liberto, absolutamente destacado de tudo o que é transitório e preso somente ao eterno.
Por isso, a vida neste mundo está terminada para ele; não falta senão franquear o quarto grau, que pode ser franqueado ainda neste mundo, porém que só foi atingido por alguns santos.
Este termo final é o êxtase ou a Meditação Reta, que está demonstrada pela união com Deus, na concentração, na contemplação perfeita. É o Nirvana! É a bem-aventurança alcançada ainda nesta vida, e aquele que a atinge nada mais tem a fazer neste mundo. Deve, pois, abandonar o seu corpo mortal. Estes quatro caminhos descritos, que são o período da verdadeira iniciação, também foram descritos por E. Arnold: "Os pés que não têm mais nada a percorrer, relativamente às coisas terrestres podem apenas segui-los; estes são a Pureza Reta, o Pensamento Reto, a Solidão Reta e o Êxtase Reto. Não tenteis voar para o sol - almas que ainda não estais preparadas, cujas asas não estão ainda emplumaras! O ar das regiões inferiores é doce, e os instrumentos domésticos de que tendes o hábito de servirdes não são perigosos! Só os seres vigorosos podem deixar o ninho que cada um construir. O amor da mulher e do filho são preciosos; eu o sei; a amizade e os divertimentos da vida são agradáveis; as amáveis caridades de uma vida virtuosa são aproveitáveis; seus receios, postos que falsos, são solidamente fixos".
"Vivei a esmo, vós sois obrigados; fazei da vossa fraqueza uma escada de ouro. Elevai-vos, pela prática diária de suas aparências, até as verdades dos mais dignos seres amados. Assim, chegareis às alturas mais serenas, subireis mais facilmente, achareis menos pesada a soma de vossos pecados e adquirireis uma vontade mais firme de quebrar os laços dos sentidos, entrando no Caminho".
"Aquele que começa por atingir o Primeiro Grau conhece as Nobres Verdades e o Caminho óctuplo; cedo ou tarde atingirá a estadia bendita do Nirvana".
"Aquele que chega ao Segundo Grau, se liberta de todas as dúvidas, todas as ilusões e toda luta interior, senhor de todas as concupiscências, livre dos sacerdotes e dós livros, e não terá senão mais uma existência".
"Além encontra-se o Terceiro Grau; aí, o espírito majestoso vem a ser puro; ele se eleva até o amor de todos os seres vivos e à paz perfeita".
"A vida está terminada, a prisão da vida está destruída".
"Alguns, porém, ultrapassam tudo o que visível e vivo, para atingir o fim supremo, pelo Quarto Grau - o dos Santos - os Buddhis - as almas imaculadas.
Vede! Como os inimigos cruéis degolados por um guerreiro, os pecados jazem na poeira ao longo de seus graus: primeiramente o do Egoísmo, a falsa Fé, a Dúvida, o ódio, a Concupiscência".
"Aquele que venceu estes cinco pecados passou três graus; mas aquele que assim o conseguiu está assaz adiantado".
"Mas, restam-lhe ainda o Amor da vida sobre a terra, a sede do Céu, o Amor próprio, o Erro e o Orgulho".
"Como aquele que se equilibra sobre os cimos nervosos, não vê além de si senão o céu azul, o mesmo homem quando matou estes últimos pecados, chegou à zona do Nirvana".
"Os deuses, colocados acima dele, invejam-no; a ruína de três mundos não o abala; para ele toda a vida está vencida e vivida; portanto, todas as mortes estão mortas; o Carma não lhe levantará mais novas moradas".
"Não procurando nada, ele possui tudo; seu Ego desaparece e se funde no Universo; se alguns ensinam que o Nirvana é a cessação do ser, diz-lhes que se enganam, porque eles não sabem nada a respeito, porque eles ignoram que a luz brilha e está acima de suas lâmpadas quebradas e que a felicidade está fora da vida e do tempo".
"Entrai no caminho! Não há dor pior do que o ódio, não há sofrimento mais doloroso do que a paixão, enganadora como a sensação! Entrai no caminho! Está já muito adiantado aquele que lança a seus pés o seu pecado preferido. Entrai no caminho! Aí saltarão as fontes benéficas, que estancam todas as sedes! Aí florescem as flores imortais que forram alegremente os caminhos! Aí se comprimem as horas mais doces!"
Tal é o apoio daquele que, tendo vencido as experiências, convida os seus irmãos para trilharem a Senda onde ele mesmo encontrou a felicidade.
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