“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Henri Durville - A ÍNDIA VÉDICA
O que conhecemos de mais antigo, como tradição hindu, são os "Vedas" ou livros da Ciência Sagrada. - Os Quatro "Vedas": "Rig-Veda", "Yadjur-Veda", "Sama-Veda"
e "Atharva-Veda". - O "ltihâsa" e os "Purãnas". - Os "Sutras". - O conhecimento e o manejo das forças psíquicas são a base de todos estes livros secretos. - O "Atharva-Veda"
e as práticas mágicas. - Os meios, segundo a religião védica, de atingir a felicidade.
Ainda que a China nos apareça como imemorial, a Índia guarda para nós o atrativo de um passado quase infinito.
A imobilidade da China não desvendou o seu mistério, mas a índia está guardada viva, e a agradável amostra de suas iniciações conservou o ritmo e o movimento de um vasto mar aos poderosos refluxos.
O que conhecemos de mais antigo como tradição hindu são os Vedas, cuja data original é difícil de precisar. As avaliações são feitas entre 1000 e 1200 anos antes de Jesus Cristo, e certos historiadores remontam a uma data longínqua, a 2000 anos antes da nossa era a redação desses livros sagrados. Ainda é certo que os Vedas não são senão o reflexo de uma iniciação muito antiga, anterior ao conhecimento da escritura, no tempo em que o fogo era coisa tão preciosa que a oferta pela manhã era a ação sagrada de reanimar, até o fogo que não deve morrer.
A palavra Veda significa Saber e, de fato, os Vedas são o resumo de tudo o que sabiam, nessas épocas patriarcais, os pais das raças arianas. Os Vedas são o livro da ciência sagrada. A dar crédito à tradição, os Vedas seriam de origem divina; teriam sido revelados ao mundo por Brama, conservados pelos antepassados, depois colecionados por um sábio que recebeu, de fato, o nome de Vyasa Veda ou compilador dos Vedas.
Os Vedas compreendem quatro livros:
1º. O Rig-Veda ou livro do fogo. Contém, sobretudo, poemas religiosos, os hinos dos sacrifícios não sangrentos;
2º. O Yadjur-Veda ou livro do ar, que contém todas as leis dos sacrifícios e das fórmulas sagradas; 3º. O Soma-Veda livro do sol, que encerra os cantos litúrgicos e os textos religiosos; 4º. O Atharva-Veda, notoriamente posterior aos três outros, que é sobretudo consagrado aos cantos e às sentenças mágicas.
Ligam-se aos Vedas outros livros sagrados: o Itihãsa e os Purânas, que também têm um sentido religioso e divino.
Todos estes livros dirigem o homem na senda da ascensão e as suas vistas são diversas como as direções que eles dão deste fim.
Uns são puramente religiosos e litúrgicos, e se encontra com admiração u'a maravilhosa poesia esotérica nos seus hinos que são, entretanto, consagrados ao lado cultural da religião.
Por outro lado, como o Atharva-Veda, contém, sobretudo, fórmulas de magia e aqueles que as reuniram parecem ter conhecido, no vasto domínio do psiquismo, a maioria dos fenômenos que estudamos cada dia. O choque de retorno, por exemplo, é-lhe familiar e as fórmulas para libertar aquele que se julga enfeitiçado são fórmulas de volta do mal para aquele que o tem feito.
Os Vedas contêm cantos puramente esotéricos, especialmente os mantrans.
São os mantrans ritmos e palavras que, tocando o ritmo universal e entrando em harmonia com ele, conferem àquele que os pronuncia com conhecimento de causa um poder sobrenatural.
Depois dos Vedas vêm os Sutras, cujo nome significa Leis. Os Sutras abordam os assuntos de conhecimentos práticos.
O conhecimento e o manejo das forças psíquicas são a base de todas essas obras, tanto que só os iniciados é que têm feito uso dos livros sagrados.
A iniciação seria conferida por uma longa ascese, práticas morais e, sobretudo, a meditação sobre as relações que unem o homem a Brama. Esta meditação, abrindo ao adepto os mundos infinitos que se colocam entre a nossa vida material e o mundo divino, da àqueles que alcançavam o conhecimento faculdades e poderes superiores ao resto dos homens. O Rig-Veda e o Atharva-Veda abordam o ensinamento da magia, visando sobretudo as curas, o que deixa compreender que a magia negra existe também, pois que a maioria dos males lhe são atribuídos nesta época.
As obras do Brâmane, aquelas que constituem a sua função cotidiana, são baseadas sobre o mesmo princípio. O Brâmane é um Sábio certamente. Os estudos, as mortificações e os hábitos dos profundos pensamentos uniram-no aos deuses, mas aos olhos do populacho é, sobretudo, um mago e um adivinho que deve afastar os seus fiéis das influências desastrosas dos maus espíritos e demônios.
Quando se produz um mau presságio, o demônio só tem a qualidade de desviar, porque o mau presságio como a sorte má. são "pecados", faltas que não seriam produzidas se aquele que é vítima não os tivesse merecido.
E' preciso, pois, que o Brâmane intervenha, que faça sacrifícios e purificações para que os maus espíritos possam ser afastados e que os bons rodeiem o homem, sua casa, sua família, de influências benéficas.
O estudo destes livros mágicos necessitaria de verdadeiros volumes. M. Victor Henry fez, sobre este assunto, um estudo interessante do Atharva-Veda. Aqui, o espaço é por demais limitado; somos constrangidos a passar rapidamente sobre este ponto, ainda que tão apaixonador das primeiras literaturas sagradas.
Estudando também o Atharva-Veda, o Dr. Lehmann assim se exprime, tocando o caráter misterioso deste livro:
"Um culto de demônios com inumeráveis práticas misteriosas estende-se como um filete sobre toda a vida e se mistura mesmo com o culto oficial. Tudo o que o homem tem a temer ou que deseja evitar, maus gênios, inimigos, rivais, acidentes, moléstias e, sobretudo, má sorte, é por meio de sortilégios que ele evita; tudo o que ele quer obter é por meio de sortilégios que ele procura. Ora ele se agita para procurar uma feiticeira de estrebaria ou de qualquer granja, ora para colher a planta com o auxílio da qual se percebem todos os seres malfeitores. Se qualquer abscesso demoníaco emerge sobre o pescoço de um homem ou se ele está tomado de lepra, de diarréia, de loucura, empregam-se conjurações e filtros".
"O próprio soma e as pedras do lagar juntas ao soma, a Agni e a Varuna curam o amarelão".
"Pode-se anular secretamente a força de um inimigo; plantas e fórmulas permitem desviar o malefício e mesmo retornar para o seu autor; Os piores venenos podem ser tomados como um caldo inofensivo, por pouco que se conheça a respeito dos encantos apropriados".
"Do mesmo modo, manda-se o amor. A rapariga desdenhada espalha ervas sobre o leito do bem-amado ou mergulha no mel o ramo mágico, para que ele compreenda quanto são doces os seus lábios e o seu amor. A esposa enganada vota à morte a sua rival".
"A magia toma um valor religioso quando, em lugar de ter os efeitos particulares de cura e de proteção, tem por objeto a existência em geral e fornece a força necessária para a conservação da vida."
Um amuleto de ouro dá uma longa vida e forças novas; beberagens mágicas produzem uma posteridade masculina. Se a morte está próxima, a vida pode ser manifestada ainda. Há encantações de todas as espécies para regular o tempo.
Certas palavras significativas, pronunciadas depois dos trabalhos, trazem riquezas e felicidade, prosperidade e posteridade, colheita e gado.
A maldade e as faltas dos homens lavam-se com a água e se purificam com o fogo; as ervas e fórmulas podem anulá-los. Os sortilégios impedem os efeitos dos sacrifícios dos inimigos ou reparam as faltas cometidas pelo homem na execução de seus propósitos.
Há, certamente, uma grande quantidade de superstições; mas, em certos casos, a superstição é o resto e a deformação de uma iniciação que filtrou indevidamente entre os não-iniciados e que foi corrompida por práticas suplementares, mal dirigidas e mal compreendidas.
Em todo caso, é certo que diversos livros sagrados são textos de magia e implicam, na índia antiga, um grande conhecimento, não somente das forças do ser humano, mas dos poderes que lhes são exteriores. Estas forças, que podem operar sobre ele, podem também ser dirigidas, em uma certa medida, mediante certos atos e certas fórmulas.
Estes poderes, ele procura utilizar-se para a sua própria felicidade, o que está conforme com a natureza humana. Emprega-os para atrair a fortuna, para vencer em seus negócios e, sobretudo, nos seus trabalhos agrícolas, que são a grande preponderância dos povos primitivos; pede para fazer crescer e multiplicar os seus rebanhos que são a riqueza do hindu nesses tempos longínquos em que o medo e a esperança que o Brâmane inspira impõem a remessa de uma vaca em pagamento de certos atos de magia sagrada.
Então, como em nossos dias, a mulher para a qual toda a vida e felicidade está no seu lar, pede à magia os meios de inspirar e de reter o amor.
Há, no Atharva-Veda e nos livros similares, fórmulas bastante estranhas, entre outras, que são da mais alta poesia; o povo cria cegamente, sem murmúrio, cumprindo os ritos mais bizarros, mas os iniciados sabiam que tudo não era vão ou singular nestas práticas.
Eles sabiam que as práticas e, sobretudo, uma ascese, o conhecimento de certos ritmos, dão uma grande força e um certo meio-termo sobre as forças das quais nós somos rodeados; faziam a partida do verdadeiro e do falso nessas fórmulas; então, como hoje, eles se dão à tarefa de esclarecer, de purificar, de simplificar estas práticas.
Há coisas que não se pode negar, e, como diz Eduardo Schuré, a propósito destes sábios da Europa que criticam o que eles ignoram: O futuro reserva-lhes, talvez, uma última surpresa que será a de encontrar nos Vedas a definição das forças ocultas da Natureza, que a ciência moderno está em caminho de redescobrir!
A religião védica não se contenta em dar ao homem ritos e fórmulas, e contém assim, em seus livros, ensinamentos de uma alta elevação moral.
Estas leis são apresentadas ao homem como os verdadeiros meios para atingir a felicidade e não é um fato real que a verdadeira e doce alegria, aquela que não nos guarda nunca amanhãs amargos, se acha no cumprimento do dever, na necessidade do bem, do bem feito à humanidade?
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