Henri Durville

E esta descoberta da Senda, se pode ser dirigida, não pode ser feita senão pelo próprio indivíduo.   "Curvado para ser intacto. Reto para ser quebrado. Destruído para ser satisfeito. Oculto para ser novo. Com pouca coisa se conserva; com muitas vantagens, perde-se. O homem perfeito reúne tudo em um conjunto; é o modelo de todos os homens. Não se vê; todavia, brilha. Não se agita; todavia, opera. Não está coagido; todavia, tem méritos. Não é excessivo; todavia, dura muito tempo. Não é agitado, porque os outros não se agitam contra ele. Assim, desde muito tempo, o que era curvado fica intacto. Falar assim, é ensinar os ignorantes. O que é intacto sobe à Senda."   O Sábio, sob o ponto de vista de Lao-Tseu, vive, pois, desconhecido; dissimula-se voluntariamente e não tem nada que fazer alarde a respeito de sua inteligência; a opinião dos outros, por mais benevolente que seja, não atinge o fim que visa, porque ele não altera coisa alguma por causa das opiniões; não vê aqueles que ele ultrapassa em saber e em autoridade: mas vê aquilo que lhe falta para chegar à perfeição, à qual todas as forças aspiram. E' assim que é verdadeiramente modesto na sua incontestável superioridade. Não nutre orgulho. Só os humildes, que têm sabido fazer abstração de tudo o que não é objeto de sua santa pesquisa, sobem ao céu da mais bela conquista. O Sábio compraz-se na vida interior. Sabe que tudo o que está curvo fica intacto; que tudo o que evolui vive oculto sob o véu; encerra-se em si mesmo para atingir o Absoluto. O ensinamento de Lao-Tseu é, pois, verdadeiramente metafísico. Mas esta metafísica é passiva no caráter do Oriente, tal como nos têm revelado todas as suas iniciações; o Tao ensina que o homem deve abster-se de todo desejo; é assim que o Sábio se libertará do império das paixões, e libertar-se-á delas não executando ações individuais que não tenham por fim senão a satisfação pessoal do desejo. Esta ausência de toda ação pessoal é a paz. Esta paz é o ideal do chinês, tanto no seu coração como no seu país; para ele, o essencial não é ter um ideal e fazê-lo triunfar, mas evitar todos os assuntos de perturbações, conservar a tranqüilidade do povo, mesmo a preço da estagnação. O que é perfeito é a abstenção das guerras, tanto estrangeiras como civis; daí a supremacia do mandarim sobre o soldado.

Nenhum comentário: