Henri Durville

A índia nos ensina que nos tornemos solidários com os outros e com o universo, de modo a sentir a importância das menores ações. Mesmo se as repercussões de nossos atos nos ficam desconhecidas, não somos menos responsáveis por isso. É preciso conhecer as forças em torno de nós, para lutar contra aquelas que são más e submeter aquelas que são boas, a fim de adquirir poderes que nos permitam fazer o bem. É preciso compreender o nosso destino, prestarmos atenção de que temos um ciclo a realizar e que este ciclo recomeçará sob variáveis aspectos até a inteira purificação da matéria. É, pois, de primeira necessidade que se destaque da matéria, que é transitória e, portanto, inexistente, o que nos perturba em nossa evolução. É preciso esperar e pedir a iluminação divina, à qual devemos nos preparar sem interrupção por uma pureza sempre mais perfeita. Tal é o magnífico ensinamento que nos tem transmitido a índia e é toda uma ascese a seguir, uma direção constante da vida para o fim mais elevado. Certamente, uma tal concepção do homem é restrita, mas quanto ela é rica em maravilhosos resultados para aquele que quer fazer a sua nova orientação! Despreza todas as alegrias grosseiras e ilusórias, falazes para o seu espírito e o seu coração, e adquire o domínio do espírito! É por seu próprio esforço que chega a esta alegria. E é uma alegria ainda ser um vencedor calmo quando se combateu. Buda o diz nestes termos:   "Não imploreis os Deuses impotentes; é em vós mesmos que deveis procurar o que é preciso para a vossa libertação. Cada homem constrói sua própria prisão". A idéia de que o Budismo ordena que se retire do mundo e que se viva em um isolamento, inútil aos seus semelhantes, é uma idéia absurda. É preciso que o homem seja submetido aos deveres de seu estado, que cumpra a obra que lhe foi imposta. Parece contraditório que o mesmo livro nos ensine a fazer a nossa vida no mundo e nos retirarmos para uma floresta; é que nos esquecemos, em nossa qualidade de ocidentais, as belas imagens com que o Oriente costuma enfeitar o seu pensamento, sobretudo no domínio da filosofia. Retirar-se para a floresta é recolher-se em si mesmo, nestes asilos do pensamento que cada um possui em si e que pode tornar-se senhor de todo lugar a toda hora. Eis porque diz o Livro Sagrado:   "Ó Bhârata! De que serve a floresta a quem está dominado? Por toda parte onde um homem vive, se é que está dominado, aí está também a sua floresta, aí está a sua ermida".   É assim que devemos compreender esta sublime verdade, esta sublime lição. Cada um obriga-se ao seu dever, à sua família, à sua pátria, à humanidade inteira, e quanto mais poder adquire, mais obrigado está à coletividade da qual ele faz parte. Mas estes poderes e estas ações não são o único fim de sua vida. Aquele que se acha na senda possui um fim mais alto ainda. Quer a verdade sem véu, a união com o espírito divino. Eis porque ele renuncia a si mesmo, e nas horas de repouso, ausente do mundo e de seu absurdo tumulto, procura a verdadeira Luz. E ele tem a alegria de encontrar esta Luz tão pura, primeiramente em seu próprio espírito, disposto para o conhecimento do Ser; em seguida, à hora que não é conhecida, porém que chega sempre para quem soube tornar-se digno dela, desfaz os seus próprios limites por esta iluminação divina que não deixa permanecer sombra e que se espalha em todo o coração.

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