Henri Durville

Um dos documentos que nos assinala o Dr. Gastão Durville é uma vasta pintura representando o rei Seti I.° no momento de sua subida ao trono (fig. 3).   O rei recebe os poderes mágicos e sagrados que completam e justificam os seus poderes temporais na teoria social do Egito. A realeza não era somente um negócio de força e legislação; o rei devia ser um iniciado de alta classe e representar o poder divino, tanto quanto é permitido a uma criatura representá-lo sobre a terra. Esta transmissão do poder fazia-se por um gesto da mão projetando a força vital para o novo iniciado. Tal força, que lhe é assim transmitida, é muitas vezes simbolizada por um véu enfunado. Em outros documentos, esta força é simbolizada por uma serpente. Estes dois símbolos tinham uma significação característica para o objeto da força psíquica e de sua utilização no bem e no mal. O véu é enfunado por um sopro que não se vê; assim a força psíquica ou magnética é um motor poderoso que não se deixa perceber e que não deixa traços. Mas a serpente é mais misteriosa ainda. Oculta na terra e, entretanto, nascente de ovos como os pássaros, parece uma forma híbrida que serve de laço a todas as formas da vida sobre a terra. As suas mudanças de pele, consideradas como renascimentos, eram o emblema dos mais altos mistérios; enfim, o hábito que tem de se levantar e enrolar tinha feito criar a imagem da serpente que morde a própria cauda formando assim o círculo perfeito, o ciclo que termina e que recomeça sem interrupção, o signo da eternidade. Simbolizava também a inteligência divina comunicada ao ser humano e se achava, por este motivo, sobre a coroa dos Faraós, iniciados e filhos do Sol. O véu simbolizava, sobretudo, o magnetismo curador e a transmissão de força de uma pessoa para outra. E' assim que o Dr. Gastão Durville revelou, entre as esculturas de um sarcófago de granito, na grande sala de monumentos funerários do Louvre, um egípcio que estende os braços para diante, com o gesto dos passes magnéticos. A força magnética escapada de suas mãos projeta-se para aquele que a recebe sob a forma de um véu enfunado (fig. 1). Sobre um outro sarcófago, vê-se uma cabeça humana sobreposta de um braço e ao lado uma serpente (fig. 2). Era o caso de supor, como disse meu irmão que judiciosamente comentou esta imagem, que os egípcios consideravam a cabeça como um gerador de força da qual a mão seria o transmissor, a menos que o braço, no gesto de projetar, não seja o próprio signo da ação cumprida diretamente pelo cérebro. Ao lado da cabeça encontra-se a serpente, imagem da força, que não sofre mudanças e que apenas sofre porque cresce sempre em poder por uma renovada mocidade. Os Egípcios pareciam ter conhecido as modalidades que apresentam a força magnética sob a ação da força da polaridade.

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