“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Henri Durville
Esta percepção do verdadeiro não se obtém sem ascese; raros são aqueles que atingem facilmente a iluminação; todos ou quase todos têm de sofrer uma longa educação dos sentidos; devem fechar os olhos às ilusões da carne, obrigar os sentidos ao silêncio.
"Antes que a alma possa ver, é preciso obter a harmonia interior e tornar cegos os olhos da carne a toda ilusão".
"Antes que a alma possa entender, a imagem (o homem) deve ser surda aos fracassos e aos murmúrios, aos gritos dos elefantes que rugem, como também aos zumbidos das borboletas de ouro".
"Antes que a alma possa compreender e recordar, deve ser unida ao Orador silencioso, como ao espírito do oleiro a forma sobre a qual a argila é modelada'.
"Então, a alma entenderá e lembrar-se-á'.
"Então, ao ouvido interior, falará a Voz do Silêncio."
Que diz ao Iniciado essa voz misteriosa?
Que resultará para o Adepto desta análise de si mesmo, deste domínio de si mesmo e das faculdades encadeadas?
Neste apaziguamento completo, a alma escutará duas vozes que lhe falarão e serão chamadas para ele; a Matéria enfeitada de todas as ilusões atraí-lo-á para novas cadeias; o Espírito estender-lhe-á a mão para a libertação.
Como discernir, na paz silenciosa da alma, o que dizem estas duas vozes adversas, das quais uma quer suplantar a outra?
Como se julga a árvore pelos seus frutos, julga-se estes dois sons pelo sentido de seu discurso.
A matéria diz:
"Se tua alma sorri, banhando-se no sol de tua vida; se tua alma canta na sua crisálida de carne e de matéria; se tua alma chora no seu castelo de ilusão; se tua alma se debate para quebrar o fio de prata que a une ao Mestre (nosso Eu ou personalidade superior); crê, Discípulo, é na terra que está a tua alma."
Ela está ainda na terra, a alma que se agrada do tumulto das coisas, que se deixa prender por Maya, a grande ilusão, o Universo cheio de encantos, aos olhos daqueles que não são Iniciados.
"Quando tua alma em flor presta atenção ao ruído do mundo; quando tua alma responde à voz tonitroante da grande ilusão; quando tua vista sofre a presença de lágrimas de dor, aturdida pelos gritos de tristeza, tua alma se retira como a tímida tartaruga na casca do Egoísmo, crê, Discípulo, tua alma está em tabernáculo indigno de seu Deus silencioso."
"O espírito que está ligado à matéria compraz-se de seu egoísmo; este egoísmo pode ser brutal e material e então é fácil de ser evitado, mas há ciladas sutis na satisfação do eu, no seu trabalho, no seu orgulho, que o compara aos outros e tira o prazer de se sentir superior."
"Quando, vindo a ser mais forte, tua alma escorrega-se fora do seu recolhimento seguro, e, arrancando-se ao seu invólucro protetor, desenrola o seu fio de prata e lança-se no espaço; quando, percebendo a sua imagem sobre as vagas do espaço, murmura: "Eu sou isso", confessa, Discípulo, que tua alma está presa nas malhas do erro."
A evolução se faz sobretudo pela dor, mas é preciso que a necessidade desta dor seja reconhecida por aquele que a suporta.
Aquele que não a compreende irrita-se e deverá começar muitas vidas; aquele que ignora o papel da dor está retido na matéria e continuará a sofrer no seu corpo atual e em outros corpos.
"Esta terra, Discípulo, é a sala da dor; aqui, ao longo do caminho de duras provas, ciladas são semeadas para tomar o teu Ego na ilusão chamada a grande heresia."
Esta heresia é, para o ignorante, o desconhecimento da alma, de sua sobrevivência através dos seus destinos.
Aquele que ignora esta sobrevivência e a nega, não poderá elevar-se. Ignora o que fará a sua alegria quando vier a ter conhecimento; ele não sabe que esta vida não é senão uma experiência que precede à verdadeira vida, a vida espiritual, esplêndida, cheia de beleza e de riqueza luminosa.
"Esta terra, ó Discípulo ignorante!, não é senão a estrada sinistra conduzindo ao crepúsculo que precede o vale da verdadeira luz, que não pode extinguir, esta luz que queima sem mecha e sem alimento."
Antes de conhecer o Eu, antes de discernir a própria natureza, o Eu Superior ao ser humano em todas as manifestações, importa ter conhecimento de si mesmo e julgar-se.
Para conhecer o seu Ego verdadeiro é preciso aprender a distinguir o Não-Eu da parte da nossa personalidade que não é o espírito; é preciso desprender-se de todas as ciladas do corpo, do espírito e do coração, cegos pela ilusão, o que não está em nosso espírito puro, única parte de nosso ser que merece a nossa atenção.
Diz a grande lei:
"Antes de vir a ser o conhecedor de seu próprio eu, deves ser primeiramente o conhecedor de ti mesmo. Para chegares a ser, ou melhor, para chegares a conhecer este Ego, é preciso que abandones o Eu ao Não-Eu, o Ser ao Não-Ser; então poderás repousar entre as asas do Grande Pássaro. Sim, doce é o repouso entre as asas daquele que não nasceu, que não morreu, porém que é o AUM, através da eternidade das idades."
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