“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Paul Strathern - Confúcio
Confúcio era ambicioso. Queria um cargo administrativo elevado para que pudesse colocar suas idéias em prática. Como era de se esperar, os governantes, amantes da boa-vida, não tinham nenhum desejo de empregar um desmancha-prazeres para dirigir seus domínios, e as tentativas de Confúcio jamais foram além do estágio de candidato. (Confúcio era um jovem sério e honesto que acreditava ser possível dividir seu vasto conhecimento com o mundo: uma técnica não muito boa para candidatar-se a um emprego.) Como acontece atualmente, aquele que não consegue trabalho em sua área acaba geralmente lecionando. A província de Lu orgulhava-se em reunir um número de escolas que ensinavam a etiqueta e os rituais palacianos para candidatos a cortesão. (As aulas eram geralmente ministradas por ex-cortesãos especialistas nas intrincadas cerimônias pertinentes à corte, mas que tinham sido demitidos por alguma gafe inadvertida que também pode ter-lhes custado alguma posse íntima bem mais valiosa que o salário.) Confúcio decidiu fundar uma escola, porém com uma diferença: iria ensinar administradores políticos a governar.
Felizmente, Confúcio era dono de uma personalidade cativante e carismática: nenhuma pergunta foi feita acerca de suas qualificações e ele logo começou a atrair alunos. A escola de Confúcio parece ter sido bastante semelhante às desenvolvidas pelos filósofos da Grécia antiga nos séculos subseqüentes. A atmosfera era informal, o mestre conversava com os alunos, às vezes de pé, outras sob a sombra de uma árvore. Ocasionalmente, inspirava-se numa leitura, mas a maioria das aulas consistia em sessões de perguntas e respostas.
O mestre geralmente dava as respostas em forma de homilias. “Se guiares um exército destreinado à batalha estarás pondo-o fora.” “O homem superior é comedido em palavras mas não em realizações.” “Quem não corrige seus erros torna-se ainda mais errado.” Tais observações devem ter sido consideradas quase tão banais há dois mil e quinhentos anos como parecem ser hoje. Entretanto, sabemos que Confúcio não admitia os tolos em suas turmas. “Se eu indicar o ângulo de um assunto e o aluno for incapaz de perceber os outros três por si mesmo, eu peço que vá embora.” Não havia lugar para covardes na escola de Confúcio. Geralmente tinha à sua volta duas dúzias de alunos que variavam de príncipes a pobretões. Nem todas as palavras de Confúcio que chegaram até nós são banais; algumas são controversas, outras obscuras ou enigmáticas, mas em sua maioria profundas. (“Quem não conhece o valor das palavras jamais compreenderá os homens.” “O homem realizado procura o que existe dentro de si. O homem frustrado procura o que aparece nos outros.”) Diz-se que seus comentários contêm ocasionalmente a leveza do humor oriental, que parece situado numa faixa de freqüência além do alcance auditivo da maioria dos ouvidos ocidentais.
Confúcio era essencialmente um professor de moral. Era sempre sincero e desconfiava da eloqüência. Seu pecado foi ensinar a seus alunos como usar adequadamente o comportamento. Se o que desejavam era governar as pessoas, deveriam primeiro saber como governar a si mesmos. Porém o fundamento básico de seu ensinamento soa como um chavão familiar: “A virtude está em amar os homens.” Este sentimento moral, o mais profundo da humanidade, foi articulado por Confúcio mais de quinhentos anos antes do nascimento de Cristo, porém sem nenhum sentido religioso. Confúcio pode ter fundado uma religião, o confucionismo; no entanto seus ensinamentos não tinham particularmente um caráter religioso, e esse enigma chinês certamente contribuiu para sua longevidade.
Existe ainda uma peculiaridade a mais nesse paradoxo. Os ensinamentos de Confúcio podem não ter tido caráter religioso, mas ele certamente tinha. Acreditava que o universo se orienta em direção ao bem – que é a fé em seu estágio mais elevado – sem que exista nenhuma evidência palpável que apóie tal otimismo. Confúcio exaltava o virtuoso que vivia reverenciando o céu mas considerava a maioria das práticas religiosas de seu tempo superstições absurdas. Neste e em muitos outros aspectos, Confúcio apresenta uma surpreendente semelhança com Sócrates. Realmente, alguns dos grandes orientalistas já igualaram Confúcio a um Cristo socrático. (Assim como difama três dos maiores nomes da história, essa esdrúxula comparação abriga a habitual e irritante pérola da verdade.)
Ao mesmo tempo em que Confúcio fundava sua religião não-religiosa, um compatriota seu fundava outra importante religião chinesa: o taoísmo. Curiosamente, o taoísmo é complementar ao confucionismo, vinculando uma crença mística à unidade metafísica do universo, e foi fundada pelo legendário filósofo Lao-tsé. Algum tempo depois de fundar sua escola, Confúcio fez uma viagem para conhecer o venerável e misantropo Lao-tsé. O velho sábio repreendeu Confúcio por seu orgulho e ambição. Este, por sua vez, ficou profundamente impressionado com Lao-tsé. Comparou-o a um dragão subindo aos céus, navegando no vento e nas nuvens. Este raro comentário poético de Confúcio mostrar-se-ia profético, pois foi exatamente dessa forma que Lao-tsé saiu da história. Com a idade de duzentos anos ele desapareceu num nevoeiro, em um desfiladeiro a caminho do Ocidente, onde sua chegada numa nuvem parece ter passado desapercebida.
Confúcio foi excelente professor e muitos alunos seus tornaram-se administradores de grande sucesso (muito contribuindo para a humilhação de seu idoso mestre que continuava a andar de um lado para o outro em busca de um bom trabalho sem obter êxito.) Sabiamente, os alunos de Confúcio deixavam de lado seus princípios assim que punham os pés no mundo real do governo. Defender aquelas idéias revolucionárias e humanas só lhes proporcionaria uma vaga no coro masculino da igreja. Entretanto, essa primeira geração confucionista de administradores especialmente treinados não esqueceu seu grande mestre e o que ele lhes havia ensinado. Formaram uma espécie de fraternidade maçônica e sua educação certamente influenciou a maneira como continuaram a viver e a atitude que adotavam diante do trabalho. As primeiras sementes de uma nova era de governantes esclarecidos estava dando frutos. Daí para frente, poucos continuaram acreditando seriamente que os governantes eram descendentes de ancestrais divinos, governando por decreto celeste. Compreendeu-se que o Estado podia realmente tornar-se um empreendimento cooperativista, em benefício de todos; e os novos administradores faziam o máximo que podiam para dissuadir seus senhores de se envolverem em guerras irracionais.
Entre os alunos de Confúcio havia um bom número de jovens de famílias influentes, geralmente de outras províncias. Porém, alguns membros mais curiosos da família real de Lu passaram, mais tarde, a freqüentar suas aulas. Dessa forma, Confúcio conheceu o futuro príncipe regente de Lu, Yang Hou. (Não confundir com seu famoso predecessor Yang Hoo, que se tornou objeto de escárnio depois que seu regime foi se tornando cada vez mais insignificante.) Yang Hou ficou muito impressionado com Confúcio e ao assumir o poder nomeou o filósofo, já de meia-idade, para o Ministério do Crime. Finalmente, chegara-lhe a oportunidade de colocar seus princípios em prática.
De acordo com todos os relatos, Confúcio foi muito bem-sucedido como ministro do crime, embora isso pareça contrariar frontalmente seus tão alardeados princípios. Ele exerceu uma política de terror contra os criminosos locais. “Durante o tempo em que ocupou o cargo não existia um ladrão na terra de Lu”, escreve um biógrafo. Confúcio foi tão longe que chegou a aplicar a pena de morte por “invenção de roupas fora do comum”. E exigia-se uma perfeição tal nas províncias que “os homens tinham de ser cautelosos para só andarem no lado direito da rua e as mulheres no lado esquerdo”. Finalmente concluíram que aquilo já estava passando dos limites. Alguém tentou subornar o ministro-chefe com oitenta lindas jovens para se livrar de Confúcio. O ministro-chefe, que não usufruíra de uma educação confuciana, se viu incapaz de recusar oferta tão sedutora. Confúcio foi demitido de seu posto, os homens e mulheres de Lu voltaram a andar na mesma calçada, passaram a inovar no vestuário usando roupas pelas quais não seriam mortas, e os criminosos puderam largar seus desagradáveis empregos para se dedicarem novamente à sua verdadeira vocação.
Em reconhecimento pelos serviços prestados, Confúcio foi promovido a uma posição de prestígio ainda mais alto, com um título bastante imponente e um salário extraordinário. Confúcio, porém, descobriu rapidamente que tudo não passava de uma simples sinecura, um cargo sem nenhuma autoridade prática. Renunciou imediatamente, revoltado. O trabalho não lhe interessava sem o poder de decisão para questões de Estado importantes (como quem deveria andar em qual calçada).
Confúcio estava então com mais de cinqüenta anos de idade. Decidiu fazer uma viagem, acompanhado de alguns discípulos, numa peregrinação pela China. Todavia não se tratava de uma peregrinação no sentido espiritual convencional. Não havia nenhum destino sagrado e Confúcio não buscava a iluminação. Sua peregrinação, assim como sua filosofia, tinha intenções inteiramente seculares. Estava à cata de um emprego. E se não conseguisse um, talvez encontrasse um futuro governante de quem pudesse se tornar tutor, e assim, em algum lugar, seus princípios seriam postos em prática. Entretanto, as notícias sobre a peregrinação de Confúcio já haviam, obviamente, se espalhado. Sua jornada em busca do cálice sagrado do emprego iria perdurar por mais de dez anos. Ocasionalmente era procurado para dar conselhos, porém nenhuma oferta de trabalho permanente lhe era oferecida.
Podemos unicamente especular quais as razões para isso. Confúcio era, nessa época, considerado o homem de maior sabedoria em toda a China. Fora professor dos mais notáveis administradores do país e apesar disso contentara-se, sem queixas, com cargos menores, sem aceitar um único suborno ou jamais trair seu senhor junto a seus inimigos. (Tal excentricidade era considerada quase um acinte e certamente contribuiu para a crença posterior de que Confúcio era uma personagem puramente lendária, que na verdade nunca existiu.) Havia, obviamente, alguma coisa em Confúcio. Excesso de zelo, má vontade com o compromisso, hábitos pessoais desagradáveis ou talvez uma simples halitose da alma. Jamais saberemos exatamente o que Confúcio tinha que o impedia de se aproximar das classes governantes chinesas. Minha opinião pessoal, depois de estudar seus escritos, é que eles deviam considerá-lo um sujeito tremendamente chato.
Até as aventuras de Confúcio em sua década de andarilho parecem ter conservado esse elemento característico da chatice. Quando visitou o estado de Wei teve uma audiência particular com a irmã do governador, a célebre Nam Tsé, o que desagradou profundamente seus discípulos. A história, porém, encarregou-se de censurar pudicamente seja lá o que tanto tenha irritado seus discípulos e nem sequer ficamos sabendo o motivo que levou Nam Tsé a alcançar tanta notoriedade, além das triviais insinuações de incesto real. Na província de Sung, Confúcio ficou sabendo que alguém tencionava assassiná-lo e passou então a usar “roupas discretas”. E assim prosseguiu sua prosaica peregrinação. Na província de Ch’u, onde, segundo o recente biógrafo de Confúcio, H.G. Creel, o governante se autodesignava wang, rei, Confúcio discutia com ele suas idéias até tarde da noite, e conseguiu finalmente convencer seu anfitrião. A virtude e a administração competente eram a chave do sucesso, e não a ambição pessoal. A cruzada de Confúcio conquistara mais uma vitória. O tédio mais uma vez vencia o barbarismo. Porém nem mesmo esse wang deixou de ser sovina o bastante para oferecer um emprego a Confúcio.
Confúcio contava agora com sessenta e sete anos. Seus contemporâneos, até de menos idade, já estavam aposentados e felizes, e ele ainda tentando iniciar sua carreira. Por fim, os discípulos de Confúcio que viviam em Lu decidiram que a única solução seria convidar o mestre a voltar para casa. Já era tempo para que o mais prático dos filósofos, que por toda sua vida pregara as virtudes de um dia de trabalho honesto, abandonasse de vez a idéia de que ainda seria capaz de viver de uma profissão. Sensatamente, Confúcio voltou para casa e viveu seus cinco últimos anos de vida em Lu. Foram anos melancólicos. Seu discípulo favorito, Yen Hui, faleceu e pela primeira vez na vida Confúcio foi tomado pelo desespero. “Ai de mim, não existe ninguém que me entenda”, desabafou com os discípulos restantes. Passou a acreditar piamente que sua mensagem jamais atingiria as gerações posteriores. Seu filho Peiu também morreu nessa época. Ignora-se quase tudo a respeito da vida de Peiu. Sabe-se apenas que não apresentava nenhuma qualidade excepcional. No entanto, evidências posteriores apontam o contrário. No espaço de apenas alguns séculos mais de 40.000 pessoas na China reivindicaram descendência de Confúcio, o que seria indicativo de uma atividade excepcional por parte do único filho do mestre.
Confúcio passou seus últimos anos lendo, escrevendo e editando comentários sobre os clássicos chineses, o cânone dos trabalhos datando do período em que a China emergiu da Antigüidade. (Os Lun Yu, “Os Analectos de Confúcio”, seriam acrescentados a esse cânone antes de ele ter sido entalhado em pedra, em meados do século III a.C.) Os clássicos chineses abrangem desde os sublimes Chih (Poemas), que incorporam material legendário com detalhes atemporais do cotidiano da vida chinesa da Antigüidade até o misterioso e mal utilizado I Ching (Livro das Mutações), uma intrigante mistura de fetichismo metafísico e insight psicológico. Um livro de caráter divinatório que, de modo semelhante à astrologia da Babilônia, que data aproximadamente desse mesmo período da adolescência humana, apresenta uma estrutura de sabedoria gnômica erguida sobre as bases mais inconsistentes. A natureza inegavelmente esotérica do I Ching é um estorvo para os eruditos confucionistas que insistem na forma de abordagem filosófica estritamente coerente do mestre. Apesar disso não há como negar o fato de que Confúcio dedicou grande parte de sua vida à leitura desse livro, e durante seus últimos anos em Lu escreveu um extenso comentário a seu respeito. Longe de ridicularizar o conteúdo fantástico do I Ching, o comentário inclui até instruções sobre como usá-lo com propósitos divinatórios, atirando pequenas varetas e lendo os padrões por elas formados. Diante disso, não seria de espantar se descobrissem que Hegel era na verdade um bailarino secreto, mas até os filósofos devem ter seus hobbies, e atirar varetas no ar para saber quem vencerá o páreo de Xangai das 2:30 hs. me parece algo totalmente inofensivo.
Confúcio também passou seus últimos anos transmitindo os fundamentos de sua filosofia a seus discípulos. Evidentemente, esta não era exatamente uma filosofia no sentido ocidental da palavra. Os ensinamentos de Confúcio também contêm referências às tradicionais categorias da filosofia: epistemologia, lógica, metafísica e estética; estas, porém, são apenas referências de passagem e não formam sistema algum. Os ensinamentos de Confúcio também esmiuçam o porquê, por exemplo, da preferência pelo gengibre ou do comprimento das camisolas de dormir, sem incluir contudo observações sobre culinária ou uma teoria completa sobre moda. Seja como for, a se julgar pelo período de Confúcio como ministro do crime parece muito provável que ele tivesse teorias bem definidas e bastante radicais sobre moda. Por isso, é bem possível que tenha formulado outras teorias sobre culinária e filosofia que não chegaram até nós.
O elemento-chave dos ensinamentos de Confúcio era simbolizado pelo ideograma chinês jen. Este sinal simbolizava uma mistura conceitual de magnanimidade, virtude e amor pela humanidade. Exprime uma idéia próxima da noção cristã de compaixão e benevolência. Diz-se também que o jen introduziu o zen no zen-budismo. Juntamente com o jen, os ensinamentos de Confúcio destacam as qualidades complementares de te (virtude) e vi (integridade). Na vida cotidiana ele enfatizava a necessidade de li (decoro) e a observância dos ritos tradicionais. Essa observância, no entanto, só era válida com participação ativa. A presença meramente formal apenas refletia algum mal espiritual, tanto no indivíduo quanto na comunidade. O objetivo de Confúcio era produzir Chuntzu (indivíduos superiores) que viveriam em harmonia e na virtude, livres da angústia e do sofrimento. Esses ensinamentos e a instrução espiritual seriam os preceitos da educação da classe mandarim, que administrou a China por mais de dois mil anos. Infelizmente, como todas as demais hierarquias, tornou-se obsoleta. Confúcio previra a necessidade de adaptação à mudança dos tempos. “Os únicos que jamais mudam são os sábios e os idiotas.” No entanto, a advertência de Confúcio não teve grande valia. Talvez seja mesmo este o destino de todo funcionalismo público: ser dirigido por sábios e idiotas.
Finalmente, em 479 a.C., aos setenta e dois anos, Confúcio jazia em seu leito de morte. Seus discípulos cuidaram dele durante o último estágio da doença. Suas últimas palavras foram gravadas pelo discípulo TseLu:
A grande montanha deverá esfarelar-se,
A viga forte se romper,
O homem sábio deverá secar como uma planta.
Confúcio foi enterrado por seus discípulos na cidade de Ch’ufou, às margens do rio Ssu. O templo erguido neste local e a área ao redor foram preservados como sagrados. Por mais de dois mil anos o local recebeu a visita de um número infindável de peregrinos. O hiato atual certamente não passa de um lapso temporário nessa venerável tradição chinesa, estabelecida muito antes do nascimento de Sócrates e Cristo.
A julgar pelas últimas palavras de Confúcio, ele parecia ter plena consciência de sua grandeza, porém preocupava-se com a possibilidade de sua mensagem ser esquecida com o passar do tempo. E tinha toda razão. O confucionismo pode ter sobrevivido por quase dois mil e quinhentos anos, porém sua identidade com os ensinamentos originais do próprio Confúcio fica às vezes difícil de ser detectada. (Assim como é difícil estabelecer uma ligação da Inquisição e da queima dos hereges com a mensagem do homem que proferiu o Sermão da Montanha.) No entanto, a mensagem de Confúcio não foi inteiramente deturpada por seus seguidores. Apenas duzentos anos depois de sua morte, a China viu florescer a dinastia Han, que estabeleceu a primeira grande era da cultura chinesa. Essa dinastia foi na maior parte do tempo dirigida segundo os preceitos do confucionismo, obtendo tanto êxito que prosperou por mais de quatrocentos anos, superando em longevidade a maioria dos outros impérios na China e estabelecendo um exemplo cultural que só poderia ser igualado pelas dinastias posteriores com grande esforço. No Ocidente, Confúcio seria admirado por Leibniz e seu contemporâneo racionalista Voltaire, que declarou: “Respeito Confúcio. Ele foi o primeiro homem que não recebeu inspiração divina.”
Uma evocação vulgar dos ensinamentos de Confúcio nos dias de hoje pode ser encontrada nas artes marciais do Kung-fu, que tem esse nome inspirado no mestre (Kung-fu-tsé) mas nada tem em comum com sua filosofia. Lembranças igualmente adulteradas de Confúcio podem ser detectadas numa aberração recente, surgida no pensamento chinês, que superou os ensinamentos do mestre. O culto à personalidade do presidente Mao Tse-tung, a peregrinação da Longa Marcha e a veneração do Pequeno Livro Vermelho (contendo os “Pensamentos do Presidente Mao”) possuem indiscutível semelhança com o culto edificado em torno de Confúcio (que resultou em seu retrato pendurado nas paredes de cada sala de aula do país), com sua própria marcha peregrinatória em busca de um trabalho político e com a veneração do clássico “Analectos de Confúcio”. Mas tudo isso provavelmente não incomodaria muito a Confúcio. Como ele mesmo afirmava: “Eu sou diferente. Aceito a vida como ela se apresenta.”
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