Henri Durville

O discípulo deve primeiramente abrir os olhos ao espetáculo do mundo criado, do qual cada ser é a imagem de uma realidade superior. Deve adquirir a ciência para possuir mais meios de se aproximar da inteligência infinita e de se aperfeiçoar no conhecimento. Deve colocar este saber tão necessário acima de todas as alegrias materiais e é por isso que deve ser sóbrio, ter aversão ou piedade pelos prazeres materiais que nos dão apenas gozos passageiros e vãos, pagos de um modo muito caro pelo rebaixamento da inteligência. Ao contrário, o conhecimento nos conduz, por alegrias serenas, aos cumes cheios de luzes onde o vulgo não atinge. Quando as paixões são dominadas e quando não resta mais senão a sensibilidade necessária para compadecer-se dos males dos outros, o adepto deve abrir o seu coração, procurar no alto um piloto, um diretor que seja o mestre de sua inteligência mais apurada, mais educada, porque o homem atinge muito dificilmente por si mesmo e por seus únicos esforços esta luz brilhante e pura, que o conduz por caminhos secretos para Deus, desconhecido da multidão, porém que, para o iniciado, faz sentir a sua presença em todas as coisas. Não poderíamos fazer melhor do que citarmos o texto em que Ménard, sutil filósofo quão profundo helenista, soube guardar todo o valor iniciático: "Para onde correis, homens ébrios? Bebestes o vinho da ignorância e, não podendo suportá-lo, já o rejeitais Tomai-vos sóbrios e abri os olhos de vosso coração, senão todos, ao menos aqueles que puderdes. O flagelo da ignorância inunda toda a terra, corrompe a alma encerrada no corpo e a impede de entrar no porto da salvação". "Não vos deixeis levar pela corrente; voltai, se puderdes, ao porto de salvação! Procurai um piloto para vos conduzir às portas da Gnose, onde brilha a luz admirável, livrando das trevas, onde ninguém se embriaga, onde todos são sóbrios e volvem os olhos do coração para Aquele que quer ser contemplado, o inaudito, o inefável, invisível aos olhos, visível à inteligência e ao coração." (Hermes Trismegisto.) O primeiro dever do discípulo é defender-se de sua ignorância. É preciso afastar de si os preconceitos que prejudicam a limpidez da visão e nos obscurecem o entendimento. Nada de paixões más, ódios, ciúmes, que nos fazem a alma pesada e atraem para as regiões baixas aqueles que têm o dever de se elevar para as alturas. O futuro adepto não deve ser escravo de seus sentidos, pois estes são os fatores das ilusões tenazes e das volúpias que corrompem as mais nobres faculdades de espírito. É o que Pimandro exprime nestes termos ao seu discípulo: "Antes de tudo, é preciso rasgar esta roupa que trazes, esta vestimenta da ignorância, princípio da maldade, cadeia de corrupção, invólucro tenebroso, morto-vivo, cadáver sensível, inimigo do amor, ciumento no ódio, túmulo que conduzes contigo, ladrão doméstico Tal é a vestimenta inimiga de que estás revestido, atraindo-te, temendo que o espetáculo da verdade e do bem te façam odiar a sua maldade, descobrir os embustes com que te rodeia, obscurecendo-te o que parece claro, mergulhando-te na matéria, enervando-te em volúpias infames, a fim de que não possas entender o que deves entender e ver o que deves ver."

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