Henri Durville - 10

Sois digno da Iniciação porque, devotado sem esperança de recompensa, estais sempre a vos devotar ainda mais, a pender para todos os desgostos que vos cercarem, a abrir o vosso coração a todas as dores que vos rodearem. Fazeis já parte da grande família dos Sábios — vós, que tendes colocado bem alto o vosso ideal, que compreendeis serdes parte de um grande todo, que estais neste imenso Cosmos como uma estrela submetida à atração por cuja força o Universo é um imenso acorde. Tendes as qualidades que vos são necessárias à vida superior, pois que a virtude vos entusiasma, o heroísmo vos transporta. Sonhais uma era de Justiça e Fraternidade, na qual os males desaparecerão, porque os homens se tornarão melhores pelo desejo constante, igual ao vosso, de virem a ser mais perfeitos, sem o desejo de aparecer e brilhar senão na elevação constante para a Verdade e para o Bem. Sim, podeis caminhar com segurança na senda que vos está traçada, pois que o vosso espírito já agora é reto e nobre, vosso coração puro e ardente, sentindo-vos capaz de resistir aos desfalecimentos. Estais próximo da Iniciação, tendo feito o mais difícil no sentido dela. Vencestes as experiências no segredo de vosso peito. O que esperais agora é doçura e felicidade. Que tereis a esperar? Toda espera em outro sentido será tão nociva a vós quanto espiritualmente à sociedade humana que tem necessidade de vossas forças. Vinde, pois, que a vossa senda está traçada e aberta. De mais a mais compreendeis o papel que tendes gostosamente a desempenhar para aproveitamento de outras mais forças que podeis adquirir. Isso ser-vos-á um grande trabalho, ocupando toda a vossa vida. Que alegria, entretanto, será a vossa! Nunca, um único instante, o odioso tédio daqueles que estão desocupados há de roçar em vós as suas asas. Estáveis à altura da missão que vos é confiada. Senti-lo-eis para avançar e no avançar. Senti-lo-eis, pois que o apelo de quantos sofrem agora chega ao vosso ouvido e a alegria que ides receber, como a que ides espalhar em vosso redor, enche o vosso coração de um dulçor esquisito. Escutai. Em torno de vós elevam-se cânticos sublimes. Vozes sobem e desferem palavras inefáveis. Cai o grande véu e a Natureza está aberta aos vossos olhos como um livro imenso se vos oferecendo. Mas não vos apresseis. Todo o vosso dia não basta para lerdes e compreenderdes esta obra maravilhosa. Procurai somente penetrar os pensamentos íntimos, ler nas entrelinhas e ligar-vos plenamente a estas belezas sempre novas e, portanto, eternas. Neste estudo, tereis uma doçura de que todos os prazeres do mundo não vos dão idéia. Depois das agitações que tendes sofrido, encontrareis a calma absoluta, tão suave como a música. Depois das dúvidas que vos torturaram o cérebro, tendes, enfim, conquistado a certeza. Outrora éreis só na vossa derrota, tal qual um barco sem remadores; agora estais em corrente muito diferente; toda a mágoa se apagou; as horas têm asas; chegou o vosso labor a ser harmonioso e cheio de contentamento. Adquiristes um julgamento mais seguro. Compreendestes qual deve ser a vossa linha de conduta. E porque nada aceitastes a esmo, é necessário que conformeis a vossa ação com o que decidistes. Tendes armazenado forças da Natureza e estas hão de acumular-vos de rejuvenescimento, de juventude; porém, como o sol que e a imagem divina, o iniciado deve espalhar em torno de si as forças que adquirir; e a sua presença, sobretudo entre os que sofrem e gemem, deve ser como uma primavera a produzir um ar puro e alguns raios de esperança. Por isso, algum dos homens vos terá feito sofrer, mas lhe deveis benevolência, pois o mal que alguém vos causou foi a primeira causa de vossa feliz mudança, foi um benefício a provocar o vosso primeiro ato de bondade. Se esse alguém vos fez mal por ser mau, é que a sua iniciação está por se fazer, é que o seu grau de evolução está bem afastado do vosso. Enviai-lhe, então, bons pensamentos, desejai-lhe as melhores coisas. Como o sol, cada iniciado é dócil e meigo tanto para o bom como para o mau. E quem somos nós para julgarmos as faltas de ou trem? Aquele de quem tendes sofrido o mal é uma pobre plantinha raquítica que os vossos raios benéficos devem fazer florescer para o céu. Estas forças que adquiris e espalhais aprendereis ainda a medi-las segundo as necessidades; a dosá-las mais largamente para um, mais parcamente para outro, a fim de dar a todos uma cura na proporção da dor. Quanto é bela e generosa esta obra que vos atrai!

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