“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Henri Durville - 10
Cumpri o vosso dever, subindo à sublime região donde sentis que se vos chama. É lá que vivereis na paz do Direito e da Justiça. Não tereis de fazer esforço para a prática da bondade, da fraternidade para com os que sofrem. À medida que tomais consciência de vós mesmo, a vossa sensibilidade afirmar-se-á, toda a sombra ser-vos-á passada e não passareis senão o que for absolutamente puro e harmonioso, porque vós mesmos resplandecereis de pureza e harmonia.
Sentireis em cima a expansão de vossa piedade descer sobre todos os seres. Toda dor encontrar-vos-á amigável e fraternal, como a vossa dor encontrará em outros toda a amizade e devotamento que desejardes, de que tiverdes necessidade.
Não tereis mais nenhum desejo por essas horas que o profano avidamente procura. Assemelhar-vos-eis ao sábio que se isola do mundo para gozar a paz e dar-se a um trabalho que não mostra o seu saber senão quando convém mostrá-lo a quantos devem praticá-lo. Estanislau de Guaita escreve assim:
" O sábio isola-se na sua ciência e na sua pureza, envolto no burel da virtude serena e repele todos os contactos; porém, cheio de solicitude para com o mundo imperfeito do qual se exilou, ele oculta três quartos do fato de verdade, ocultando-se sob seu manto de monge, o qual prudentemente não deixa filtrar mais do que raios enfraquecidos, fracos como relance de olhos que uma luz ofuscante cegaria. Seu bastão de sete nós — emblema do critério infalível que confere ao iniciado a compreensão do Grande Arcano — seu bastão representa a vara de Moisés, a varinha dos milagres, o báculo do perfeito prelado e é o cetro da unidade, da síntese".
Assim fala Guaita no seu Templo de Satanás e aí demonstra que o isolamento é virtude do sábio, porém que ele deve adotar de antemão a senda que deve seguir, bem diferentemente conforme abrace o Bem ou o Mal. É o arcano 9 do Taro, o Ermitão, que será o Feiticeiro ou o Mago, segundo a orientação adotada desde os primeiros passos.
Se escolheu o Mal, terá por guia o feiticeiro, o louco, cuja solidão se povoa de visões trágicas e malignas e nas regiões que este tem violado, procurará como fim de seus esforços o orgulho, a vingança, o lucro material. Mas, votando-se ao Bem, o guia pode ser o Mago, aquele que é vontade, nas correntes harmônicas das Forças Superiores e submetendo a ambição à sabedoria, vem a ser, em verdade, o Iniciado.
Aquele que compreendeu o seu verdadeiro lugar no mundo, não foi dominado por vis paixões, nem cedeu ao prazer de destacar-se, de provar a sua superioridade sobre os mais; enquanto aquele que tem cedido ao Mal se coloca no plano em que vela ou veda a luz que lhe teria esclarecido a vida, a luz que o Sábio recebe com reconhecimento e diante da qual se humilha para recorrer-lhe os benefícios. Mas o Feiticeiro quis ser negativo e desgraçado porque o poder do homem, quando ele não se apóia sobre as verdades eternas, é destinado a ser vencido pelas forças desencarnadas; e submete-se ao Mal, à Matéria, porque não soube compreender o Espírito dominante, ficando condenado a arranjar-se na terra, enquanto o seu destino luminoso o atrai para o Céu. O defeito da ambição faz-lhe ver tudo mal em volta de si, enchendo-o de ódio e pessimismo, ao passo que o Iniciado, o verdadeiro psiquista que aceita a vida com um otimismo racional, sabendo que podem produzir-se sempre acontecimentos imprevistos da parte de outros que lhe são superiores, esse regulariza-se para o melhor de sua vida e de sua felicidade.
O Iniciado procura construir a cidade ideal onde a felicidade florescerá sob o governo da ordem, enquanto o Mágico, o Feiticeiro, não procura senão destruir um mundo que o não satisfaz porque o seu desmedido orgulho aí não acha o seu lugar, que ele desejaria fosse o primeiro entre os outros. Apela para a força bruta que nunca age senão aos golpes, espasmodicamente, ao tempo que o Iniciado, afastado disso, faz apelo às forças puras, benéficas nas suas contínuas, seguras e poderosas correntes.
Pobre louco — o desgraçado Feiticeiro. Perdeu a noção da verdade.
Escuta palavras vãs que ecos enviam, deformando-as. É a presa das moribundas miragens do deserto. Tanto tem contado com as próprias forças, mas as contingências se apoderam de si, dominando-o afinal.
O sábio, na paz segura de suas próprias forças, está modestamente retirado no seu laboratório. Aí, na prece e no trabalho, eleva-se ele até os grandes elementos e recebe a bela iluminação que o inunda de verdades. Vozes límpidas e doces dizem-lhe palavras que não enganam por não serem o reflexo da loucura, porém, a emanação de leis superiores.
É preciso adquirir discernimento antes de fazer-se apelo às Forças, pois o mal tem as suas lisonjas, como o bem tem os seus atrativos. No seu livro Templo de Satanás, diz Estanislau de Guaita aos curiosos da Magia Negra, que o mal tem a sua poesia e descreve-a poeticamente:
" Do mistério da própria abominação — diz ele — desprende-se um ideal fantástico, atraente, porém funesto ao mesmo tempo, pelo qual muitos deixam seduzir-se. Que os curiosos tomem cuidado, porque está nele o grande perigo das excursões excêntricas no mundo aberto aos caprichos profanos. Quem se aventura sem guia em busca de emoções inéditas, povoa já a senda de sua perdição. Tudo em torno dele conspira contra si e pressagia a sua mina".
Existem seres que inconscientemente se acham de posse destas forças más. Estas forças são movidas por outros seres que não compreendem toda a crueldade das mulheres sedutoras, porém danadas e fatais, que semeiam entre o encantamento e o suicídio. Citamos exemplos em nossa obra Voici Ia Lumière.
Mulheres e homens que conduzem o cetro da fatalidade atraem e fascinam, porém suscitam na inteligência, no coração, nos sentidos, uma perturbação que não é necessária ao amor, sendo pura vertigem. De seu ambiente pesado sobe o apelo brutal da animalidade, a perturbação vertiginosa da inteligência, o desejo desenfreado que põe o espírito em desordem e tira à consciência o seu império sobre os atos de afeição.
É assim que se produzem essas nefastas perturbações do amor, que tanto alteram os fatos da vida e das quais alguns têm querido escapar por meio da morte. Mas aquele ou aquela que tem causado tanta desordem não é, por isso, feliz.
Por um justo retorno, as forças relaxadas nas paixões amorosas encarregam-se elas próprias de vingar-se a si mesmas. O que seduz e o que é seduzido são seres freqüentemente indignos, sem poder de dominar-se no amor mútuo que se dedicam.
Quantos suicídios resultantes desta espécie de choque de retorno. Contudo, felizes destes pobres estafermos humanos quando, antes de terem cumprido qualquer ato irreparável, encontram no seu caminho o psiquista que os faz tornar a si, remetendo-os para melhor senda, restabelecendo o equilíbrio rompido pelas faltas que o vitimariam, levando-lhe a um tempo o perdão e a consolação. (A obra citada, denominada Voici Ia Lumière, contém exemplos típicos).
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