Olha só...

   A eloqüência que atrai por si mesma prejudica as coisas. Assim como é pequenez de espírito querer-se distinguir por maneiras estranhas de trajar, na linguagem o rebuscamento, a procura de expressões originais e de vocábulos pouco conhecidos decorrem de uma ambição escolástica e pueril. Pudesse eu usar sempre e unicamente a linguagem que se emprega nos mercados de Paris! Errava o gramático Aristófanes em criticar Epicuro por causa da simplicidade das palavras, bem como em seus discursos a perfeita clareza da expressão. Imitar alguém em sua maneira de falar é fácil, qualquer pessoa o faz sem esforço; mais árdua é a imitação da inteligência e da imaginação. Em geral quem encontra vestimenta igual pensa erroneamente que tem o mesmo corpo; no qual se engana multo. A força e os nervos não se tomam de empréstimo: enfeites e capas, sim. A maior parte das pessoas que freqüento fala como eu nos Ensaios, mas não sei se pensa do mesmo modo. Os atenienses, diz Platão, falam abundantemente e com elegância: os lacedemônios são lacônicos; os cretenses têm a imaginação mais fecunda do que a linguagem; e são os privilegiados. Zenão dizia que tinha duas espécies de discípulos: uns, a que chamava ‘filólogos’, gostavam de aprender as coisas por si e eram seus preferidos; aos outros chamava ‘logófilos’, e não se importavam senão com as palavras.

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