“Que o seu coração não se torne vaidoso por causa daquilo que sabes. Aconselha-te tanto junto do ignorante quanto do sábio. Porque não se atinges os limites da arte. E não existe artesão que tenha adquirido a perfeição. Uma palavra perfeita está mais oculta que a pedra verde. Encontra-se no entanto junto das criadas que trabalham na mo.”
Henri Durville
O Sábio é um concentrado. Isso é conforme o ensinamento esotérico de todos os tempos.
Calar-se é um dos quatro verbos iniciáticos, é o quarto elemento da Esfinge tal como comentamos na nossa obra Vers Ia Sagesse.
O Sábio é profundo; é concentrado, meditativo e é a reflexão habitual que lhe abre as portas do mundo exterior.
É penetrante, e isso é um dos efeitos da meditação constante; seu pensamento não se limita às aparências, porém, remonta aos efeitos e às causas. É indiferente; absorvido em seus pensamentos, não experimenta nem prazer nem pena pelos elogios nem pelas críticas; a vaidade, que ocupa tantos homens, está morta em seu coração.
Aquele que não é ainda Sábio é como uma coisa que se enegrece; ele está agarrado à matéria e às paixões que dela provêm, como turbilhões perigosos que resultam do choque da onda contra o escolho, e o que esclarece melhor ainda este lado é que o não iniciado é grosseiro como as coisas duras, pesado de matéria.
O Sábio está acima da água turva, isto é, acima da matéria e dos transportes aos quais ela submete aqueles que lhe cedem.
Mas o Sábio tem o poder de impedir a perturbação da água, e aí está justamente o seu papel; aprendeu a criar a Paz e a Calma em seu próprio coração; necessita agora de fazer participar desta Calma e desta Paz. Ele vê os outros como estão presos à matéria; não deve contentar-se em dirigir palavras de piedade estéril, mas ajudá-los a sair da água perturbada, a vencer a matéria que os serviliza, a subir às fontes puras que nada de baixo pode perturbar. Assim, a matéria purifica-se.
O espírito do adepto eleva-se, ao mesmo tempo que seu corpo é purificado por uma ascese apropriada.
O Sábio que está no Céu, isto é, cujo Espírito está desprendido, obteve uma vida longa e é lá no alto que os seus trabalhos merecem a grande paz.
Tal é a Senda. Então é que os outros se agitam sem fim, enquanto o Sábio, que achou o seu caminho, não se expande nem à direita nem à esquerda.
É calmo no sulco que para si traçou. Não procura tornar-se conhecido. Não perde o seu tempo em procurar a glória vã, em ofuscar aqueles que estão em torno dele.
Seu caminho sobe para o Templo da Sabedoria; ele caminha com um passo igual; sempre avança e se eleva, descuidoso daquilo que não é para a assistência de seus irmãos e de sua própria perfeição.
Para aquele que não tem compreendido o sentido da vida, a atitude que ele assume é uma coisa exterior. É assim que se aperfeiçoa tão lentamente. Mas o Sábio toma interesse pela atitude interior que escolheu; quanto menos ele se mostra fora, quanto menos exterior ele é, mais o seu desenvolvimento é perfeito, porque todas as coisas, ou melhor, todas as suas forças são empregadas e ele não despreza nem uma ocasião para atingir o seu ideal, para adquirir um resultado aparente.
Sua vida, luminosa e secreta, conserva a calma que convém ao iniciado, isto é, uma calma perfeita. Ele tem a serenidade dos cumes, das alturas. Assim, não tem necessidade de se renovar, de recomeçar a sua evolução, de tornar a descer para a terra, para a matéria.
Ele terminou com a peregrinação; reuniu os poderes superiores e; se pende para o nosso mundo, é como um pai, como um guia. Ele perde-se em Deus, nas supremas harmonias. Por um modo passivo, por uma submissão perfeita a essas harmonias divinas, consegue eliminar a sua personalidade humana; é naturalmente fundido e como dissolvido na personalidade superior.
Mas como é que o Sábio consegue chegar a este caminho da perfeição, a esta Senda que conduz ao divino, a este Tao? Como entra ele nesta Senda que é o princípio original, a ordem do universo?
O Tao de Lao-Tseu nos ensina nestes termos, traduzidos por Matgioi: A virtude brilhante e superior procura a Senda. A Senda dá a abundância de todas as coisas: posto que o Sábio espere muito tempo aprende a ter paciência porque no seu coração há o espírito, este espírito sendo fiel e reto. No seu coração ele tem esperança porque não se esquece de seu dever. Não se esquece nunca desses nomes. Instruído, dirige e ama a humanidade.
É, pois, desenvolvendo em si mesmo as suas qualidades que o Sábio é admitido a atingir a Senda.
A primeira qualidade que lhe é necessária é a paciência. Esta paciência ele a obtém pelo espírito que, desprendido das contingências, compreende tudo o que lhe falta e se submete às leis que não são mutáveis.
Ele sabe a importância do que lhe é prometido e, mesmo, a espera certa e agradável da recompensa merecida, tendo já a abundância de tudo quanto de antemão renunciou ao desejo.
Obtém pelo coração, dominando as suas impulsividades, e o seu coração cessa então de ser um entrave, um peso inútil; vem a ser para ele um apoio, porque o coração que é livre de cadeias materiais, de ações humanas sente-se tomado subitamente; as asas abrem-se para ele, sustentando-o pela força do ritmo ou dos ritmos perfeitos que fazem evoluir todo o universo.
A esperança é ainda uma qualidade a desenvolver em si mesmo. Esta esperança provém de um espírito reto e um coração fiel. Sabe que tudo neste mundo é harmonia e, cheio de fé, abandona-se à sabedoria do Guia Supremo. Sabe que uma constante justiça é a senhora de todas as coisas criadas; faz tudo o que está em seu poder para que ela se lhe torne favorável por meio de uma existência pura. A esperança nasce no seu coração pelo cumprimento do dever. Um desses deveres é instruir e dirigir os homens.
Mas como vem a ser isso? É Lao-Tseu que nos ensina:
"As formas da Virtude, eis aí a única maneira de ver a Senda. A Senda é a Totalidade eterna e imutável; dentro dela pode-se ver seres sem-número. Ela é eterna e profunda; dentro dela pode-se conceber a essência, esta essência sendo imutável e rígida.
Dentro dela há a continuidade; seu nome nunca passou; ela dá origem a todos os seres, assim como direção e aspiração."
Aqui o ensinamento do Sábio Chinês entra no domínio essencialmente prático. A Senda não se alcança senão pela totalidade prática das virtudes. Esta Senda contém a Totalidade, isto é, ela dá a posse de todas as coisas, de todos os conhecimentos, e este saber unido ao espírito reto que julga e ao coração fiel que age, é, verdadeiramente, a própria Sabedoria. Ela implica que o sábio vê toda a Natureza de um só golpe de vista, como um panorama visto do alto. Os seres, nas suas imperfeições transitórias, não lhe aparecem mais; ele deseja vê-los como os elementos de um ritmo mais perfeito, e a dor, o pecado, a tentação, a falta são, para ele, como notas falsas em uma bela sinfonia.
Tem necessidade de não mais sentir que aqueles que tendem para o fim, como ele mesmo tendeu, sofram e errem. Todas as imagens, todos os seres são fraternais para ele, como fazendo parte de u'a mesma Totalidade. A vida universal descobre-lhe a essência que a criou e a modificou, porque é ela que anima tudo, é ela que faz o ramo da planta estender-se para o sol e o homem para a verdade, para a sabedoria.
E esta descoberta da Senda, se pode ser dirigida, não pode ser feita senão pelo próprio indivíduo.
"Curvado para ser intacto. Reto para ser quebrado. Destruído para ser satisfeito. Oculto para ser novo. Com pouca coisa se conserva; com muitas vantagens, perde-se. O homem perfeito reúne tudo em um conjunto; é o modelo de todos os homens. Não se vê; todavia, brilha. Não se agita; todavia, opera. Não está coagido; todavia, tem méritos. Não é excessivo; todavia, dura muito tempo. Não é agitado, porque os outros não se agitam contra ele. Assim, desde muito tempo, o que era curvado fica intacto. Falar assim, é ensinar os ignorantes. O que é intacto sobe à Senda."
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