Antinomia


Significado de Antinomia

s.f. Contradição entre duas leis, dois princípios.
Oposição, contradição.
Sinônimos de Antinomia

Sinônimo de antinomia: contradição e oposição
Mais sinônimos de antinomia
Definição de Antinomia

Classe gramatical: substantivo feminino
Separação das sílabas: an-ti-no-mi-a

Eliphas Levi

É a confiança dos discípulos que faz a autoridade do Mestre. Se um discípulo duvida da infalibilidade do Mestre não deve ir mais a escola. É a confiança cega dos soldados que faz a força do general. Um soldado que crê que seu general erra, está na véspera de desertar. Os soldados obedientes são a força dos exércitos; os soldados razoadores e refratários são a sua debilidade. Para ser Mestre há que saber fazer-se obedecer. E, para isto, há que magnetizar as multidões.

Lytton

Considere os mais simples elementos do saber comum. Pode cada discípulo converter-se em mestre, somente por meio do seu desejo e da sua vontade? Pode o estudante chegar a ser Newton, apenas por ter comprado uma geometria? Pode um jovem, porque as Musas o i nspiram, prometer-se igualar o Homero? Pode aquele pálido tirano, por mais que registre todas as leis e os pergaminhos antigos e por mais que conte com as armas do seu exército, confeccionar uma constituição menos viciosa, que não venha a ser derrubada, num momento, por um populacho frenético? Quando, naquele tempo remoto, a que me referi, um estudante aspirava à elevada altura que você quis alcançar de um só salto, tinha que se preparar e exercitar-se desde o berço para a carreira que devia seguir. A natureza interna e externa se fazia visível à sua vista, ano após ano, à medida que progredia. Ele não era admitido à ini ciação prática senão quando nenhum desejo terrestre encadeava a sublime faculdade, a que se dá o nome de Imaginação, quando nenhum desejo carnal anuviava a essência penetrante, chamado Intelecto. E, assim mesmo, quão poucos, e isto dos 4melhores, alcançavam o último mistério!Com mais felicidade do que eles chegavam os seus antecessores às santas glórias, cuja mais consoladora porta é a Morte!Zanoniinterrompeu-se, e uma nuvem de tristeza e reflexão obscurecia a sua celestial beleza.- E há, realmente, além de sie Mejnour, outros que pretenderam possuir os mesmos atributos e atingiram os mesmos segredos que você?- Existiram outros antes de nós, mas, agora, apenas nós dois, desse número, ficamos vivendo neste mundo.- Impostor! Você se traia simesmo! Se aqueles outros triunfaram da Morte, porque deixaram de existir?- Filho de um dia! - respondeu Zanoni, com tristeza; - não lhe disse já que o erro da nossa ciência era o esquecimento dos desejos e das paixões que o espírito nunca pode alcançar total e permanentemente, enquanto esta matéria carnal o envolve? Pensa que não é triste renunciar a todos os laços humanos, a toda a amizade, a todo o amor, ou ver, dia após dia, desaparecer da nossa vida os afetos, a amizade e o amor, como se desprendem as folhas da haste? Admira-se de que, com o poder de viver tanto tempo quanto durar o mundo, muitos dos nossos preferiram morrer? Antes deveria admirar-se que existiam ainda dois seres tão fortemente aderidos à terra! Pelo que toca a mim, confesso que o mundo ainda tem atrativos. Tendo eu chegado aos últimos segredos, quando me achava na flor da juventude, a juventude faz brilhar com suas belas cores tudo o que me rodeia; respirar é ainda prazer para mim. A frescura, ao meu ver, conserva-se sempre no semblante da Natureza, e não há erva em que eu não descubra algum encanto, e que não me revele alguma nova a maravilha.O mesmo que sucede com a minha juventude, dá-se com a idade madura de Mejnour; este lhe diria que a vida para ele não é mais do que o poder de examinar; e que, enquanto não tiver esgotado todas as maravilhas que o Criador semeou na terra, não desejará novas habitações onde o seu renovado Espírito possa seguir explorando. Nós somos os tipos das duas essências do que é imortal:a Arte, que goza, e a Ciência, que contempla! E agora, para que esteja contente de não haver chegado a obter os segredos, saiba que a idéia deve estar tão absolutamente despreendida de tudo quanto é capaz de ocupar e excitar os homens, que é preciso viver sem cobiçar, amar ou odiar alguém ou alguma coisa; compreende que, para um homem ambi cioso ou para quem ama ou odeia, aquele poder é inútil. E eu, por fim, ligado pelos mais comuns laços da vida doméstica, em conseqüência da que a minha vista espiritual está obscurecida, eu, cego e sem auxílio, peço-lhe a ti, homem burlado e descontente, peço-lhe que me dirija, que me guie:onde estão a minha mulher e meu filho? Ah! Diga- me, fale! Cala-se? Oh! Veja, agora, que não sou feiticeiro nem espírito malévolo? Eu não posso dar- lhe o que as suas faculdades lhe negam, não posso acabar o que o impassível Mejnour não pôde conseguir; porém posso fazer-lhe outro presente, talvez o mais belo, posso reconciliá-lo com o mundo quotidiano, e estabelecer a paz entre você e a sua consciência.- Você me promete?- Sim; juro-lhe!Glyndon fitou Zanonicom firmeza, e acreditou nele.

Gustavo Le Bon

" Uma raça pode ser comparada ao conjunto das células que constituem um ser vivo. Esses milhares de células têm uma duração muito curta, enquanto a duração do ser formado por sua união é relativamente muito longa. Elas possuem, pois, ao mesmo tempo, uma vida pessoal, a sua, e uma vida coletiva, a do ser de que compõem a substância. Cada indivíduo de uma raça tem, também ele, uma vida individual muito curta e uma vida coletiva muito longa. Essa última é a da raça da qual nasceu, para cuja perpetuação ele contribui, e da qual depende sempre”.

Provérbio comum

" Enquanto há vida, há esperança".

Eliphas Levi

A humanidade está colocada sobre uma escada imensa cujo pé submerge-se nas trevas e cujo cume oculta-se na luz. Entre estas duas extremidades, existem inúmeros degraus.

Eliphas Levi - magnetismo

O magnetismo, no homem, é irradiação e atração físicas, determinadas numa direção pela força moral.

Henri Durville

Se podemos receber dos seres que nos rodeiam, assim como do próprio ambiente no qual vivemos, forças puras, ativas e construtivas, o fato inverso pode ser produzido.

Provérbio hindu

Atrás da flor enrola-se a serpente,

Gustavo Le Bon

Gustavo Le Bon exprime esta verdade procurando estabelecer as leis psicológicas da evolução dos povos:   "O poder de um povo não depende de sua inteligência, mas de seu caráter. A inteligência permite perscrutar os mistérios da natureza e utilizar as suas forças. O caráter aprende a se conduzir e a resistir, vitoriosamente, às sugestões."   Acrescenta algures: " As qualidades do caráter, cujo conjunto constitui a alma nacional de um povo, são formadas pelas lentas acumulações ancestrais: Elas terminam por constituir um agregado muito estável de sentimento, de tradições e de crenças, codificando, através das idades, as necessidades às quais é submetida a vida de cada nação."

Henri Durville

Sobe e adquirirás o poder sem limites. Reinaras sobre o que pode emocionar o ser em todas as suas partes, mas esse poder, ao mesmo tempo perigoso e magnífico, o ocultarás preciosamente e não o confiarás senão a pessoas seguras. É o segredo dos Sábios.

Salomão

" Aquele que é lento na cólera é superior ao mais poderoso, e aquele que governa o seu espírito é mais forte do que aquele que toma uma cidade."

Heitor Durvile diz, no seu Magnetismo Pessoal

" Os pensamentos não nos pertencem propriamente; eles nos são comunicados; vêm-nos de fora e nós os absorvemos, transformando-os segundo os nossos desejos, as nossas necessidades e tendências. Esta verdade se acha justificada por uma locução popular notável. Assim, falando de um estado de coisas determinado, ouve-se muitas vezes dizer: Estas idéias estão no ar, querendo dizer, com isso, que um grande número de indivíduos pensam ao mesmo tempo num assunto idêntico.” " É fora de dúvida que os pensamentos se comunicam de um indivíduo a outro. Assim, na família, por exemplo, se um indivíduo pensa em uma coisa e a anuncia a outro, recebe, muitas vezes, uma resposta análoga a esta: Ora veja, eu pensava nisso e ia falar-te. Se não queremos fazer intervir o acaso — que não existe — é impossível admitir que o mesmo pensamento tenha nascido nos mesmos cérebros ao mesmo tempo; ele desenvolveu-se em um, para se transmitir ao outro, através do espaço."

Henri Durville

O Iniciado deve conservar-se sempre senhor dos seus desejos, de suas emoções, de seus pensamentos. — Necessidades de nos educarmos. — Os ritmos superiores e como percebê-los. — Senhor de si mesmo, o Iniciado tornar-se-á facilmente senhor dos outros. — A polarização voluntária de nosso magnetismo. — Os altos poderes do Adepto. — O segredo dos Sábios.   O pássaro que acaba de deixar o ninho, sente, de repente, diante de si, a grandeza de seu domínio. Parece-lhe que essa extensão azul, que não tem limites, lhe pertence, e que as forças que ele vai desprender são tão vastas como a imensidade do céu livre. Lança-se nesse azul em um arrebatamento de alegria tumultuosa; sente que as suas asas são fortes, que a resistência do ar é antes um apoio do que uma causa de esforço; sua alegria o transporta; lança ao ar o seu canto embriagado; acompanha-o uma doce melodia na sua ascensão para o sol; todo o universo não é para ele senão luz, música e prazer.

Henri Durville

Segundo Descartes, o pensamento é o atributo essencial do espírito; melhor ainda: é a sua própria vida. Sem o pensamento, o consciente e o inconsciente seriam como o corpo sem. força vital; seriam como se não existissem.

Henri Durville - sobre temperamentos

Esta situação seria inquietante se não fosse possível reagir contra o nosso temperamento e se devêssemos submetê-lo durante todos os anos que nos é dado viver neste mundo. Felizmente, se devemos considerar cada temperamento como um estado mais ou menos durável de um desequilíbrio, não o devemos ver senão como um fundo hereditário que nos predispõe a tal ou tal categoria de fenômenos, sem nos constranger, todavia, com o rigor de uma lei. O temperamento nos deve aparecer como uma predisposição doentia que corresponde não somente aos nossos próprios desvios de regime e de conduta, porém, mais ainda, às faltas que foram cometidas pelos nossos ascendentes e que nos foram transmitidas com o seu sangue. De erros em erros, o homem está afastado da Natureza; abre a porta a todos os desequilíbrios pela má direção que impôs à sua vida. Primeiramente, no ancestral em quem a saúde começou a enfraquecer, a intoxicação aparece, benigna muitas vezes, a menos que não tenha tomado cuidado; porém a higiene defeituosa não cessou por isso; do contrário, o luxo e o bem-estar cresceram na família, aí criando novas necessidades; o que era intoxicação passageira passou a ser tara transmissível aos descendentes. E esta tara que herdamos que constitui o temperamento e que dá à nossa pessoa e aos nossos pensamentos todas as formas e tendências que descrevemos. O Dr. Gastão Durvil e diz, a esse respeito, em sua Cura Naturista, e muito judiciosamente: " Cada um dos temperamentos me aparece nitidamente como sendo a conseqüência da vida antinatural entre os ascendentes; contém as suas taras sob a forma de predisposições doentias; contém um mundo especial de defesa, um modo de adaptação contra essas taras". O temperamento é, pois, posto que inato, uma coisa anormal que deve ser disciplinada e combatida; devemos considerá-lo como uma predisposição doentia e nos esforçamos por diminuir os seus efeitos. O Dr. Gastão Durvil e acrescenta na obra já citada: " O temperamento, pelo fato de ser um modo de resistência à enfermidade e um terreno predisposto a certa variedade de misérias, é por si mesmo, uma verdadeira doença. Porque a doença deve ser considerada como um esforço que tenta a natureza para restabelecer o seu equilíbrio perturbado. O temperamento é o terreno orgânico sobre o qual evolucionam todas as nossas moléstias; é dele que depende a nossa resistência para os micróbios, é ele que Indica, antecipadamente, quais os órgãos que devem estar doentes antes de outros, é ele que edifica os traços gerais da nossa mentalidade e marca a duração aproximativa da nossa vida". (Cura Naturista, pág. 95).   É, pois, necessário combater o temperamento e temos possibilidades para isso. Podemos sempre vir a ser menos nervosos pela cultura da nossa personalidade psíquica. No que concerne aos quatro temperamentos constituídos sobre base orgânica (linfática, sangüínea, biliosa e atrabiliária) podemos sempre melhorá-los, curar ao menos parcialmente o que há de defeituoso nas suas tendências, por meio de um regime apropriado. É um fato que não poderia ser posto em dúvida. Em nosso Curso de Magnetismo Pessoal indicamos a linha de conduta que cada um deve seguir, tanto sob o ponto de vista psíquico, como sob o ponto de vista orgânico. Indicamos essa obra aos nossos leitores que estão desejosos de mais amplos detalhes a respeito. Na sua Cura Naturista, o Dr. Gastão Durvil e retomou a questão sob outro ponto de vista e chegou aos mesmos resultados; indica cuidados e um regime para combater cada temperamento, reformar as suas predisposições e, por esse meio, chegar ao equilíbrio, sem o qual não há saúde durável.

Eliphas Levi

As mulheres irradiantes são as inspiradoras ou os flagelos dos homens débeis e as mulheres absorventes são as Dalilas dos homens fortes.

Eliphas Levi

Um homem sem paixões não é nunca um magnetizador; porque não um foco de embriaguez; pode acalmar, porém não excita. Os verdadeiros apóstolos da razão jamais fizeram prosélitos; a vantagem que tem sobre os demais é que, se não arrastam a ninguém, ninguém tampouco os arrasta.

Henri Durville - as quatro fases do Henriquenem na natureza

Resumindo, diremos, pois, que o linfático representa a infância, a primavera; que o sangüíneo corresponde à juventude, ao estio; que o biliário tem as características do outono e da idade madura; e que o atrabiliário apresenta os sinais da velhice e do inverno.

Henri Durville

Estais em condições de não querer senão aquilo que vos for realmente útil e isso não vos será recusado. Não duvideis! A vida tem reações com as quais aquele que pagou a sua dívida tem o direito de contar. Não acrediteis que a vossa mágoa possa ficar indelével. Que seria um mundo lamentável onde o inverno fosse eterno? O pensamento mais pessimista não chega a esta imagem. As mais desoladas, as mais desertas regiões têm uma primavera cheia de doçura e o edelweiss desdobra a sua estrela de veludo branco à margem das neves eternas. Se assim é, se a mais humilde flor pode dar um doce sorriso no deserto de gelo, por que recusaríeis a vida que vos conduz para o sol, para as regiões radiosas onde floresce a rainha das Rosas? Isto se torna mais fácil para vós que conheceis a causa do vosso mal, para vós que podeis prever e evitar as armadilhas mais sinistras. Subi com calma para os cimos cheios de luz, vós para quem o Verbo embalsama as flores. Visitou-vos uma esperança indefectível. Acolhei-a como uma amiga. A sua voz melodiosa canta para vos guiar sobre o vosso caminho, para vos dirigir para os bens que não podíeis imaginar, diante dos quais tudo o que vos agradou paracer-vos-á cinza e poeira. A primavera de uma felicidade sem mácula é levada ao vosso coração. Procurai-a, cheio de confiança. O direito à felicidade brilha para todos os seres; não vos será recusado.

Henri Durville

Ides entrar no Círculo iniciático. Lá somente sentir-vos-eis bem' e podereis trilhar a única estrada para a qual sereis atraído. Lá está a Senda que conduz à Perfeição e, desde o instante em que a perfeição vos parece ser o objetivo da vida, todo o vosso ser se sente atraído para o meio mais propício à sua expansão. Vossos irmãos esperam a vossa vinda. Alguns são mais adiantados do que vós e estareis junto deles como um irmão mais novo. Aproveitareis da sua força, da sua doçura, de sua sombra. Sofrestes em um solo árido, entre a multidão malvada, e essa frescura ser-vos-á doce. Permutarão convosco a confidencia de seus trabalhos e as palavras de sua amizade serão para vós o canto dos pássaros na floresta cheia de sombra. Olhai em torno de vós, com olhos fraternais e, como na floresta vistes o lento e paciente trabalho de tudo o que vive, das formigas que unem as suas forças para o arrastar de um grão aos seus celeiros subterrâneos, sentireis que tudo trabalha e que esse trabalho é abençoado, porque está conforme com a Lei universal, que faz de cada ação isolada uma parcela do Trabalho total.

Henri Durville

Não edifiqueis nunca as vossas alegrias sobre a dor de outrem! O único sofrimento que pode e deve ser aproveitado é o vosso, quando o aceitais voluntariamente. O pássaro, porém, inocente, tem necessidade de voar no espaço; a flor tem necessidade da haste que faz elevar ao seu frágil coração todas as seivas da terra. Se fazeis do pássaro um escravo e da flor um cadáver, tereis mais prazer? A flor tem necessidade de vir a ser fruto para espalhar a vida e tudo aquilo que sofre violência não pode conhecer senão a morte. E, se não tendes o direito de dispor da flor nem do pássaro, com que direito dispondes dos seres humanos? Tendes outra coisa além dos deveres para com os objetos de vossa ternura? A flor e o pássaro têm de cumprir o ciclo de sua evolução. Os seres que vos estão submetidos esperam de vós a direção e o apoio que pedis aos vossos irmãos. Auxiliai toda criatura a atingir a perfeição, não segundo o vosso desejo, mas segundo a sua própria natureza. Se cada a criatura tem necessidade de vós, cada um vos dá um exemplo.

Henri Durville

O pássaro que paira longe do solo ensina-se a abrir as asas do espírito, a vos desprender da matéria, a fugir de toda cupidez, para não procurar senão o Absoluto, único fim dos desejos de um Iniciado. A árvore da floresta dar-vos-á o exemplo dessa alta Fraternidade. Ela não olha quem se deita sob a sua sombra antes de esparzir os seus úmidos perfumes. Abriga mesmo o lenhador que a abaterá. Vede como a árvore se faz doce para o fraco ninho que embala. Sede doce para com o fraco; socorrei todo infortúnio. Fazei-o materialmente, se vos é possível. Se não, tende sempre uma palavra consoladora que possa soerguer os ânimos, palavras que levem a Doçura e a Paz aos corações mais cansados e mais perturbados. Que a vossa Iniciação renove a vossa vida. Começai um novo ciclo, porém em condições bem diferentes de toda a vossa vida passada. Não estais mais só e haveis sofrido vitoriosamente experiências que vos deram o sentimento consciente de vossa força. Estais agora semelhante ao metal que passou pela forja; semelhante ao grão selecionado que não pode dar senão plantas escolhidas. A vossa Iniciação não vos despertou para uma satisfação pessoal, mas para que vos torneis uma força benéfica em toda ordem interior ou social. Sois a árvore que vai dar folhas e frutos para todos! O céu de primavera é, por vezes, ainda obscurecido pelas nuvens imprevistas. Esperai ainda, esperai e trabalhai. Em breve, os raios se farão mais quentes e o sol mais imperioso. Vereis o céu sem nuvens. Todas as flores expandir-se-ão na Natureza em festa. Então o vosso Espírito, em plena posse de todos os seus poderes, conhecerá o esplêndido Verão. A grande comunhão do Sol, da Natureza e da Vida achará na vossa alma a sua expansão completa. Como as névoas da primavera, as vossas últimas dúvidas fugirão ao esplendor da Luz. Marchai na vossa Vida, novo Iniciado, meu irmão! Escolhestes este caminho. Estais afastado das estradas batidas. Não sois mais esse escravo que os redemoinhos da torrente arrastava, quando se quebravam em escuma inútil. Canalizastes a vossa força. Vencestes às paixões e os interesses mesquinhos. Escolhestes a Luz e, sem cessar, vós elevais para ela. Imitai a arvore que escolhestes para modelo. Não renuncieis a nenhum desses laços que vos enraízam fortemente aos vossos deveres. Mas, com todo o arrebatamento de vossas forças, estendei os braços para as altas Esferas onde brilha a verdade eterna Lá na Harmonia Universal, banhareis a vossa alma na fonte mística é real que esparge até nós a Força, a Alegria e a Saúde.

Lytton

Ah! Jovem caldeu! Jovem nos seus inumeráveis anos,- Jovem como quando, insensível ao prazer e à beleza, habitava a velha Torre do Fogo, escutando como o silêncio das estrelas lhe explicava o último mistéri o que desafia a Morte, teme a Morte agora, finalmente? Não é o seu saber mais do que um círculo que torna a trazê-lo ao ponto onde começou a sua jornada? Gerações após gerações desapareceram desde que nós dois nos encontramos. Olha! Estou outra vez diante de ti!- Mas eu o olho sem medo! É verdade que têm perecido milhares de homens ao avistá-lo; é verdade que onde os seus olhos irradiam o seu fogo, deitam abomináveis venenos no coração humano, e a 9sua presença sepulta o infeliz que você sujeita à sua vontade, nas espirais de uma alucinação, ou o leva ao negro calabouço do crime e do desespero; porém, comigo o caso é diferente:não é meu vencedor, mas é meu escravo!- E como tal o servirei! Manda ao seu escravo, ó formoso caldeu! Escuta os gemidos de mulheres! Ouve os agudos gritos da sua amada! A Morte entrou no seu palácio! Adonainão comparece à sua voz. Os Filhos da Luz Celeste descem aos humanos somente quando nenhuma sombra de paixão e da carne perturba o olhar da Serena Inteligência. Porém, eu posso ajudá-lo! Escute!E Zanoniouviu distintamente no seu coração, apesar da distânci a, a voz de Viola que, em seu delírio, chamava pelo esposo amado.- Oh! Viola, eu não possa salvá-la! - exclamou o vidente, com voz angustiada; - o amor que lhe professo me desarmou!- Não é assim, - disse-lhe a horrível aparição; - eu posso conceder-lhe o meio de salvá-la. Eu posso pôr em sua mão o remédio que lhe dará as necessárias forças para vencer a crise e viver!- O seu remédio salvará ambos, a mãe e o filho?- Sim! Zanoniestremeceu; uma grande luta deu-se no seu íntimo, depois da qual sentiu-se débil como uma criança:a Humanidade e a Hora venceram o seu espírito.- Cedo! Salve a mãe e o filho! - exclamou, por fim.No obscuro quarto, estava Viola na cama, nas mais agudas agonias do parto; a vida parecia esgotar- se com os gritos e gemidos que, no meio do delírio, revelavam seus sofrimentos; e sempre ainda, nos gemidos e gritos chamava o seu querido Zanoni. O médico olhou o relógio; o Coração do Tempo batia com sua tranqüila regularidade, o Coração que nunca simpatizou com a VIDA, nem se abrandou ante a Morte.- Os gemidos estão cada vez mais fracos, - murmurou o médico; - em dez minutos, tudo terá acabado.Insensato! Os minutos riem de ti; a Natureza, neste mesmo instante, como o céu azul através de um templo arruinado, sorriatravés do torturado corpo. A respiração torna-se mais calma e regular; a voz do delírio se cala e um doce sono reparador se apodera de Viola. É um sonho ou é uma realidade que a sua alma vê? Parece-lhe, de repente, que está ao lado de Zanoni, e que a sua cabeça ardente se apoia ao peito do esposo; parece-lhe que, enquanto ele a contempla, os olhos do seu amado dissipam as dores que dela se apoderaram, e que o contato da sua mão refrigera a sua testa, tirando-lhe a febre. Viola ouve a voz do esposo que murmura, é uma música que afugenta os inimigos. Onde está a montanha que parecia oprimir as suas fontes? Esse peso cruel desaparece como um vapor açoitado pelo vento. No meio do frio de uma noite de inverno, vê aparecer o sol, sorridente, no céu sereno, ouve o murmúrio das verdes folhas; o belo mundo, os vales, as correntes e as florestas se apresentam à sua vista e parecem dizer-lhe, numa linguagem natural: --Ainda existimos para ti!-- Homem de drogas e receitas olha o seu vaticínio! Olha o relógio:o primei ro continuou andando e os minutos se sepultaram na Eternidade; a alma, que a sua sentença teria despedido, permanece ainda nas praias do Tempo.Viola está dormindo; a febre cede; as convulsões não se repetem; a rosa viva torna a florescer na sua face; passado a crise! Homem, a sua mulher vive! Amante, o seu universo não é solidão! Coração do 9Tempo bate! Um momento mais, um pequeno instante, e que alegria! Que alegria! Pai, abraça o teu fi lho!

Henri Durville

A morte abre as portas do desconhecido e da morte nascerá a vida para o princípio de um novo ciclo.

Lytton - Aurel. Prud. contra Symmachum, lib. II

O Eterno dá coisas eternas; o mortal colhe coisas mor mais;Deus, o que é divino; e o homem mortal, o que é perecedouro".

Henri Durville

Vimos, nos capítulos precedentes, que as etapas percorridas pelo ser humano no curso da sua peregrinação terrestre podem ser comparadas às quatro estações do ano solar: A Infância tem os arremessos e as incertezas da Primavera; A Juventude tem os ardores, os arrebatamentos e os furacões do Estio; A Idade Madura goza dos frutos e das vindimas do Outono; A Velhice tem sua semelhança com a fria paz do Inverno. Encontramos esses quatro estágios nas três manifestações da atividade humana, no ciclo vital, no ciclo cerebral, no ciclo sentimental e vimos que cada ciclo tem sua primavera, o seu estio, o seu outono e o seu inverno. Verificamos, porém, ainda, que os três ciclos evolucionam raramente com simultaneidade. Um é jovem de corpo e já esgotou a sombria velhice da dúvida e tem o espírito de um velho. Outro envelheceu pelo trabalho, sofre os primeiros incômodos da velhice, sente-se sentimentalmente jovem e sofre com a desproporção entre o seu aspecto físico e as aspirações de um coração. A proposição inversa é também verdadeira e vemos moços com o coração embotado e velhos em corpos juvenis. Não mostramos aqueles que, jovens na vida material e social, são vistos envelhecer prematuramente no ciclo cerebral, e se sentem deprimidos e abatidos; aqueles cuja vida sentimental inutilizou o estágio físico e que se vêm estragados, desiludidos e mortificados desde a sua mocidade; que necessidade existe para eles de perfazer um novo ciclo! Nada lhes será mais fácil. Então, a Fé ardente é para eles o mesmo que o Sol cheio de vigor é para a Natureza. Quando o Sol, finalmente vitorioso da neve e da chuva, irradia sobre o mundo encantado, tudo revive, tudo renasce! As plantas que estavam adormecidas sob a frieza pesada da terra retomam o impulso; os pássaros, de volta novamente de seu longínquo exílio ou despertos de seu torpor hibernai, restabelecem com cuidado o seu ninho e recomeçam galhardamente as suas canções.

Eliphas Levi

O espírito da verdade explica tudo e não destrui nada. Explicar é transformar. Na natureza tudo se transforma, nada se destrui; o mesmo acontece na religião.

Henri Durville

Mas, o carvalho é quase eterno, enquanto as flores da macieira estão já quase esquecidas. Assim a vossa alma, pela pressão da dor, adquiriu uma força nova; ela se fez resistente enquanto pensastes que estava seca. Quisestes resistir à Ilusão e era à Lei que resistíeis, porém, a sua ronda irresistível vos arrasta na imutável e irradiante embriaguez da Vida. O ritmo vos prende e vos ordena; como um feixe de palha, conduzido pelos ventos, cedeis às correntes das Forças eternas. Que sois diante dessas Forças para pensardes em resistir? A esperança reflorescida vos encadeia nos seus perfumes. Cedei à sua opressão e, se temerdes as armadilhas onde já caístes, a mão dos vossos irmãos iniciados lá está para vos sustentar, de acordo com as necessidades a vos serem reveladas.

Eliphas Levi

"Amai-vos uns aos outros" não queria dizer: "Excomungai-vos e condenai-vos uns aos outros".

Lytton

Mejnour afirmava que achava um elo entre todos os seres pensantes, na existência de um certo fluido invisível e onipenetrante, que se assemelhava à eletricidade, mas era diferente das operações conhecidas deste misterioso agente, um fluído que ligava um pensamento ao outro, com a rapidez e precisão do moderno telegrafo, e a influência deste fluido, segundo Mejnour, estendia-se ao mais remoto passado, isto é, a todos os tempos e todos os lugares, quando e onde o homem tinha pensado. Se, pois, esta doutrina era verdadeira, todo o saber humano se tornava atingível por meio de um --médium" (isto é, um objetivo intermediário), estabelecido entre o cérebro de um pesquisador i ndividual e as mais longínquas e obscuras regiões no universo das idéias. Glyndon admirou-se de ver que Mejnour era adepto dos abstrusos mistérios, que os pitagóricos atribuíam à oculta ciência dos números.Porém, o jovem observava que Mejnour reservava para si o segredo das experiências que o admirado discípulo, guiado por ele, executara, assim como o últi mo e breve processo aplicado em cada uma destas experiências ficava incompreensíveis para Glyndon; e, quando este fez ao místico esta observação, recebeu uma resposta mais dura do que sati sfatória.- Pensa - disse Mejnour - que eu entregaria a um mero discípulo, cujas qualidades não estão ainda provadas, poderes que transformariam a face do mundo social? Os últimos segredos se confiam somente àqueles de cuja virtude o Mestre está convencido. Paciência! O trabalho é o grande purificador da mente; e os segredos se revelarão, pouco a pouco, por simesmos, à sua mente, à 5medida que ela for se tornando mais apta para recebê-los.Por fim, Mejnour declarou ao seu discípulo que estava sati sfeito com o adiantamento deste.- Aproxima-se, agora, a hora - disse-lhe - em que poderá transpor a grande, porém aérea barreira, e em que poderá enfrentar o terrível Guarda do Umbral. Continua trabalhando, continua dominando a sua impaciência para saber os resultados, até que possa sondar as causas.

Eliphas Levi

há necessidade de luz, de razão, da ciência da natureza que e a mesma lei de Deus e para que tenha tudo isto deve desprender-se das tradições do farisaísmo moderno e das trevas da falsa teologia; deve ser visitada pelo espírito da inteligência, pelo espírito da ciência, pelo espírito do bom conselho que invocas em vossa liturgia; "veni creator spiritus"! O SACERDOTE — Este espírito não é o dos praticantes da magia. ELIPHAS LEVI — É dos magos que vieram do Oriente, guiados por uma estrela. Não julgues, padre, o que não conheces e se queres criticar-me razoavelmente, 1ê; primeiro os meus livros.

Henri Durville - sobre o ensinamento de Moisés

A tradição oral, confiada primeiramente aos 70 discípulos, continuou muito tempo assim, sem a intervenção de qualquer escrito. Não foi senão ulteriormente que estes ensinamentos secretos foram conhecidos em várias obras, das quais as mais importantes são o Sépher Jezirah ou o livro da Criação e o Zohar ou livro dos Princípios.   164 A leitura destas obras é árdua e pesada, porque tudo é mistério, mesmo as explicações que se esforçam em elucidar esta linguagem infinitamente abstrata. Haveria, entretanto, uma chave para estes mistérios e todos os ocultistas são de acordo em dizer que havia um sentido esotérico da maior beleza e de um grande alcance filosófico. Infelizmente, o conhecimento deste sentido místico não pode ser obtido senão depois de longos trabalhos, o que não é fácil ser empreendido por toda gente. Um mestre do pensamento esotérico moderno, Eduardo Schuré, diz em relação ao sentido esotérico do Gênese:   "Nenhuma dúvida existe, dada a educação de Moisés, que ele escreveu o Gênese em hieróglifos egípcios em três sentidos. Confiou a chave e a explicação oral a seus sucessores. Quando, no tempo de Salomão, traduziu-se o Gênese em caracteres fenícios e quando, depois do cativeiro de Babilônia, Esdras o redigiu em caracteres aranianos caldáicos, o sacerdócio judeu não manejava as chaves senão imperfeitamente. Quando vieram, finalmente, os tradutores gregos da Bíblia, estes não tinham senão uma fraca idéia do sentido esotérico dos textos”. "São Jerônimo, apesar de suas sérias intenções e seu grande espírito, quando fez a sua tradução latina segundo o texto hebreu, não pôde penetrar até o sentido primitivo; e, tendo-o conseguido, teria de calar”.   165 "Então, quando lemos o Gênese nas nossas traduções, não temos senão o sentido primário e inferior”. "Apesar da boa vontade, os exegetas e até os teólogos, ortodoxos e livres-pensadores, não viam o texto hebraico senão através da Vulgata. O sentido comparativo e superlativo, que é o sentido profundo e verdadeiro, escapa-lhes”. "Não fica menos misteriosamente oculto no texto hebreu que mergulha, por suas raízes, até a língua sagrada dos templos, refundida por Moisés, língua em que cada vogal, cada consoante tinha um sentido universal, em relação ao valor acústico da letra e o brilho da alma do homem que a produz”. "Para os intuitivos, este sentido profundo salta algumas vezes como uma centelha do texto; para os videntes, reluz na estrutura fonética das palavras adotadas ou criadas por Moisés: sílabas mágicas em que o iniciado de Osíris vasou seu pensamento, como um metal sonoro em um molde perfeito”. "Pelo estudo deste fonetismo que leva a marca da língua sagrada dos templos antigos, pelos chefes que nos fornecem a Cabala e de que alguns vão até Moisés, enfim, pelo esoterismo comparado, é-nos permitido hoje entrever e reconstituir o Gênese verdadeiro”. "Assim, o pensamento de Moisés sairá brilhante com o ouro da fornalha dos séculos, das escórias de uma teologia 166 primária e das cinzas da crítica negativa." (Os Grandes Iniciados.)

Henri Durville - 10

Cumpri o vosso dever, subindo à sublime região donde sentis que se vos chama. É lá que vivereis na paz do Direito e da Justiça. Não tereis de fazer esforço para a prática da bondade, da fraternidade para com os que sofrem. À medida que tomais consciência de vós mesmo, a vossa sensibilidade afirmar-se-á, toda a sombra ser-vos-á passada e não passareis senão o que for absolutamente puro e harmonioso, porque vós mesmos resplandecereis de pureza e harmonia. Sentireis em cima a expansão de vossa piedade descer sobre todos os seres. Toda dor encontrar-vos-á amigável e fraternal, como a vossa dor encontrará em outros toda a amizade e devotamento que desejardes, de que tiverdes necessidade. Não tereis mais nenhum desejo por essas horas que o profano avidamente procura. Assemelhar-vos-eis ao sábio que se isola do mundo para gozar a paz e dar-se a um trabalho que não mostra o seu saber senão quando convém mostrá-lo a quantos devem praticá-lo. Estanislau de Guaita escreve assim: " O sábio isola-se na sua ciência e na sua pureza, envolto no burel da virtude serena e repele todos os contactos; porém, cheio de solicitude para com o mundo imperfeito do qual se exilou, ele oculta três quartos do fato de verdade, ocultando-se sob seu manto de monge, o qual prudentemente não deixa filtrar mais do que raios enfraquecidos, fracos como relance de olhos que uma luz ofuscante cegaria. Seu bastão de sete nós — emblema do critério infalível que confere ao iniciado a compreensão do Grande Arcano — seu bastão representa a vara de Moisés, a varinha dos milagres, o báculo do perfeito prelado e é o cetro da unidade, da síntese". Assim fala Guaita no seu Templo de Satanás e aí demonstra que o isolamento é virtude do sábio, porém que ele deve adotar de antemão a senda que deve seguir, bem diferentemente conforme abrace o Bem ou o Mal. É o arcano 9 do Taro, o Ermitão, que será o Feiticeiro ou o Mago, segundo a orientação adotada desde os primeiros passos. Se escolheu o Mal, terá por guia o feiticeiro, o louco, cuja solidão se povoa de visões trágicas e malignas e nas regiões que este tem violado, procurará como fim de seus esforços o orgulho, a vingança, o lucro material. Mas, votando-se ao Bem, o guia pode ser o Mago, aquele que é vontade, nas correntes harmônicas das Forças Superiores e submetendo a ambição à sabedoria, vem a ser, em verdade, o Iniciado. Aquele que compreendeu o seu verdadeiro lugar no mundo, não foi dominado por vis paixões, nem cedeu ao prazer de destacar-se, de provar a sua superioridade sobre os mais; enquanto aquele que tem cedido ao Mal se coloca no plano em que vela ou veda a luz que lhe teria esclarecido a vida, a luz que o Sábio recebe com reconhecimento e diante da qual se humilha para recorrer-lhe os benefícios. Mas o Feiticeiro quis ser negativo e desgraçado porque o poder do homem, quando ele não se apóia sobre as verdades eternas, é destinado a ser vencido pelas forças desencarnadas; e submete-se ao Mal, à Matéria, porque não soube compreender o Espírito dominante, ficando condenado a arranjar-se na terra, enquanto o seu destino luminoso o atrai para o Céu. O defeito da ambição faz-lhe ver tudo mal em volta de si, enchendo-o de ódio e pessimismo, ao passo que o Iniciado, o verdadeiro psiquista que aceita a vida com um otimismo racional, sabendo que podem produzir-se sempre acontecimentos imprevistos da parte de outros que lhe são superiores, esse regulariza-se para o melhor de sua vida e de sua felicidade. O Iniciado procura construir a cidade ideal onde a felicidade florescerá sob o governo da ordem, enquanto o Mágico, o Feiticeiro, não procura senão destruir um mundo que o não satisfaz porque o seu desmedido orgulho aí não acha o seu lugar, que ele desejaria fosse o primeiro entre os outros. Apela para a força bruta que nunca age senão aos golpes, espasmodicamente, ao tempo que o Iniciado, afastado disso, faz apelo às forças puras, benéficas nas suas contínuas, seguras e poderosas correntes. Pobre louco — o desgraçado Feiticeiro. Perdeu a noção da verdade. Escuta palavras vãs que ecos enviam, deformando-as. É a presa das moribundas miragens do deserto. Tanto tem contado com as próprias forças, mas as contingências se apoderam de si, dominando-o afinal. O sábio, na paz segura de suas próprias forças, está modestamente retirado no seu laboratório. Aí, na prece e no trabalho, eleva-se ele até os grandes elementos e recebe a bela iluminação que o inunda de verdades. Vozes límpidas e doces dizem-lhe palavras que não enganam por não serem o reflexo da loucura, porém, a emanação de leis superiores. É preciso adquirir discernimento antes de fazer-se apelo às Forças, pois o mal tem as suas lisonjas, como o bem tem os seus atrativos. No seu livro Templo de Satanás, diz Estanislau de Guaita aos curiosos da Magia Negra, que o mal tem a sua poesia e descreve-a poeticamente:   " Do mistério da própria abominação — diz ele — desprende-se um ideal fantástico, atraente, porém funesto ao mesmo tempo, pelo qual muitos deixam seduzir-se. Que os curiosos tomem cuidado, porque está nele o grande perigo das excursões excêntricas no mundo aberto aos caprichos profanos. Quem se aventura sem guia em busca de emoções inéditas, povoa já a senda de sua perdição. Tudo em torno dele conspira contra si e pressagia a sua mina".   Existem seres que inconscientemente se acham de posse destas forças más. Estas forças são movidas por outros seres que não compreendem toda a crueldade das mulheres sedutoras, porém danadas e fatais, que semeiam entre o encantamento e o suicídio. Citamos exemplos em nossa obra Voici Ia Lumière. Mulheres e homens que conduzem o cetro da fatalidade atraem e fascinam, porém suscitam na inteligência, no coração, nos sentidos, uma perturbação que não é necessária ao amor, sendo pura vertigem. De seu ambiente pesado sobe o apelo brutal da animalidade, a perturbação vertiginosa da inteligência, o desejo desenfreado que põe o espírito em desordem e tira à consciência o seu império sobre os atos de afeição. É assim que se produzem essas nefastas perturbações do amor, que tanto alteram os fatos da vida e das quais alguns têm querido escapar por meio da morte. Mas aquele ou aquela que tem causado tanta desordem não é, por isso, feliz. Por um justo retorno, as forças relaxadas nas paixões amorosas encarregam-se elas próprias de vingar-se a si mesmas. O que seduz e o que é seduzido são seres freqüentemente indignos, sem poder de dominar-se no amor mútuo que se dedicam. Quantos suicídios resultantes desta espécie de choque de retorno. Contudo, felizes destes pobres estafermos humanos quando, antes de terem cumprido qualquer ato irreparável, encontram no seu caminho o psiquista que os faz tornar a si, remetendo-os para melhor senda, restabelecendo o equilíbrio rompido pelas faltas que o vitimariam, levando-lhe a um tempo o perdão e a consolação. (A obra citada, denominada Voici Ia Lumière, contém exemplos típicos).

Lytton

Lembre-se, Viola, de quando lhe disse que devia lutar pela luz, apontando-lhe, como exemplo, aquela frondosa árvore?Eu não disse que imitasse a mariposa que, pensando voar às estrelas, caiqueimada pela chama da lâmpada.

Henri Durville

"Um crê que se pode comer tudo e aquele que é fraco na fé não come senão ervas. Que aquele que come de tudo, não despreze aquele que somente come ervas; e que aquele que não come senão ervas não condene aquele que come de tudo; porque Deus o tomou para si”. "Quem és tu, que condenas o servidor de outrem? Se está firme ou se cai, é o seu senhor que deve julgar; mas será firme, porque Deus é bastante poderoso para firmar".

Eliphas Levi

Os livros herméticos como o Apocalipse e as visões de Ezequiel parecem completamente inexplicáveis e é por isso que chegaram até nós.

Lytton - Sandivogius, New Light of Alchymy

Alquimista: - Tu sempre falas em enigmas.Dize-me se tu és aquela fonte de que escreveu Bernardo, o nobre Trevizano?Mercúrio: - Eu não sou aquela fonte; sou,porém, a água. A fonte me rodeia".

Henri Durville - ir com calma

O simbolismo deste ensinamento é que o homem que desejar ser um iniciado não deve confiar demasiadamente em suas próprias forças para atingir à iluminação divina; certamente pode e deve recebê-la quando o tempo chegar, mas deve estar preparado por sérios estudos e começar pelo A. B. C, antes de pedir a chave dos enigmas considerados mais transcendentes. Depois destes estudos, o adepto pode ser confiante nos ensinamentos que lhe serão dados e que, através de todos os conhecimentos humanos, o conduzirão até a astronomia que lhe faz compreender o mundo mais divino que se ergue da ciência, porque a palavra do Salmo é sempre exata: Os céus cantam a glória de Deus. O futuro iniciado deve aprender e apurar-se para estar, enfim, em condições de fazer dois atos que reclamam muito estudo, porque eles nos parecem os mais simples: compreender, usar da nossa inteligência, e sentir, submetendo os sentidos ao sentimento, esta polaridade feminina do espírito.

Henri Durville

Segundo a vossa própria natureza, adaptar-vos-eis mais comodamente a uma ou outra forma; podeis adquirir a estrita perfeição daquele que quer viver no mundo ou, se a vossa natureza é mística, podereis mais ainda, mergulhando-vos na solidão e, escutando as vozes da Natureza e do vosso coração aberto ao Infinito, chamar a iluminação direta que se não recusa ao iniciado. Por toda parte, em torno de vós, cada um de vossos atos, todos os espetáculos que se oferecem aos vossos olhos, tudo vos será um chamamento de ensinamentos iniciáticos. Tudo vos recordará, sem cessar, o fim a que vos fixais. Este pensamento será, para vós, toda uma vida nova e a íntima união do vosso pensamento com o mundo exterior impedirá de vos sentirdes isolado, dando-vos uma doce e harmoniosa embriaguez que apaziguará o vosso coração. Caminhareis, assim, sobre o traço dos grandes iniciados e o caminho servos-á doce, porque tereis sabido adorná-lo com todas as verdadeiras belezas que ele guarda para aqueles que sabem desbastá-lo. Outrora a vossa visão era limitada. Não víeis mais do que a vossa mágoa e a ocasião de vossa mágoa. A vossa própria alegria era tão pessoal que não vos dava as asas que toda a verdadeira alegria pode dar. Agora toda a Terra é um como vosso lar e nela toda a visão vos anima em vossas experiências e vos encanta em vossa alegria, porque as suas expressões vêm a ser acessíveis ao vosso espírito. A medida que vos elevais, o panorama que se desenrola diante de vossos olhos é imenso; é verdadeiramente " todos os reinos do mundo e sua glória" e então podereis escolher a fórmula que dirigirá a vossa vida.

Henri Durville - Villiers de Isle-Adam

"A Cruz é a forma do homem quando ele estende os braços para o seu desejo ou se resigna ao seu destino”. "Ela é o símbolo do Amor, sem o qual todo ato não é fecundo; porque a exaltação do coração se verifica em toda a natureza predestinada. Quando a fronte só contém toda a natureza de um homem, este não é esclarecido senão acima de sua cabeça”. "Então sua sombra ciosa, voltada inteiramente para um plano inferior, o atrai pelos pés para tragá-lo no Invisível”. "Em vez do apaziguamento de suas paixões não é, estritamente, senão o reverso da altura de seus gelados pensamentos. Eis porque o Senhor disse: Eu conheço o pensamento dos sábios e sei até que ponto eles são vãos."

Lytton - Sandivogius

Mercúrio: - Dize-me então, que é o que procurase o que queres obter. Que desejas fazer?
Alquimista: - A Pedra Filosofal".

Eliphas Levi

Tu admites a hierarquia e por conseguinte, a autoridade da Igreja católica romana, o que não te impede em crer diametralmente o contrário do que ela ensina. ELIPHAS LEVI — A harmonia resulta da analogia dos contrários. Toda luz que manifesta uma forma, deve necessariamente projetar uma sombra. Creio na sombra porque creio na luz. A liturgia católica não aplica à Igreja esta palavra da Esposa do Cântico; "Sentei-me a sombra da árvore que amava e saboreei seus frutos?"; não diz ela em seu ofício: "Senhor, protege-nos com a sombra das tuas asas?". A nuvem que guiava os hebreus não era luminosa de um lado e tenebrosa do outro? E quando Deus deixou-se ver, ou seja, compreender por Moisés sob o símbolo da forma humana, não lhe disse: "Passarei em frente a ti e então te cobrirás o rosto; depois, quando tenha passado, olharás e verás o que esta atrás de mim, ou seja, a minha sombra"? Não compreendes esta cabeça de luz e esta cabeça de sombra que são o reflexo uma da outra, nos magníficos símbolos do Zohar e que explicam todos os mistérios da religião universal?

Lytton - Aminto, Acto 1, Scena 2.

Ai de mim! como posso eu achar a outrem,se não posso achar a mim mesmo?"

Lytton

não seise me convém um caráter tão disposto à vingança. Porém, quem possuio verdadei ro segredo, há de poder livrar-se também da vingança de uma mulher e evitar todo perigo!Velhaco! Já medita na possibilidade da traição! Ah! Razão tinha Zanoniem dizer que --quem deita água limpa num copo enlameado, não faz mais do que agitar a lama".

Lytton

O túmulo de Virgílio, situado sobre a caverna de Posili ppo, é venerado em Nápoles, não com os sentimentos que deveriam honrar a memória do poeta, mas com o terror que inspira a recordação de um mago.

Lytton - Hadr. Jun., Emblem. XXXVIL

A difícil sabedoria é cercada de duras rochas"

Lytton

Numa espécie de luta titânica, - os bons sempre em defensiva contra os ataques dos maus. Na atual condição do mundo, o mal é o princípio mais ativo do que o bem e o mal prevaleceriam. É por estas razões que estamos solenemente comprometidos a não participar a nossa ciência senão aos que são incapazes de fazer dela mau uso e pervertê-la, como também baseamos as nossas provas inici áticas em experiências que purificam as paixões e elevam os desejos. E nisto a mesma Natureza nos guia e ajuda; pois ela estabelece terríveis guardiões e insuperáveis barreiras entre a ambição do vício e o céu da ciência superior.

Lytton - Amlnta, Acto II, Scena 2.--Dafne:

M as quem está longe do Amor?Tirai: Quem teme e foge.Dafne: E que vale fugir dele, se éle tem asas?Tirai: O amor nascente tem asas curtas".Quando

Lytton

E, - disse o cavalheiro, voltando atrás, e pondo suavemente sua mão sobre a da jovem - e, talvez, antes que tornemos a nos ver, você terá sofrido, e conhecido as primeiras dores agudas da vida humana, e saberá quão pouco tudo o que a fama pode dar, substituio valor do que o coração pode perder; mas seja forte e não 10 ceda, nem ao que possa parecer tristeza devida ao amor filial. Observe aquela árvore no jardim do seu vizinho. Veja como cresce, curvada e torcida. Algum sopro de vento trouxe o gérmen, do qual ela brotou, à fenda da rocha; cercada de rochedos e edifícios, oprimida pela Natureza e pelo homem, a sua vida tem sido uma contínua luta pela luz, - luz que é a necessidade e o princípio dessa vida mesma:veja como se tem agarrado e enroscado; como, onde encontrava uma barreira, esforçou-se, criando o caule e os ramos, por meio das quais conseguiu elevar-se e pôr-se em contato com a clara luz do céu. Que é o que a tem preservado e protegido contra todas as desvantagens do seu nascimento, e contra as circunstâncias adversas? Porque são as suas folhas tão verdes e formosas como as da parreira que estão aqui, e que, com todos os seus braços, desfruta o ar e o sol, sem empecilhos? Minha filha é porque o instinto, que i mpelia a lutar, porque os esforços que tem feito para alcançar a luz, a levaram a alcançar por fim, essa luz que tanto procurava. Assim, pois, com o coração valente, atravesse os adversos acidentes e as mágoas do fado, dirigindo o olhar i nterno ao sol, e lutando para alcançar o céu; é esta luta que dá saber aos fortes, e felicidade aos fracos. Antes que nos tornemos a ver, você terá olhado mais de uma vez, com olhos tristes e pesados àqueles ramos, e quando ouvir como as aves trinam, pousando neles, e quando vir como os raios do sol, vindo, de esguelha, do rochedo e da cumeeira da casa, brincam com as suas folhas, aprenda a li ção que a Natureza lhe ensina, e lute, atravessando as trevas, para chegar à luz!

Lytton

E julga que a sua existência é melhor e mais elevada do que a dele? - perguntou Glyndon.- Não, - respondeu o sábio. A existência de Zanonié a da juventude; e a minha é a da idade madura. Cultivamos faculdades diferentes. Cada um de nós possuipoderes a que o outro não pode aspirar. Os seus associam-se à idéia de viver melhor, e os meus à idéia de saber mais.- Ouvidizer, realmente, - observou Glyndon, - que dos seus companheiros de Nápoles se notou que levavam vida mais pura e mais nobre, depois de terem entrado em relações com Zanoni; e, contudo, não é para estranhar que ele, um sábio, escolhesse semelhantes companheiros? Como também esse terrível poder que ele exerce à medida do seu desejo, como, por exemplo, o que manifestou na morte do Príncipe de * * * e na de Ughelli, muito pouco se pode conciliar com os sentimentos filantrópicos de quem busca ocasiões de fazer bem.- Tem razão, - respondeu 70 Mejnour, com um sorriso frio.- Semelhante erro comete sempre aqueles filósofos, que se mesclam com a vida ativa da humanidade. É impossível servir a uns, sem prejudicar a outros; é impossível proteger os bons, sem i ndispor-se com os maus; e quem deseja reformar os defeitos, há de descer a viver entre as pessoas que têm esses defeitos, para conhecê-los. Desta opinião é também o grande Paracelso, conquanto se[24] ti vesse equivocado freqüentemente. Pelo que me diz respeito, nunca cometereisemelhante loucura. Eu vivo só para a ciência, e na ciência; não mi sturo a minha vida com a vida da humanidade!Outro dia, perguntou Glyndon ao místico acerca da natureza dessa união ou fraternidade a que Zanoniuma vez se referira.- Julgo que não me engano, - disse o jovem, - suponho que o Senhor e ele pertencem à Sociedade Rosa-Cruz?- Pensa, - respondeu Mejnour, - que não tem havido outras uni ões místicas e solenes de homens que procuram os mesmos fins pelos mesmos meios, antes dos árabes de Damasco terem ensinado, em 41378, a um viajante alemão, os segredos que fundaram a Instituição dos Rosacruzes? Não nego, porém, que os Rosacruzes formavam uma seita que descendia de uma escola maior e mais antiga. Eles eram mais sábios do que os Alquimistas, assim como os seus mestres são mais sábios do que eles.- E quantos existem daquela ordem primitiva? - perguntou Glyndon.- Zanonie eu, - respondeu Mejnour.- Como? Somente dois! - exclamou, admirado, o jovem. - E possuem o poder de ensinar a todos o segredo de escapar à morte?- O seu avô alcançou este segredo; ele faleceu somente porque preferia morrer a sobreviver ao único ser que amava. Sabe, discípulo, que a nossa ciência não nos dá o poder para afastar de nós a morte, se a desejarmos, ou se ela for enviada pela vontade do céu. Estes muros podem esmagar-me, se caírem sobre mim. Tudo o que declaramos que nos é possível fazer é o seguinte:descobrir os segredos que se referem ao corpo humano; saber porque as partes se ossificam e a circulação do sangue se paralisa; e aplicar contínuos preventivos aos efeitos do tempo. Isto não é magia; é a arte da medicina bem compreendida. Na nossa ordem, consideramos como as mais nobres, duas ciências:a primeira é a que eleva o intelecto e a segunda é a que conserva a saúde e a vida do corpo. Porém, a mera arte, pela qual se fazem extratos dos sumos e das drogas que restabelece a força animal e detém os progressos da destruição, ou esse segredo mais nobre, a que agora me limitareia aludir somente, pelo qual o calor, ou o calórico, como o chamam, sendo, como Heráclito sabiamente ensinou, o princípio primordial da vida, pode empregar-se como um perpétuo renovador; esta arte repito, não seria suficiente para a nossa segurança. Possuímos também a faculdade de desarmar e iludir a ira dos homens, desviar de nós as espadas de nossos inimigos e diri gi-las umas contra as outras, e fazer-nos (senão incorpóreos) invisíveis aos olhos dos demais, cobrindo-os de névoa ou de escuridão. Alguns videntes disseram que este segredo residia na pedra ágata. Abaris o localizava em sua frecha. Eu lhe mostrarei, naquele vale, uma erva que produz um encanto mais seguro do que a ágata e a frecha. Numa palavra, sabe que os produtos mais humildes e comuns da Natureza são os que encerram as mais sublimes propriedades.- Porém, - objetou Glyndon - se possuiestes grandes segredos, por que se mostram tão avaros que não tratam de difundi-los? Pois não é verdade que o charlatanismo, ou a falsa ciência, difere da ci ência verdadeira e é indisputável nisto:que esta (a verdadeira ciência) comunica ao mundo os processos pelos quais obtêm as suas descobertas, ao passo que aquela (a ciência falsa, o charlatanismo) gaba seus maravilhosos resultados, negando-se a explicar as causas?- Disse bem, o lógico acadêmico! Mas reflete um pouco. Suponha que generalizássemos i ndiscretamente os nossos conhecimentos entre os homens, não só entre os viciosos, como entre os virtuosos; seriamos os benfeitores da humanidade, ou seriamos o seu mais terrível flagelo? Imagine o tirano, o sensualista, o homem mau e o corrompido, possui ndo estes tremendos poderes:não seria i sto soltar um demônio sobre a terra? Admitamos que o mesmo privilégio seja concedido também aos bons; e em que estado viria parar a sociedade? Numa espécie de luta titânica, - os bons sempre em defensiva contra os ataques dos maus. Na atual condição do mundo, o mal é o princípio mais ativo do que o bem e o mal prevaleceriam. É por estas razões que estamos solenemente comprometidos a não participar a nossa ciência senão aos que são incapazes de fazer dela mau uso e pervertê-la, como também baseamos as nossas provas inici áticas em experiências que purificam as paixões e elevam os desejos. E nisto a mesma Natureza nos guia e ajuda; pois ela estabelece terríveis guardiões e insuperáveis barreiras entre a ambição do vício e o céu da ciência superior.

Lytton

desejaria, talvez, que eu lhe apresentasse sem que para isso estivesse preparado, os maiores segredos que existem na Natureza. Porém, a verdade não pode ser vislumbrada por uma mente que não está preparada para isso, da mesma forma como é impossível que o sol nasça à meia-noite. A mente que quer descobrir a verdade, sem estar devidamente habilitada, recebe a verdade somente para corrompê-la, como bem exprimem as palavras de um homem que andou perto do segredo da sublime Goecia (ou a magia que existe na Natureza, como a eletricidade na nuvem):[15] - Quem deita água num poço lodoso, não faz mais do que turvar a água.-

Lytton

Porém, corno os mais simples problemas, nos mais si mples de todos os estudos, são obscuros para quem não educa a sua mente para os compreender; como o remador daquele barco não pode dizer-lhe por que dois círculos podem tocar-se um ao outro num só ponto, assim, ainda que toda a terra estivesse chei a de gravuras e escritos do mais divino saber, os caracteres seriam inúteis para quem não procura saber o que significa essa linguagem e não medita sobre a verdade. Jovem, se a sua imaginação é vi va, se o seu coração é ousado, e a sua curiosidade insaciável, eu o aceitareipor discípulo. Mas advirto-o que as primeiras lições são duras e terríveis.- Se o senhor as superou - respondeu Glyndon, intrepidamente, porque não poderia eu fazer outro tanto? Desde a minha infância, acompanha-me um pressentimento de que em minha vida me estão reservados estranhos mistérios; e, do ponto onde se acham os limites da ordinária ambição, dirigisempre o meu olhar às nuvens e escuridão que se estendem no além. No instante em que viZanoni, senticomo se tivesse descoberto o guia e o tutor pelo qual a minha juventude em vão tinha suspirado com ardente desejo.- E Zanonitransferiu-me este cuidado, - replicou o desconhecido. - Lá, na baía, está ancorado o navio em que Zanonivaia busca de uma morada mais agradável; não demorará muito o instante em que a brisa se levantará e inchará as velas, e o estrangei ro terá desaparecido ao longe, como um sopro de vento. Porém como o vento, ele deixa depositadas em seu coração as sementes que podem florescer e dar fruto. Zanoniconcluiu a sua missão; ele não é mais necessário aqui; quem há de aperfeiçoar a sua obra, está ao seu lado.

Lytton - Conselho ao iniciado

Diga-me senhor, se pode ler no futuro, diga-me se ela será feliz e se a escolha que fez foi, ao menos, prudente?- Meu discípulo, - respondem Mejnour, com uma voz cuja calma estava em perfeito acordo com as frias palavras, - o seu primeiro cuidado deve ser afastar de sitodos os pensamentos, sentimentos e si mpatias que se dirijam a outros. A base fundamental da ciência é fazer você mesmo o seu estudo e este estudo deve ser agora, somente o seu mundo. Você se 64 decidiu por esta carreira; renunciou ao amor; rejeitou as riquezas, a fama e a vulgar pompa do poder. Que lhe importa, então, a humanidade? Todos os seus esforços devem dirigir-se, de hoje em diante, a aperfeiçoar as suas faculdades e concentrar as suas emoções!- E encontrei, por fim, a felicidade?- Se a felicidade existe, - respondeu Mejnour, - deve encontrar-se num EU, que é livre de toda a paixão. Porém, a felicidade é o último estado do ser; e você se encontra, agora, apenas rio umbral do primeiro degrau da escada que para lá conduz.

Henri Durville

As qualidades morais que são exigidas do perfeito iniciado o designam entre os homens como capaz de operar utilmente sobre a multidão de fiéis, confiados à sua direção. É preciso que o sacerdote seja sóbrio, casto, desinteressado, impenetrável, impassível, inacessível a toda espécie de preconceito ou de terror, impassível e podendo suportar, sem se dobrar na sua fé, todas as contradições e todas as penas. Deve ser digno e reservado, mas delicado para com todos e, embora demonstre benevolência nas suas relações sociais, não deve deixar-se absorver. No físico, ainda que a beleza não seja exigida, e preciso que o sacerdote seja isento de toda a deformidade e que, no seu corpo, como nas suas vestimentas, haja uma limpeza estrita e severa.

Lytton

no que se refere à conduta, o homem do mundo perverte e rebaixa o nobre entusiasmo das naturezas idealistas, pela contínua redução de tudo o que é generoso e digno de confiança, ao trivial e grosseiro. Um grande poeta alemão definiu bem a distinção que há entre a discrição e a sabedoria mais larga, dizendo que nesta há certa temeridade que aquela desdenha. --O míope vê apenas a costa que se afasta, e não aquilo a que a ousada onda o transporta".Entretanto, na lógica do homem prudente e homem do mundo encontra-se freqüentemente um raciocínio a que é difícil opor uma objeção.Há de ter um sentimento, uma fé em coisas que representem o sacrifício de sipróprio e algo divino, seja em religião ou em arte, em glória ou em amor; e se não tem a fé firme, o sentido comum lhe apresentará uma razão que tira ao sacrifício todo o valor, e um silogismo reduzirá o divino a um objeto mercantil.Todos os verdadeiros críticos de obras de arte, desde Aristóteles e Plino, W inkelmann e Vasari, até Reinolds e Fuseli, se esforçaram por convencer o pintor que não deve copiar a Natureza, porém exaltá-la; que a arte de ordem mais elevada, escolhendo só as mais sublimes combinações, é perpétua luta da Humanidade para aproximar-se dos deuses.

Platão - Sócrates respondendo à Agatão

Sócrates então senta-se e diz: - Seria bom, Agatão, se de tal natureza fosse a sabedoria que do mais cheio escorresse ao mais vazio, quando um ao outro nos tocássemos, como a água dos copos que pelo fio de lã escorre do mais cheio ao mais vazio. Se é assim também a sabedoria, muito aprecio reclinar-me ao teu lado, pois creio que de ti serei cumulado com uma vasta e bela sabedoria. A minha seria um tanto ordinária, ou mesmo duvidosa como um sonho, enquanto que a tua é brilhante e muito desenvolvida, ela que de tua mocidade tão intensamente brilhou, tornando-se anteontem manifesta a mais de trinta mil gregos que a testemunharam. - És um insolente, ó Sócrates - disse Agatão. - Quanto a isso, logo mais decidiremos eu e tu da nossa sabedoria, tomando Dioniso por juiz; agora porém, primeiro apronta-te para o jantar.

Henri Durville - a montanha invisível

"Existe u'a montanha situada no meio da terra e no centro do mundo; ela é ao mesmo tempo grande e pequena; é doce além de toda a expressão; é dura e resistente; está muito longe e, entretanto, ao alcance da mão; mas a Providência divina a torna invisível; nela estão ocultos grandes tesouros que o mundo é incapaz de calcular; esta montanha, por malícia do diabo, é rodeada de animais cruéis e aves de rapina que tornam o caminho difícil e perigoso; só aqueles que trabalham por si mesmos podem encontrá-la. "Ide a esta montanha em uma certa noite muito negra e obscura; preparar-vos-eis para esta viagem por longas preces; mas não pedireis conselho a nenhum homem; segui somente o guia que se vos oferecerá”. "Este guia conduzir-vos-á à meia-noite, quando tudo for silencioso e sombrio; armai-vos, então, de uma coragem heróica e resoluta, e dirigir-vos-eis a Deus do mais profundo do coração. Quando tiverdes percebido na montanha o primeiro milagre que se produzirá, será um grande vento que tornará as rochas em pedaços; os leões e dragões ameaçar-vos-ão, mas ficareis firme e não recuareis. Depois da tempestade virá um tremor de terra, depois um grande fogo, que porá o Tesouro a 338 descoberto, mas não podereis ainda perceber. Em seguida, à aproximação da aurora, far-se-á uma grande calma; vereis elevar-se a estrela da manhã e a noite desaparecerá pouco a pouco. Então concebereis um grande Tesouro cuja essência é uma tintura exaltada, com a qual o mundo inteiro, se servisse a Deus, poderia ser convertido em ouro".   Tem-se encontrado já, em diversos lugares, sobretudo nas índias, a alegoria da montanha que conduz ao Templo sustentado por sete colunas como um Tesouro inapreciável. Esta ascensão simboliza a necessidade para o adepto de se elevar acima da matéria, subir a escarpa áspera para deixar as profundezas terrestres e viver na luz pura do Infinito. Na iniciação, esta montanha se eleva no centro do mundo. Efetivamente, se o mundo compreendesse os benefícios, seria o centro da vida social e dirigiria todos os acontecimentos de uma senda harmônica, fazendo de todos os povos uns povos felizes que não possuem história. Mas esta montanha não é revelada senão àqueles que devem abordá-la, porque eles chegaram ao grau da iniciação requerida. Esta montanha é, ao mesmo tempo, grande e pequena. Grande porque seu limite apresenta realmente dificuldades que se imaginam intransponíveis; mas nada é impossível à fé, e a montanha parece pequena, a escarpa torna-se acessível para aquele que a sobe com o único desejo de encontrar a verdade. Ela é doce acima de toda expressão e, no entanto, dura e resistente. Certamente é dura, e é preciso, porque conduz o peso dos séculos e não cede senão depois das experiências necessárias; mas torna-se doce para aquele que a 339 tem galgado quando atinge à contemplação soberana dos bens eternos que ele procurou e mereceu. Ela está longe e, entretanto, está ao alcance da mão. Efetivamente é a nossa ignorância que nos separa do fim de nossas pesquisas. Quando estamos ainda sob o império de nossos sentidos, parece-nos que não poderemos encontrar jamais esta montanha maravilhosa e estamos prestes a negar sua existência; entretanto, quando a hora é chegada, quando os nossos olhos se fixam, a verdade está aí muito perto; não espera senão o nosso esforço para entregar-se. A Providência divina torna-a invisível, e a Providência tem muita razão. Vimos pelos discursos de Mejnour e Zanoni qual seria o perigo de confiar ao primeiro que chegasse os poderes que podem tentar o fraco e levá-lo à prática do mal, utilizando-se de seu poder para fins culpáveis ou simplesmente utilitários. Nesta montanha estão ocultos grandes tesouros. E qual tesouro é maior e mais precioso do que a iniciação? Estes tesouros são tão grandes e tão perfeitos que o mundo não é capaz de os calcular. Ninguém pode conhecê-los antes de estar embrenhado pela senda iniciática e não pode ainda julgar a sua importância senão quando os descobrir. Então, a alegria de uma exaltação divina, retirando-vos de todas as vãs ambições, arrebatar-vos-á mais alto, muito além do que qualquer alegria humana. O que devemos vencer são estas ambições e paixões figuradas aqui pela terrível fauna de animais cruéis e aves de rapina que rodeam a santa montanha. Devemos ser vitoriosos diante de todas as águias e de todos os dragões das nossas paixões mortais, antes de tocarmos o ouro solar. Os próprios primeiros sucessos que podemos alcançar não devem produzir um orgulho insólito. Aquele que começa a tocar a obra iniciática é sempre 340 tentado a acreditar-se um super-homem, destacado da humanidade e superior às suas leis. Eis aí um perigo terrível, porque a queda é mortal e, para o vaidoso que se julgue mestre como aconteceu ao desobediente Glyndon, o encontro com o Guarda do Limiar ameaça lançá-lo no desespero, na loucura e na morte. Só terminam a ascensão aqueles que trabalham por si mesmos. Efetivamente, coloca-se o futuro adepto na senda, mas cada um deve fazer o seu caminho com seus riscos e perigos. É o discípulo que tem o dever de se fazer, de se aperfeiçoar, de adquirir qualidades necessárias à sua iniciação. É um segredo que está conhecido, e o segredo da montanha está também muito próximo da mão, mas é preciso ir à sua procura por si mesmo; é preciso compreendê-lo sem apoio. Ireis a esta montanha por uma noite muito sombria e negra. Certamente, os segredos iniciáticos não são para aqueles que procuram brilhar, mas para aqueles que pedem à meditação as suas luzes interiores, e elas não brilham na claridade e no tumulto da jornada. Não será nas vãs agitações do mundo que podereis tomar consciência do maravilhoso fim prosseguido. É preciso estar preparado por longas preces, mas não é útil pedir conselho a nenhum homem. Aquele que tem a proteção divina, que tem feito por se tornar digno e que, não obstante, tem humilde e longamente pedido, que seriam os conselhos humanos?   341 O que é preciso, é fazer-se a si mesmo, no profundo silêncio, em um grave recolhimento, no servilismo, na paz absoluta de todos os desejos e de todas as paixões. Segui somente o guia que se vos oferecer. Vossa razão vos guiou até aqui e é ela que vos mostrou a excelência desta iniciação tão desejada. Mas, quando estiverdes na senda, um guia se vos oferecerá e é ainda vossa razão, mas uma razão superior, uma intuição sublime que vos fará atingir ao cume desejado. Vosso guia conduzir-vos-á à meia-noite, quando tudo estiver silencioso e sombrio; tomai, então, coragem e dirigi-vos a Deus. E' somente no absoluto recolhimento, quando todos os ruídos forem mortos em vós e em torno de vós, que ousareis tentar a divina aventura. Ainda sentireis o coração apertado de medo. Mas, se vos pu-serdes de acordo com as harmonias superiores, quem poderia atentar contra a vossa serenidade? Caminhai, pois, apesar de vossos receios, sobre a senda que sobe para o Ideal enfim conquistado! Então, vereis grandes coisas. O sopro divino, como um vento impetuoso, fará voar os rochedos em clarões. As vossas antigas concepções fremirão diante da luz ofuscante. Sereis surpreendido, mas não cedereis a esta surpresa. Não voltareis para trás. O novo dia surgirá. Uma grande tempestade e um tremor de terra destruirão em vós e em torno de vós tudo o que restava das vossas antigas idéias, mas o grande fogo do 342 entusiasmo de intuição superior irá subitamente engrandecer diante de vós e encontrareis de repente o tesouro que procuráveis. A estrela da manhã aparecerá; depois virá a aurora e possui -reis este tesouro que tanto desejáveis. Das vossas meditações profundas, como de uma noite sem estrelas, surgirá esta flama que abrasa todo o horizonte, e todas as vossas penas, passadas subitamente, parecer-vos-ão leves. É que o tesouro está em vós; não o soubestes ver, que coisa alguma o tinha feito sentir e que, subitamente, iluminado pela claridade triunfante que não se levanta senão na solidão, tereis encontrado em vós mesmos um reflexo do poder de Deus, um tesouro de forças e de possibilidades que vos elevarão acima de vossas mais soberanas esperanças. Que é que governa os homens? Que é que ofusca o mundo com o seu fausto, quando se sabe ser uma parcela de Deus, participando de sua glória e de seu poder?

Henri Durville

"Disse-vos certas coisas enquanto estava entre vós. Além disso, o Espírito de meu Pai vos ensinará todas as coisas... Falei-vos assim desde o começo, porque eu estava convosco. Agora, volto para Aquele que me enviou. . . e é bom que eu vá; porque se eu não fosse, o Paráclito não viria para vós... Teria ainda muita coisa pura vos dizer; mas quando ele vier, ele, o Espírito de Verdade, dirigir-vos-à para a Verdade santa."

Henri Durville

Ultrapassaremos sem custo a corrente nefasta que ameaça tragar-nos. Ficaremos isolados de toda má ação e conformar-nos-emos plenamente com as leis eternas. É para o discriminamento destas forças boas ou más, para permitir-nos a luta contra as que são desordenadas ou desarmônicas, é ou era para isso que as antigas iniciações impunham ao adepto um longuíssimo estágio de aprendizagem. Antes de fazer compreender ao iniciado qual poderia ser o seu poderio, desejava-se estar seguro de que ele não faria mau uso desse poder; desejava-se que o egoísmo, a cupidez, a luxúria não se enredassem com este poder que se deve confiar a um ser ansioso de purificar-se e dele só se servir para o bem. Estes poderes existem. Que os cépticos o neguem porque os ignoram, que importa? Khunrath personificou a incredulidade por um mocho sempre de óculos e rodeado de fachos com estas palavras eternamente verdadeiras: Nem archotes nem óculos tornam lúcido aquele que não quer ver. E o profano é assim. A idéia de que as forças existem sem lhe render proveito choca a vaidade dele, do céptico, que, aliás, desejaria ser o centro do mundo. E, na sua condição de cepticismo, não vê nem quer ver. E por que desejaria ver, afinal? Ele tem vício, é sensual, escravo dos baixos interesses e, então, desde os primeiros passos de sua iniciação precisaria renunciar aos seus maus hábitos, que, aliás, lhe são caros. Ele não tem senão satisfações materiais e isso lhe basta. Ora, se ele fosse pelo caminho iniciático seria posto em novas idéias, novos meios de ação, de sentido, de percepção, cuja noção própria ainda lhe escapa. Esta mudança seria muito custosa para ele. Antes de submeter-se, preferiria ficar limitado, odiento, incapaz de compreender as forças que correspondem à vontade do adepto. Não tentaria ao menos procurar o bem coletivo; sua única idéia seria uma ressurreição material ou talvez na zona muito restrita que ainda lhe está aberta no domínio do espírito; procuraria elevar-se para abaixar aqueles que lhe fazem sombra, para dobrar aqueles que o cercam, para impor a sua vontade mais absurda, para utilizá-la em meio de suas ambições, assegurando-se, enfim, do poder e do dinheiro, até chegar a todas as alegrias vulgares, até às vanglorias, até ao servilismo dos demais, em seu proveito. Assim, o caminho é duplo. Abre-se a encruzilhada desde o momento em que o conhecimento das Forças é revelado ao futuro Iniciado. É preciso, antes de mais revelação, adquirir a segurança de que a determinação do profano será aquela que deve ser e que ele se determinará a fugir do caminho do Mal, dirigindo-se exclusivamente e para sempre pelo caminho do Bem.

Henri Durville

"Escutastes o que foi dito: Amareis teu próximo e odiareis o vosso inimigo”. "Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei aqueles que vos maldizem, fazei bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos ultrajam e perseguem. "A fim de que sejais os filhos de vosso Pai que está nos céus, porque ele faz brilhar o seu sol para os bons e maus e faz chover sobre os justos e injustos. "Por que, se vós não amardes senão aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os próprios publicanos não fazem o mesmo? "E se não fizerdes senão acolhimento a vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? "Os pagãos não fazem o mesmo? "Sede, pois, perfeitos como vosso Pai que está nos céus" — (Evangelho segundo S. Mateus, cap. V, vs. 43 a 48).   Pregavam também a humildade, mostrando-lhe por vivas imagens que " aquele que se eleva será humilhado."   Certamente, numerosas idéias de seus ensinamentos eram tomadas no ensinamento da Sinagoga. Moisés e seus sucessores tinham ordenado a esmola, porém esta veio a ser ostensiva e, por conseqüência, vã. Prescreveram a piedade, a doçura, o amor da paz, o desinteresse do coração, mas tão belos conselhos caíram no esquecimento. O que fez a força de Jesus é que ele mesmo praticou o que 176 aconselhava aos outros. Aqueles que viviam ao seu lado sabiam que a sua teoria não tinha nada de desarmônica em relação ao seu viver; por isso as suas palavras, ilustradas por seu exemplo, tinham um grande poder de persuasão. Não somente condenava o adultério, mas o desejo voluptuoso era para ele um adultério moral tão importante e culpável como o outro; as segundas núpcias e sobretudo o divórcio eram-lhe também abomináveis. Jesus, ainda que não condenasse nenhum culto e ordenasse àqueles dos quais cuidava que " se mostrassem aos sacerdotes", não sentia a necessidade de um sacerdote como intermediário entre Deus e o homem; não sentia necessidade das práticas exteriores. Se ele ordenava ir ao Templo ou fazer a Páscoa, era para cumprir a Lei, como ordenou entregar a César o tributo que lhe era devido. Tudo isso são práticas, e as práticas podem ter a sua importância, porém só o desenvolvimento do coração é essencial. Deus, que é o único modelo ao qual o homem se deve confortar, é bom em toda parte e com todos. Não faz exceção nem de ordem nem de religião. Que direito seria mais severo senão o de Deus, o único Ser que seja a Perfeição? O que o homem deve fazer é conservar-se bastante elevado e bastante puro para ficar em comunhão constante com seu Pai celestial. Isso feito, se o discípulo, imitando Aquele que É único, se entrega a todos de bom coração, está na senda da perfeição e Deus é o único juiz. Não é senão pouco a pouco e mais tarde, quando a desaparição do Mestre forçou os discípulos a se reunirem em pequenos grupos, que vieram a surgir igrejas e dioceses, que os ritos e mistérios intervieram, mas na divina infância da 177 religião cristã nada disso existia e somente uma inteira efusão do coração se elevava a Deus para se espalhar, em seguida, sobre todos. Estas boas ações, que são recomendadas, devem sobretudo ficar entre Deus e o fiel:   "Quando fazes a esmola, é preciso que a tua mão esquerda ignore o que faz a mão direita, a fim de que a tua esmola fique em segredo, e então teu Pai, que vê em segredo, te recompensará. E, quando orares, não imites os hipócritas, que gostam de fazer as suas orações no fundo das sinagogas e junto dos altares, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo que eles recebem a sua recompensa. Se queres orar, entra no teu quarto, e, tendo fechado a tua porta, ora a teu Pai que está no secreto; e teu Pai, que vê em segredo, te exaltará”. "E quando orares, não faças longos discursos como os pagãos, que imaginam serem exaltados à força de palavras. Deus, teu Pai, sabe de que tens necessidade, antes que lho peças." * Antes de começar a sua pregação, Jesus acreditou que faria bem em se aproximar de João Batista. João, que fazia parte da seita dos Essênios, tinha passado uma iniciação que participava dos Templos do Egito e dos colégios dos profetas.   178 Levava uma vida austera e penitente e as suas prédicas inflamadas, temíveis e poderosas, tinham-lhe suscitado o ódio de Herodes Antipas e, sobretudo, da rainha Herodíade. Desde a sua infância, João havia sido sujeito a certas abstinências e, desde a hora de seu nascimento, fora consagrado a Deus. Sua vida, sobre as margens do Jordão e os lagos da Judéia, era a mesma de um yogi da índia. Vestido de peles de animais ou de um simples pano branco, não se nutria senão de alfarrobeiras4 e mel selvagem. Todos os prazeres eram-lhe desconhecidos. O tempo que não gastava em seu apostolado era consagrado à prece. Em torno dele agrupavam-se alguns homens que partilhavam da austeridade de sua vida e que recebiam as suas palavras. A prática fundamental de sua doutrina comum era o batismo pela imersão completa para purificação do pecado. João, perseguido pelo rei Herodes, havia-se retirado para a Judéia, em um país próximo do Mar Morto. Em certas épocas, aproximava-se do Jordão e geralmente, neste rio, proporcionava o batismo àqueles que vinham para se fazer iniciar em suas doutrinas. Então, uma multidão considerável se comprimia em torno dele e os adeptos se multiplicavam.

Lytton - parte da introdução

Naquele tempo, procureisaber o seu parecer a respeito de uma obra de imaginação, em que eu me propunha pintar os efeitos do entusiasmo nas diversas modificações do caráter. Ele escutou, com sua paciência habitual, o argumento da minha obra, que era bastantè vulgar e prosaica, e dirigindo-se, depois com ar pensativo, à sua coleção de livros, tirou um volume antigo, do qual me leu, primeiro em grego, e em seguida em inglês alguns trechos do teor seguinte:--Platão fala aquide quatro classes de mania", palavra que, a meu entender, denota entusiasmo, a i nspiração dos deuses:Primeira, a musical; segunda, a teléstica ou mística; terceira, a profética; a quarta, a pertencente ao amor".O autor citado pelo meu amigo, depois de sustentar que na alma há algo que está acima do intelecto, e depois de afirmar que em nossa natureza existem di stintas energias, - uma das quais nos permite descobrir e abraçar, por assim dizer, as ciências e os teoremas com uma rapidez quase intuitiva, ao passo que, mediante outras, se executam as sublimes obras de arte, tais como as estátuas de Fidias, - veio dizer que --o entusiasmo, na verdadeira acepção da palavra aparece quando aquela parte da alma, que está por cima do intelecto, se eleva, exaltada até aos deuses, de onde provém a sua i nspiração".Prosseguindo em seus comentários sobre Platão, o autor observa que --uma destas manias" (isto é, uma das classes de entusiasmo) especialmente a que pertence ao amor, pode fazer remontar a alma à sua divindade e bem-aventurança primitivas; porém que existe uma intima união entre elas todas, e que a ordem progressiva, pela qual a alma sobe, é esta:primeiro, o entusiasmo musical; depois, o entusiasmo telético ou místico; terceiro, o profético; e, finalmente, o entusiasmo do amor".Escutava eu estas intrincadas sublimidades, com a cabeça aturdida e com atenção relutante, quando o meu mentor fechou o livro, dizendo-me com complacência:- Ali tem você o mote para o seu livro, a tese para o seu tema.- Davus sum, non OEdipus, - respondi, meneando a cabeça e com ar descontente. - Tudo pode ser muito belo, mas, perdoe- me o Céu, - eu não compreendinem uma só palavra de tudo o que acaba de dizer-me. Os mistérios dos Rosacruzes e as fraternidades de que fala, não são mais do que brinquedos de crianças, em comparação com a geringonça dos Platônicos.- E, contudo, enquanto o senhor não tiver compreendido bem esta passagem, não poderá entender as mais elevadas teorias dos Rosacruzes ou das fraternidades ainda mais nobres, das quais fala com tanta leviandade.- Oh! Se assim é, então renuncio a toda esperança de consegui-lo. Porém, uma vez que está tão versado nesta classe de matérias, porque não adota o senhor mesmo, aquele mote para um de seus próprios livros?- Mas, se eu já tivesse escrito um livro com aquela tese encarregar-se-ia o meu amigo de prepará-lo para o público?- Com o maior gosto, respondieu, infelizmente, com bastante imprudência.- Pois eu o tomo pela palavra, - replicou o ancião, - e quando eu tiver deixado de existir nesta terra, receberá os manuscritos. Do que diz a respeito do gosto, que hoje predomina na literatura, deduzo que não posso lisonjear-lhe com a esperança de que venha a obter grande proveito em sua empresa; e advirto-lhe de antemão que achará bastante laboriosa a tarefa.- É a sua obra um romance?- É romance, e não é. É uma realidade para os que são capazes de compreendê-la; e uma extravagância para os que não se acham neste caso.Por fim, chegaram às minhas mãos os manuscritos, acompanhados de uma breve carta do meu i nolvidável amigo, na qual me recordava da minha imprudente promessa.Com o coração oprimido, e com febril impaciência, abri o embrulho, avivando a luz da lâmpada. Julguem qual foio desalento que se apoderou de mim, quando vique toda a obra estava escrita em caracteres que me eram desconhecidos! Apresento aquiao leitor uma amostra deles:e assim por diante, as novecentas e quarenta páginas de grande formato! Apenas podia dar crédito aos meus próprios olhos; comeceia pensar que a lâmpada estava luzindo com um azul singular; e assaltaram à minha desconcertada imaginação vários receios a respeito da profanada índole dos caracteres que eu, sem dar-me conta disso, havia aberto, contribuindo para isto as estranhas i nsinuações e a mística linguagem do ancião. Com efeito, para não dizer outra coisa pior, tudo aquilo me parecia muito misterioso, impossível!Já estava eu querendo meter, precipitadamente, esses papéis num canto da minha escrivaninha, com a pia intenção de não me ocupar mais deles, quando a mi nha vista, de improviso, fixou-se num livro, primorosamente encadernado em marroquim. Com grande precaução, abrieste livro, ignorando o que podia sair dali, e - com uma alegria que é impossível descrever - vique ele continha uma chave ou um dicionário para decifrar aqueles hieróglifos. Para não fatigar o leitor com relação às minúcias do meu trabalho, me contentareiem dizer que por fim, chegueia julgar-me capaz de interpretar aqueles caracteres, e pus mãos à obra, com verdadeiro afinco. A tarefa não era, porém, fácil; e passaram-se dois anos antes que eu fizesse um adiantamento notável. Então, desejando experimentar o gasto do público, conseguipublicar alguns capítulos desconexos num periódico, em que 3 tinha a honra de colaborar, havia alguns meses.Estes capítulos pareceram excitar a curiosidade do públi co muito mais do que eu havia presumido; dediquei-me, pois, com mais ardor do que nunca, à minha laboriosa tarefa. Porém, então me sobreveio um novo contratempo:ao passo que eu ia adi antando no meu trabalho, acheique o autor ti nha feita dois originais de sua obra, sendo um deles mais esmerado e mais minucioso do que o outro; infelizmente, eu tinha topado com o original defei tuoso (*), e, assim, tive que reformar o meu trabalho, desde o princípio até o fim, e traduzir de novo os capítulos que já escrevera. Posso dizer, pois, que, excetuando os intervalos que eu dedicava às ocupações mais peremptórias, a minha desditosa promessa me custou alguns anos de trabalhos e fadigas, antes de poder vê-la devidamente cumprida. A tarefa era tanto mais difícil, porque o original estava escrito numa espécie de prosa rítmica, como se o autor houvesse pretendido que a sua obra fosse considerada, em certo modo, como uma concepção ou um debuxo poético. Não foipossível dar uma tradução que conservasse tal forma, e onde tenteifazê-lo, é, freqüentemente, necessário pedir a indulgência do leitor. O respeito natural com que, ordinariamente, tenho aceitado os capri chos do velho cavalheiro, cuja Musa era de um caráter bastante equívoco, deve ser a minha única desculpa onde quer que a linguagem, sem entrar plenamente no campo da poesia, apareça com algumas flores emprestadas, um tanto impróprio da prosa.Em honra da verdade, heide confessar também que, apesar de todos os esforços que fiz, não tenho a certeza absoluta de ter dado sempre a verdadeira significação a cada um dos caracteres hieroglíficos do manuscrito; e acrescentareique, em algumas passagens, tenho deixado em branco certos pontos da narração, e que houve ocasiões em que, encontrando um hieróglifo novo, de que não possuía a chave, vi-me obrigado a recorrer a interpolações de mi nha própria invenção, que, sem dúvida, se distinguem do resto, mas que com prazer reconheço, não estão em desacordo com o plano geral da obra. Esta confissão que acabo - de fazer, leva-me a formular a seguinte sentença, com a qual vou terminar:Se neste livro, o caro leitor, encontrar algo que seja de seu gosto, sabe que é, com toda a certeza, produzido por mim; porém, onde achar algo que o desagrade, dirija a sua reprovação ao endereço do velho cavalheiro, o autor dos hieróglifos manuscritos!Londres, Janeiro de 1842.

Henri Durville

O primeiro ponto a este respeito é ter diante dos olhos um ideal elevado. Este ideal, entretanto, não deve ter nada de egoístico; pelo contrário, se ele vos permite elevar-vos acima dos outros, que isso seja para os assistirdes e lhes oferecerdes o apoio da força que tendes adquirido e que a eles ainda lhes falta. Nada vos será mais fácil do que entreter este ideal, porque vereis os seus efeitos ao longe à medida que dele vos utilizardes em meio de todos os mais e isso vos cumulará de uma alegria perfeita. Este ideal vós o estabelecereis antes de tudo, segundo ensinam os que neste ponto nos dirigem; é preciso discerni-lo desde logo para não pedirdes a vós mesmos os esforços que causem fadiga inútil; e com estabelecê-lo ou discerni-los vereis o vosso lugar exato no universo e este lugar não é nem tão baixo como suporia o vosso desânimo, nem tão alto como desejaria a vossa vaidade. Ele vos dará esse bem de conhecerdes e experimentardes forças ativas que vivem em torno e dentro de vós, fazendo-vos compreender que relações estreitas existem entre o homem e o universo; e mais compreendereis que é necessário ao iniciado um desenvolvimento de conformidade com as leis naturais, de maneira a entrar ele em harmonia perfeita com as forças superiores, que são, para aquele que a elas recorrem, de maior e mais benéfica utilidade. Quando o homem entra em contacto com estas forças superiores sente quanto a vida é justa nas suas aparentes desigualdades. Somos todos colocados no caminho da nossa evolução e este caminho precisamos percorrê-lo em todas as suas etapas, sem que coisa alguma nos possa evitar de fazê-lo. Todos seguem, queiram ou não, os ciclos que precisam percorrer antes de chegar à necessária perfeição. O malvado, pois, é menos culpado do que nos parece; é somente um ser que não chegou ao ponto necessário para sentir quanto as suas faltas são pessoalmente prejudiciais e, neste ponto, é aos que mais sabem que pertence o dever de elevar o iniciado, e mostrar-lhe o verdadeiro caminho, pois a lei do auxílio prestado pelos que já têm compreendido a vida é uma conseqüência da lei pela qual progrediram para essa compreensão. É, portanto, para o iniciado, além do mais, uma necessidade, que deve acompanhá-lo em toda a sua vida, o adquirir no seu caminho o equilíbrio e a orientação que lhe faltem. Isso será para ele um bem, maior ainda se este advier entre as paixões ou tempestades da vida, porque então compreenderá os fatos na sua causa, achando-os sempre justos e aproveitáveis, aceitando-os com calma e resignação. Tal deve ser o ideal do iniciado. Este deve ter em seu caminho um farol, desses que lhe derramam no coração uma luz sempre igual, doce e salutar, a mostrar-lhe uma existência mais lógica, mais harmoniosa, melhor que outras. Vemos daí que a evolução se faz por dois caminhos: um que nos leva a compreender e outro que nos leva a sentir. Todos os dois são necessários e será desarmônico fazer-se a educação em um, em detrimento do que deve ser feita em outro. O equilíbrio entre os dois é que nos leva à verdade. É pela sentimentalidade que a inteligência se aclara; é pela inteligência que a sensibilidade se enternece de modo a podermos ampliar o nosso campo de ação e a vermos aí que o universo não se limita às nossas paixões e ao nosso interesse. É por esses caminhos que nos desprendemos da má corrente dos pensamentos egoísticos e então o nosso espírito corresponde-se nas esferas elevadas com os pensamentos mais generosos, mais nobres, como os pensamentos do místico em sua iluminação, do poeta na sua inspiração, do psíquico na sua comunhão com as correntes superiores. O vosso espírito, por esses caminhos, atingirá as alturas e fará descer ao vosso coração as vibrações harmoniosas e doces que vos impregnarão de uma alegria pura, de uma exaltação sublime. À medida que vos elevardes sentireis e compreendereis o grande mistério, que se alargará sem cessar diante de vós, porque o domínio do Iniciado é sem limites. Acha ele incessantemente novos elementos à sua atividade e cheio de emoções, de alegrias, como que se banha nas forças invisíveis. Tais são as alegrias que vos são permitidas, sendo, porém, necessárias a própria iniciativa para atingi-las. Não espereis que elas venham a vós sem que as tenhais procurado. Tomai corajosamente a resolução relativa e necessária; e, mais, sede seguro, pois se as dificuldades se apresentaram aos que vos têm precedido, é claro que se hão de apresentar no vosso caminho. Deixai a vossa estreita existência; despojai-vos de vossas velhas roupagens para tomardes uma nova; deixai a velha casa sem ar, sem horizonte, sem luz, em troca do Templo ereto sobre a colina banhada pelos raios do sol. O reino do céu está entre vós. Cuidai desta máxima e vereis que o futuro prometido é daqueles que souberam compreender e pôr em prática o sonho que ela formou.

Eliphas Levi

Que quer dizer a palavra católico? Não quer dizer universal? Creio no dogma universal e me cuido das aberrações de todas as seitas particulares. Suporto-as porém, na esperança 4 de que o progresso se cumprirá e de que todos os homens se reunirão na fé das verdades fundamentais; o que tem-se cumprido já naquela sociedade conhecida em todo o mundo, chamada franco-maçonaria.

Platão

Eis aí, senhores, o que em Sócrates eu louvo; quanto ao que, pelo contrário, lhe recrimino, eu o pus de permeio e disse os insultos que me fez. E na verdade não foi só comigo que ele os fez, mas com Cármides, o filho de Glauco, com Eutidemo, de Díocles, e com muitíssimos outros, os quais ele engana fazendo-se de amoroso, enquanto é antes na posição de bem--amado que ele mesmo fica, em vez de amante. E é nisso que te previno, ó Agatão, para não te deixares enganar por este homem e, por nossas experiências ensinado, te preservares e não fazeres como o bobo do provérbio, que "só depois de sofrer aprende".

Platão

É com efeito a medicina, para falar em resumo, a ciência dos fenômenos de amor, próprios ao corpo, no que se refere à repleção e à evacuação, e o que nestes fenômenos reconhece o belo amor e o feio é o melhor médico; igualmente, aquele que faz com que eles se transformem, de modo a que se adquira um em vez do outro, e que sabe tanto suscitar amor onde não há mas deve haver, como eliminar quando há, seria um bom profissional. É de fato preciso ser capaz de fazer com que os elementos mais hostis no corpo fiquem amigos e se amem mutuamente. Ora, os mais hostis são os mais opostos, como o frio ao quente, o amargo ao doce, o seco ao úmido, e todas as coisas desse tipo; foi por ter entre elas suscitado amor e concórdia que o nosso ancestral Asclépio, como dizem estes poetas aqui e eu acredito, constituiu a nossa arte. A medicina portanto, como estou dizendo, é toda ela dirigida nos traços deste deus, assim como também a ginástica e a agricultura; e quanto à música, é a todos evidente, por pouco que se lhe preste atenção, que ela se comporta segundo esses mesmos princípios, como provavelmente parece querer dizer Heráclito, que aliás em sua expressão não é feliz. 0 um, diz ele com efeito, "discordando em si mesmo, consigo mesmo concorda, como numa harmonia de arco e lira". Ora, é grande absurdo dizer que uma harmonia está discordando ou resulta do que ainda está discordando. Mas talvez o que ele queria dizer era o seguinte, que do agudo e do grave, antes discordantes e posterior-mente combinados, ela resultou, graças à arte musical. Pois não é sem dúvida do agudo e do grave ainda em discordância que pode resultar a harmonia; a harmonia é consonância, consonância é uma certa combinaçãoe combinação de discordantes, enquanto discordam, é impossível, e inversamente o que discorda e não combina é impossível harmonizar-assim como também o ritmo, que resulta do rápido e do certo, antes dissociados e depois combinados. A combinação em todos esses casos, assim como lá foi a medicina, aqui é a música que estabelece, suscitando amor e concórdia entre uns e outros; e assim, também a música, no tocante à harmonia e ao ritmo, é ciência dos fenômenos amorosos. Aliás, na própria constituição de uma harmonia e de um ritmo não é nada difícil reconhecer os sinais do amor, nem de algum modo há então o duplo amor; quando porém for preciso utilizar para o homem uma harmonia ou um ritmo, ou fazendo-os, o que chamam composição, ou usando corretamente da melodia e dos metros já constituídos, o que se chamou educação, então é que é difícil e que se requer um bom profissional. Pois de novo revém a mesma idéia, que aos homens moderados, e para que mais moderados se tornem os que ainda não sejam, deve-se aquiescer e conservar o seu amor, que é o belo, o celestial, o Amor da musa Urânia; o outro, o de Polímnia, é o popular, que com precaução se deve trazer àqueles a quem se traz, a fim de que se colha o seu prazer sem que nenhuma intemperança ele suscite, tal como em nossa arte é uma importante tarefa o servir-se convenientemente dos apetites da arte culinária, de modo a que sem doença se colha o seu prazer. Tanto na música então, como na medicina e em todas as outras artes, humanas e divinas, na medida do possível, deve-se conservar um e outro amor; ambos com efeito nelas se encontram. De fato, até a constituição das estações do ano está repleta desses dois amores, e quando se tomam de um moderado amor um pelo outro os contrários de que há pouco eu falava, o quente e o frio, o seco e o úmido, e adquirem uma harmonia e uma mistura razoável, chegam trazendo bonança e saúde aos homens, aos outros animais e às plantas, e nenhuma ofensa fazem; quando porém é o Amor casado com a violência que se torna mais forte nas estações do ano, muitos estragos ele faz, e ofensas. Tanto as pestes, com efeito, costumam resultar de tais causas, como também muitas e várias doenças nos animais como nas plantas; geadas, granizos e alforras resultam, com efeito, do excesso e da intemperança mútua de tais manifestações do amor, cujo conhecimento nas translações dos astros e nas estações do ano chama-se astronomia. E ainda mais, não só todos os sacrifícios, como também os casos a que preside a arte divinatória e estes são os que constituem o comércio recíproco dos deuses e dos homens - sobre nada mais versam senão sobre a conservação e a cura do Amor. Toda impiedade, com efeito, costuma advir, se ao Amor moderado não se aquiesce nem se lhe tributa honra e respeito em toda ação, e sim ao outro, tanto no tocante aos pais, vivos e mortos, quanto aos deuses; e foi nisso que se assinou à arte divinatória o exame dos amores e sua cura, e assim é que por sua vez é a arte divinatória produtora de amizade entre deuses e homens, graças ao conheci-mento de todas as manifestações de amor que, entre os homens, se orientam para a justiça divina e a piedade. Assim, múltiplo e grande, ou melhor, universal é o poder que em geral tem todo o Amor, mas aquele que em torno do que é bom se consuma com sabedoria e justiça, entre nós como entre os deuses, é o que tem o máximo poder e toda felicidade nos prepara, pondo-nos em condições de não só entre nós mantermos convívio e amizade, como também com os que são mais poderosos que nós, os deuses.

Henri Durville

" No começo era o Verbo, e o Verbo era Deus, e o Verbo está em Deus... Nele estava a vida e a vida é a luz dos homens, e a luz brilhou nas trevas, e as trevas não o compreenderam... E o Verbo se fez carne e habitou entre os homens".

Lytton - Das Ideal und das Leben

-Quer levantar-se alto em suas asas?Atire longe de si a ânsia do peso terrestre!Fugindo da vida estreita e abafada das realidades,entre no reino do Ideal".

Henri Durville

"É preciso abstrair-te em uma vida superior, exaltando poderosamente a tua vontade... Eleva em torno de ti como uma muralha que retém e emana de ti para as coisas sensíveis, encerra-te na cidadela hermética de onde sairás, um dia, invulnerável" (id.).

Lytton

E quando cessou o aplauso, a Sereia renovou o seu canto com voz clara, cheia e livre de todo o embaraço, como o espírito libertado do pesado barro.Desde aquele momento, Viola esqueceu o auditório, o acidente, o mundo inteiro, - exceto esse paraíso ideal ao qual ela presidia. Parecia que a presença do estrangeiro servia somente para mais ai nda acrescentar essa ilusão, na qual os artistas não vêem criação alguma fora do círculo de sua arte.